Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"Estado é estado, igreja é igreja, e cada um na sua."


Perdeu, Malafaia.
Marcelo Carneiro da Cunha - Terra magazine


Estimados leitores eleitores, já temos um vencedor nessa eleição 2012 e ele é você, estimado eleitor. Não que você tenha ganhado na Mega Sena, que eu saiba. Não que sua vida tenha se transformado para melhor, ao menos no ritmo do que garantem os marqueteiros. Não que você tenha ficado mais bonito, mais alto, mais rico ou mais qualquer outra coisa, não necessariamente. 


Mas você se tornou bem mais lúcido, isso você deixou claro, até agora ao menos.
Porque as forças da escuridão, e vamos chamá-las de Malafaia, em falta de nome pior, não venceram, e isso é muito, muito, importante.

Nunca é fácil dizer o que acontece em uma eleição, na qual as pesquisas funcionam muito como um espelho para o passado. Nunca é demais lembrarmos que essa não é uma cidade comum, e que essa não é uma eleição comum. De qualquer maneira, se não temos um vencedor ainda, temos um perdedor, e ele é um tal de Silas Malafaia. Conhecem?

Malafaia disse que ia arrebentar porque acreditou nisso. De alguma forma, comunicaram a ele que a ameaça ia surtir efeito, e que todos morreríamos de medo de provocar Sua Alteza, nosso cristão de manual. E, ora vejam, ninguém deu bola, a menor bola ao que ele tanto tinha para gritar. O público eleitor de São Paulo não comprou o blefe, e com isso ganhou a cidade.
Atacar as minorias tem dados muito frutos, mesmo que um tanto podres, ao longo da historia da humanidade. Pois aqui, nessa eleição, vieram com tudo para cima da gente, e receberam um tijolo eleitoral de volta. Não, não somos assim tão homofóbicos. Não, não somos assim tão frágeis ou manipuláveis. Queremos um prefeito e não um bispo da Assembleia de Deus mandando em nossa ruas. 

Uma cidade, ainda mais desse tamanho, é uma montanha de necessidades. Precisamos de tanta coisa, temos tanto por arrumar, e ficam perdendo o nosso tempo com bobagens. Pois, olhe só estimado Malafaia: não compramos seu lixo. Não demos a menor bola para ele, tanto que a diferença entre os candidatos não diminuiu, e aumentou.

Desde que inventamos a nossa República, ela é separada das igrejas. Essa é uma das melhores invenções do Iluminismo, caros leitores. Estado é estado, igreja é igreja, e cada um na sua.

Esse é o grande erro das igrejas, que é querer aplicar nos outros o que somente seria aplicável aos seus fiéis. Assim, o que é fé vira opressão, e é para impedir essa forma de opressão que inventaram o estado laico. E é nele que vivemos, lépidos e faceiros, todos nós. Não que as igrejas aceitem isso numa boa, e não aceitam. Mas elas não têm escolha, porque quem manda na gente não é o bispo, e sim a Constituição. 

Essa ideia de que Cristo, Deus, o Padinho Padi Ciço, não querem que os gays existam é uma besteira do tamanho de um bonde. Ler um livro escrito em aramaico antigo, em traduções altamente questionáveis, e nele ver o que se quer ver é o truque desses Malafaia que tentam nos atormentar. 
Óbvio que isso é tolice inventada por eles. Não é Deus que não gosta de gays ou de hetero, ou não os teria criado, se é verdade que criou qualquer coisa.

São eles, desinformados, ignorantes, primitivos, que não gostam de mulheres, de negros, de gays, de sei lá mais o que, e inventam que a bíblia é quem manda. Não é, nunca foi. São eles. E eles não mandam, não mandam coisa alguma, e é isso que o eleitorado de São Paulo acaba de demonstrar. 

Que nossos governantes prestem atenção e parem de dar bola ao que dizem esses asnos. Que nossos governantes lembrem que essa é uma República laica. Que nossos candidatos a prefeito lembrem que isso aqui é uma cidade, cheia de gente e de defeitos, e que eles precisam mostrar o que pretendem fazer por ela, pela cidade. 

Aqui, na Mansão Carneiro da Cunha é isso, e nada mais ou menos, que esperamos. Uma eleição. Uma escolha de um prefeito que nos leve até o século 21 e a tempos melhores do que esses. A tempos em que a gente possa mesmo sentir que a cidade é por nós, e não contra nós, como esses falsos profetas insistem em ser. 

Deles já demos conta. Agora, estimados candidatos, é a cidade quem espera por vocês, quem pede de todos nós que a gente dê o nosso melhor, que a gente escolha melhor, que a gente viva melhor por conta do que escolhemos ou não. É isso, e não menos do que isso, que ela espera, que esperamos todos. Que assim seja, e pronto.

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