Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Aníbal Augusto Sardinha. Conhece, garoto?!

GAROTO GANHA NOVA BIOGRAFIA
Jorge Mello assina o novo título que conta a história de um dos responsáveis pela modernização da música brasileira nos anos 1950
texto itamar dantas: Itaú Cultural



Da nova leva de biografias da música brasileira, destacam-se aquelas que, a partir dos poucos dados disponíveis, tentam revelar a história de personagens escondidos por trás de anos de esquecimento. É o caso do novo livro do pesquisador, músico e professor de física Jorge Carvalho de Mello, Gente Humilde – Vida e Música de Garoto (Edições Sesc SP), que traça a história do violonista paulistano Aníbal Augusto Sardinha, conhecido como Garoto, um dos mais influentes instrumentistas da música brasileira. Antes deste, o autor da valsa-choro “Desvairada” teve sua trajetória narrada por Irati Antônio e Regina Pereira em Garoto – Sinal dos Tempos (MEC/Funarte, 1980).

Entre seus 40 anos de vida e 25 de carreira, Garoto (1915-1955) influenciou seus sucessores no violão brasileiro, teve atuação marcante na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, além de ter seu trabalho reconhecido não somente no Brasil como no exterior.

A estreia na Rádio Nacional aconteceu em 1942 com o programa Garoto e seus Mil Instrumentos. O músico participou também do programa Um Milhão de Melodias, liderado pelo maestro Radamés Gnattali, que contava com a participação da Orquestra Brasileira. Jorge Mello consultou os arquivos do Instituto Moreira Salles e descreveu a participação de Garoto em sete rádios, de 1931 a 1951. São elas: Educadora Paulista, Cosmos, Cruzeiro do Sul, Mayrink Veiga, Nacional, Tupi e Record.

Mesmo sendo o choro o gênero musical predominante em suas composições e ainda que tenha morrido antes do nascimento oficial da bossa nova (em 1958, com o lançamento de “Chega de Saudade” por João Gilberto), Garoto foi um personagem emblemático do ritmo que exportaria o Brasil nas décadas seguintes. “A importância dele para a bossa nova se dá pelo fato dele ter sido o grande reformulador da linguagem harmônica do violão brasileiro. Ele introduziu na linguagem do violão vários acordes dissonantes, além de andamentos harmônicos inusitados para a sua época. Exemplo disso é a música ‘Duas Contas’. Ele conviveu com muitos músicos que seriam representantes da futura bossa nova. Eu cito Johnny Alf, Tom Jobim, Carlos Lyra e Luiz Eça, entre tantos outros. Foi cultuado pelos fundadores do movimento”, conta o autor.

Segundo Jorge Mello, a personalidade do músico era curiosa. Era tão ligado à música que não se preocupava com assuntos que não estivessem conectados à sua arte. Prova disso é uma história de quando, ainda criança, entre 10 e 12 anos de idade, estudava na Escola Noturna de Santo Antônio do Pari, comunidade localizada na capital paulista. Em uma aula sobre religião, o padre e professor falava sobre Jesus Cristo e, ao ver que Aníbal estava distante, pensando em outras coisas, dirigiu a pergunta ao aluno:

- Senhor Aníbal, quem foi o homem de extraordinário talento que Deus enviou à Terra?

- Ernesto Nazareth.

- Eu estou falando de Jesus Cristo. Quem é Ernesto Nazareth?

- É um compositor de choros. Você não disse que era um homem de extraordinário talento?

Essas e outras histórias estão presentes no livro, que narra a trajetória do músico tendo como base seus diários, recortes de jornal e todo o material de pesquisa que Jorge Mello conseguiu juntar para realizar a obra. Durante os trabalhos, descobriu diversas composições ainda inéditas, material que deverá ser lançado em um próximo projeto. “Eu tenho em mãos mais de 40 composições inéditas de Garoto. Estou reunindo todos os chorinhos, o que deve resultar em uma segunda publicação, que virá mais à frente”, garante o autor.

O livro será lançado no Sesc Consolação, em São Paulo, no dia 8 de novembro, com direito a uma roda de choro encabeçada pelo grupo carioca Nosso Choro e com a presença do também pesquisador musical Zuza Homem de Mello.

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