SEU ZÉ CARTAXO (PEDREIRO)
Seu Zé Cartaxo era casado com dona Leopoldina (Mocinha) e pai de Wilton, Wilson e Milton (Mitinho, que hoje reside em Cajazeiras). Ele era meu vizinho parede com parede na Rua Pedro Américo. Seu Zé era pedreiro e pintor de mão cheia, muito querido por todos que o conheciam, muito amigo dos vizinhos, muito humilde e prestativo. Lembro-me que ele foi quem fez todo o serviço de instalação de água encanada na minha casa, nos anos sessenta. Seu Zé gostava de tomar uns goró (pinga), ficava muito alegre e nessa situação, se aproximava da gente (a meninada), abria a palma da mão, segurava na nossa cabeça e ficava girando para os dois lados sem que pudéssemos desvencilhar de sua mão. Sem forças para tirar a mão dele da nossa cabeça, ficávamos enfezados e ele ficava morrendo de rir. Quando ele não tomava goró, ele não fazia esse tipo de brincadeira. Ele tinha um ajudante de pedreiro por nome Mário, que também era muito bom no que fazia. Mário era negro, brincalhão e muito risonho, principalmente quando a gente contava piadas, lorotas e potocas. Antigamente as casas do interior Nordestino eram pintadas a base de água e cal na cor branca e não à tinta como nos dias de hoje. O piso era de azulejo com formatos de desenhos em cores diversas. Após a parede pintada de branco, quinze centímetros de altura acima do piso era feita uma marca com um cordão branco lambuzado no cimento de cor vermelho, da marca xadrez. O pedreiro esticava o cordão colado a parede, puxava e soltava a seguir, fazendo com que ficasse uma lista vermelha nessa altura de quinze centímetros. Nessa marca de quinze centímetros para baixo seria pintada a barra vermelha da parede. Essa barra era pintada em todos cômodos da casa.
ZÉ BRAZ (DORMINHÔCO)
A viúva dona Odília Mamede, era moradora também na Rua Pedro Américo nos anos sessenta. Mãe de Francisquinho, Gilberto, Gilson (da atual Gilvolks), Rosilda e Geralda. Dona Odília trabalhava com as freiras, que moravam no prédio das Freiras, localizado na Rua Pedro Américo. Dona Odília tinha um cunhado conhecido por Zé Braz, que morava com ela. Ele nunca se casou, era solteiro, rapaz velho e também era auxiliar de pedreiro. Zé Braz gostava de comer muita rapadura após o almoço e jantar. Após comer a rapadura, ele bebia um litro de água – a caneca dele era uma lata de óleo vazia. Comia nessas duas refeições uma banda de rapadura por dia. Ou seja, comia uma rapadura em dois dias. Todos os dias, após o almoço, ele tinha o hábito de dormir, ou melhor, de cochilar sentado num banco de madeira, que dava para três pessoas se sentarem. Muitas vezes eu chegava na casa de dona Odília após o almoço e tava lá Zé Braz cochilando. Durante o cochilo, o corpo dele se inclinava pra frente e pra trás. Certo dia, chequei, sentei ao lado dele e ele cochilando. Dei um grito no seu ouvido – ruuuuuuu!!!!!!! e ele caiu. Saí correndo pra não levar um tapa. Passei vários dias sem ir lá. Depois, voltei e quando eu passava na porta da cozinha de dona Odília, Zé Braz vinha com uma lata cheia de lavagem (restos de comida) para porcos e sem eu perceber, ele pegou minha mão direita e enfiou na lavagem. Rapidamente puxei, passei minha mão na camisa dele e saí correndo. Coisas de menino danado.
SEU POSSIDÔNIO (TESOUREIRO)
O meu pai, professor José Pereira de Souza, além de diretor, editor e redator do Jornal “O Observador” na década de cinquenta, em Cajazeiras, ele foi Agente Fiscal da Coletoria Estadual de Cajazeiras até o ano de 1958. Nesse ano, ele foi transferido para trabalhar na Secretaria de Finanças do Estado, em João Pessoa, juntamente com outros colegas. Com a ida de meu pai para João Pessoa, minha mãe, dona Bia, ficou em Cajazeiras tomando de conta dos dez filhos. Meu pai era muito amigo de seu Possidônio Moreira, que era o tesoureiro da Coletoria Estadual de Cajazeiras. A partir daí, todos os meses, eu ia até a Coletoria Estadual de Cajazeiras buscar o pagamento que meu pai mandava para minha mãe. Lembro-me, que quando eu chegava lá, tinha aquela fila única de funcionários da Coletoria para receber o pagamento que era feito por seu Possidônio Moreira. Eu, menino, não enfrentava a tal fila. Eu chegava e já ficava ao lado da primeira pessoa que estava na frente. Seu Possidônio era magro, alto e usava óculos de grau com lentes grossas (tipo fundo de garrafa). Ao ficar quase na frente dele, ele me convidava a entrar para a parte interna do balcão e me entregava o envelope fechado, com o nome inscrito: dona Maria Pereira de Souza. A seguir, eu colocava o envelope no bolso do calção e ia para minha casa. Dentro do envelope estava o dinheiro que minha mãe recebia de meu pai e era destinado a pagar a bodega de seu Manoel Jovino; o açougue de seu Zé Palmeira; o leite de seu Zezinho Lacerda; o Armazém Rio Piranhas de seu Arcanjo; a padaria de seu Zeca, entre outros estabelecimentos comerciais.
MINHA PRIMEIRA COMUNHÃO
Todo cristão tem o direito e o dever de receber a Primeira Comunhão. Lá para o final dos anos cinquenta, eu já com meus oito anos de idade, fiz a minha Primeira Comunhão. Nessa época eu já morava na Rua Pedro Américo, ao lado do prédio das Freiras. Na parte superior do prédio era destinado ao dormitório das freiras e na parte de baixo tinha a capela, salas de atividades, cozinha, lavanderia, entre outras dependências. Saindo dessas dependências, tinha o muro muito grande, que por sinal, tinha uma horta. Já no fundo do muro, ficava localizado o salão social, onde as freiras realizavam ações culturais para as comunidades. Foi nesse prédio onde fiz minha Primeira Comunhão. Dessa época, me lembro muito de duas freiras: Irmã Ana – era magrinha, branquinha, tinha mais ou menos um metro cinquenta de altura e uns quarenta e poucos quilos. A outra era Irmã Isabel. Ao contrário de Irmã Ana, ela era forte, morena escura, mais ou menos um metro e oitenta e uns oitenta quilos. Eram pessoas queridas por todos e se preocupavam muito com as pessoas mais carentes e necessitadas. Nesse dia, recebi um presente simples de Irmã Ana. Foi uma carteira de guardar dinheiro, na cor azul. E ainda fui sorteado entre todos os amigos, através de um sorteio, de uma medalha do tamanho dessas das olimpíadas, com a imagem de São Domingos Sávio. A medalha que recebi coloquei no Oratório de mamãe junto às suas imagens de santos.
PERIERA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasilia
jfilho@ebc.com.br
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