CAJAZEIRAS – MEMÓRIA XII
PEREIRA FILHO
Praça do espinho - anos 50/60
GAROTAS DA RUA PEDRO AMÉRICO
Cajazeiras sempre foi uma cidade de belas mulheres, em todas as épocas, principalmente na década de sessenta. O Colégio Nossa Senhora de Lourdes, naquela época, era o colégio que tinha mais garotas bonitas na cidade, e o Colégio Estadual não ficava nada a desejar, porque tinha muitas garotas lindas. O Nossa Senhora de Lourdes era uma instituição de ensino particular e o Estadual era público. Ou seja, as garotas do Nossa Senhora de Lourdes, na sua maioria, eram de famílias ricas de Cajazeiras e cidades adjacentes. Na minha rua (Pedro Américo) também tinha garotas bonitas. Socorro de seu Vicente, olhos verdes, era a mais bonita, no meu ponto de vista. Outra que chamava a atenção pela sua beleza, Felícia de seu Sinval do Vale. O charme de Felícia era o seu sorriso. Felícia era irmã de outras três garotas bonitas: Maria, Valda e Lúcia. Outra que era muita bonita, Teodora Arruda (Dorinha), usava franjinha por cima dos olhos e minissaia na farda do Colégio Estadual, e era filha de seu Arruda. Ela namorava com José Dava Xavier. Tinha ainda Lêda, Iva e Lúcia de seu Antônio Guedes. Guiomar e Elza, de seu Germano. Elza era loirinha, bonita, paquera de Sales, meu irmão. Tinha ainda Lilian de dona Soledade Macedo, uma galeguinha de olhos verdes. Outra morena muito bonita era Iêda, que morava na casa de seu Esmerindo Cabrinha. Zilderleide, Zilvaneide, Zinvanzita, Zildênia e Nêga, de seu Zénôr. Marneves de seu Nezinho. Outras mais eram Eladir, Eliete e Elenir de seu Esmerindo Cabrinha. Dassinete, Nem e Márcia, minhas irmãs. Rosilda e Geralda de dona Odília Mamede. Maria José e Marlene, irmãs de Marco Antônio. Gracinha e Edna de seu Moacir. Zélia, Olga e Mariana, de seu Antônio Bezerra. Ana e Gorete, netas de dona Luzia e a vizinha delas, Marizete. Nilda, irmã de Sitônio e ainda Núbia e Lúcia, de dona Jardilina. “Que beleza de mulheres!”.
CHUTEI O DINHEIRO
Meu segundo emprego (não era fichado) ou quebra galho, foi o de vendedor de sandálias. Quando eu tinha meus quinze anos fui convidado por dona Chiquinha, mãe de meus amigos Virgílio e Ribamar (Nêgo Riba, hoje, cantor das noites de Cajazeiras) para eu trabalhar na tarimba (banca) dela, no Mercado Municipal, como ajudante de vendedor de sandálias, porque já era mês de dezembro e nesse período com a aproximação do Natal as vendas crescem. Aliás, o convite foi para eu trabalhar somente aos sábados, por ser o dia em que mais as pessoas fazem compras. Ao meio dia de um belo sábado, dona Chiquinha me falou para eu ir almoçar. Voltei às 13 horas e poucos minutos. Depois que cheguei percebi que próximo aos pés da parte da frente da tarimba tinha uma nota enrolada de cinquenta cruzeiros. Dona Chiquinha estava no outro lado da tarimba e não tinha percebido o dinheiro no chão. Olhei para os lados e não tinha ninguém me observando. Com um chute de leve empurrei o dinheiro para debaixo da banca. Como o meu expediente terminaria às cinco da tarde, pensei: ‘quando faltar uns dez minutos para o final do expediente, eu pego o dinheiro e entrego para dona Chiquinha, e vamos ver o que acontece’. Assim, fiz. Peguei o dinheiro e mostrei para ela, que me disse: “ se não aparecer o dono daqui a dez minutos, o dinheiro é seu”. Olhei para o meu relógio Lanco e fiquei ansioso para terminar o expediente. Parece que nessa hora os ponteiros do relógio travam e os minutos não passam. Fiquei falando com meus botões: ‘tomara que não apareça mais ninguém nessa hora’. Dito e feito. Passados dez minutos, ela me entregou o dinheiro e falou: “pode ir pra casa”. Mal ela acabou de falar, já saí bem apressado. Chequei em casa e entreguei para mamãe para fazer compras na bodega de seu Manoel Jovino.” Achado não é roubado”.
REDE FURADA
Antigamente, nas casas das cidades do interior do Nordeste, muitos armadores eram fixados nas paredes dos quartos, sala e corredores, para apoiar as redes de dormir. Geralmente os casais dormiam em camas, enquanto os filhos dormiam em redes, porque os cômodos das casas eram pequenos. Isso me faz lembrar mamãe armando as redes, todas as noites, para eu e meus irmãos dormir. Dassinete, Nem e Márcia, dormiam no quarto de solteiro. Ivaldo e Eduardo, na sala de visita. Valdin e Toinho, na sala de jantar. Eu, Sales e Erisvaldo, no corredor. Pensar em balançar a rede para dormir, nem pensar, porque o espaço entre uma e outra rede era quase nada. Além do pouco espaço, tinha o calor que fazia na cidade a uma média anual de 35 graus e ainda as muriçocas. Na hora de dormir era aquele vai e vem da meninada procurando seus lugares, uns passavam por baixo dos punhos da rede do outro, que chegava a dar aquele solavanco. Todos já deitados, uns já dormindo, roncando, bufando e peitando, outros conversando deitado na rede, ora baixinho ou em tom mais alto. Antes de dormir, sempre é bom ir ao sanitário esvaziar a bexiga, para não ser preciso se acordar e ir urinar, no meio da madrugada. Fiz um buraco no fundo da minha rede e matava minha vontade, para não me levantar de madrugada. ”Que alívio”!
ANDORINHAS NA PAREDE
Na minha memória com relação aos velhos e bons tempos que vivi em Cajazeiras nas décadas passadas, me trouxe a lembrança das andorinhas feitas de louça (biscuí), que as donas de casa enfeitavam as paredes da sala de visita. As andorinhas sempre eram três, uma atrás da outra, com as asas abertas e na posição que eram colocadas na parede, elas subindo rumo ao telhado. Ainda nesta sala, tinha também as fotos em preto e branco da família, algumas já amareladas pelo tempo, colocadas em molduras simples, de madeira, compradas na feira popular. As fotos amareladas, geralmente, eram as dos avós, por serem os membros mais velhos da família. Sem esquecer que entre essas fotos, sempre tinha as de Frei Damião e Padre Cícero, considerados os Santos do Nordeste. Algumas donas de casa colocavam um terço ou um rosário em volta das fotos desses dois religiosos. Na parede tinha também o calendário, onde cada folhinha era destinada ao Santo do Dia. No verso dessa folhinha tinha informações sobre a vida do referido Santo, bem como algumas curiosidades. O rádio de válvulas da marca ABC Canarinho, comprado no Armazém Paraíba, era outro quesito que tinha na sala de visitas, ficava em cima de uma mesinha, onde as pessoas que não podiam ir a Missa aos domingos à noite, ouviam a transmissão da Santa Missa, pela Rádio Alto Piranhas, direto da Catedral, celebrada por Dom Zacarias Rolim de Moura. Algumas senhoras colocavam em cima do rádio, a estátua de Padre Cícero. “Amém”.
PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasilia
jfilho@ebc.com
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