CORREIOS
Antiga sede dos Correios em Cajazeiras
Todo garoto gosta de brincadeiras, porque faz parte da sua vida e isso faz com que invente o tipo de brincadeira que queria. Em Cajazeiras, na década de sessenta, não era diferente e nós (a meninada) brincamos em diversos locais da cidade. A entrada dos Correios e Telegráfos era uma delas e, acredito que não tenha uma criança que não passasse lá e escorregasse na escadaria, que dava acesso à entrada aos Correios. Ao lado da escadaria tinha na pequena parede externa, uma bancada de mármore inclinada conforme a subida da escadaria. Os pais passavam pela calçada ou entravam na agência dos Correios, pegado na mão do filho e este se soltava da mão do pai, corria, subia a escadaria e descia pelo escorregador. Essa pedra tinha mais ou menos um metro e meio, era preta e bem lisinha. A criança subia e descia no mínimo umas duas ou três vezes. Às vezes, por não se equilibrar na descida, caía sentada no chão, não chorava e ria, porque ali era seu momento de felicidade. Ali eu era feliz e sabia. Seu Juarez Marques, pai de Daladier e nêgo Diener, era o então diretor dos Correios, naquela época. A criança que morava ali por perto, certamente ia lá todos os dias.
DEDO NO ESMERIL
Minha família era muito grande quando eu morava em Cajazeiras, nos anos sessenta. Minha mãe, eu e mais nove irmãos. A luta era grande e muitas vezes, eu e Toinho, meu irmão, ajudávamos mamãe em alguns afazeres domésticos na parte da manhã, devido minhas irmãs Nevinha e Márcia estudarem nesse período, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, e no período da tarde, eu e Toinho estudávamos no Colégio Estadual. Portanto, eu varria a casa e Toinho passava o pano molhado no piso e depois o pano seco. No dia seguinte, fazíamos o inverso. Toinho varria e eu passava o pano. Ruim era quando íamos varrer a calçada, porque lá era a passagem das amigas da gente e se alguma delas nos visse varrendo, a vergonha seria grande. Para não sermos flagrados pelas amigas, varrendo aquele local, a gente varria bem depressa e às vezes nem varria direito. Certo dia, pensei: “vou ficar quinze dias sem ajudar nesses afazeres domésticos”. Fui até à serraria de seu Zé Rolim, pai de Dodô, que funcionava próximo a minha casa, em frente ao Monte Carmelo. Chegando lá, seu Zé Rolim estava amolando uma ferramenta e eu só olhando. Ele terminou, desligou o esmeril e aí eu coloquei meu dedo médio e, ao puxar, ele ficou travado na proteção que cobre o disco. Nesse momento, a unha foi puxada do dedo ficando pendurada. Corri até em casa e mostrei pra mamãe, que me mandou ir urgente até a farmácia de seu Donato Braga, fazer um curativo. Fiquei quinze dias sem ajudar. Depois de quinze dias, voltei a ajudar novamente. Aí, Toinho me deu o troco. Ele também armou um esquema. Ficar quinze dias sem ajudar em nada lá em casa. Naquela época, a mala de madeira, era grande, pintada de amarela e tinha uma aspa (fita feita de lata de óleo) ao redor na tampa para ajustar o fechamento. Ele abriu a mala, levantou a tampa, colocou a ponta do dedo indicador abaixo da tampa e soltou, fazendo com que parte da cabeça do dedo arrancasse. Ele correu em seu Donato, fez o devido curativo e passou quinze dias sem me ajudar em nada. Como eu não coloquei o dedo mínimo numa serra elétrica, não me tornei político, a exemplo do metalúrgico Lula, que depois de muitos anos dessa proeza, se tornou Presidente do Brasil”.
PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasília
jfilho@ebc.com.br
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