Eleitor ou
devoto?
Francisco Frassales Cartaxo
foto ilustrativa
A cena se passa em Cajazeiras, numa calçada
larga transformada em bar, mesas com garrafas, copos, água de coco, tira-gosto e
muito papo sobre eleição. Discute-se em voz alta, aos gritos, com gestos
descontrolados na ausência de argumentos convincentes. Ou então a fala vem em
cochicho com jeito de revelar segredo da intimidade da campanha do adversário.
Não importa que seja verdade ou mentira, fato ou boato inventado na hora. Isso é
o de menos. O importante é entrar no moído, na apaixonada discussão, aliás,
interrompida a todo instante pela passagem de carros de som, de candidatos a
prefeito e vereador. Ou de garotas de vermelho ou de verde.
A cena é movimentada. Chagas
Amaro nem senta, tão apressado está em recolher os cacos do antigo PMDB
para completar seu quinhão de votos no caminho de volta à Casa de Otacílio
Jurema. Do outro lado da rua, lá vai Patrício Nogueira com a
cuia na mão a reviver ilusões de outrora ao lado de Bosco Barreto.
Desta vez, seu objetivo atual é ofertar a seu novo ídolo, o governador Ricardo
Coutinho, minguados sufrágios arrecadados a duras penas. Pouco depois,
aproxima-se de mim um jovem com cara de menino. Quer me conhecer
pessoalmente para conferir o autor de crônicas que ele costuma ler no Gazeta do
Alto Piranhas. Por isso, não tive constrangimento em perguntar seu nome e o
que faz na vida. Brilho nos olhos, a resposta soou como uma
alvorada:
- Sou Janelson Cartaxo, candidato a
vereador pelo PSOL.
E me entregou a arma, o santinho eleitoral, o
sorriso confiante no seu slogan de campanha: “Juventude, fé e liberdade”.
Fé é o que não falta no pleito de Cajazeiras. Aqui não se raciocina.
Aqui se crê. Manifesta-se a convicção nascida da crença do próprio eleitor.
Despreza-se a realidade. Ladrão? Que ladrão? Ladrão é o outro... O
ex-prefeito Zerinho Rodrigues até justifica seu voto na ausência
de alternativas, saudoso, também, dos padrões éticos supostamente existentes no
passado. Disse alto e bom som, “voto em fulano por absoluta falta de
opção”. Quis dizer, boa opção, bem entendido. Zerinho repetiu
sete vezes, a mesma frase. Sete vezes! Juro. Eu contei. O poeta
Tantino Cartaxo contestou, ele que não vota no poeta-candidato nem em
ninguém, sequer comparece à seção eleitoral, mas faz mais espuma do que onda do
mar... E de tanto ouvir aqui e acolá, Tantino arrisca
previsões de causar arrepios no historiador/torcedor apaixonado José
Antônio Albuquerque.
Tantino e Zerinho
E assim, na calçada larga da Rua Padre
Rolim a cena se desenvolve aos nossos olhos, os ônibus de cidades
vizinhas a transitar cheios de estudantes, carros de som, dezenas de motos,
candidatos, cabos eleitorais cobertos de adesivos. Em torno de copos,
garrafas, coco verde, todos nós estamos envolvidos em discussões acaloradas e
cálculos e palpites e prognósticos e revelações acusatórias. Todos nós, menos
um. Justo o cidadão sentado à minha direita, calado, a escutar com
atenção de cristão apostólico romano ou evangélico. Mudo, absolutamente, mudo.
Lá para as tantas, ele se levanta, pega o capacete e a chave da moto, vira-se
para mim e fala:
foto ilustrativa
-Em Cajazeiras, doutor Frassales, não tem
eleitor, tem é devoto.
E saiu sem saber que traçara numa frase a
síntese perfeita da cena política de Cajazeiras. Com devoto em lugar de
cidadão-eleitor, resta pedir a Deus que proteja Cajazeiras agora e
sempre.
fonte Sete Candeeiros do Cajá.
Que prazer rever estes Cajazeirenses que, honestamente, e com força no trabalho alavancaram o progresso da nossa amada Cajazeiras amada.
ResponderExcluir