A "PAIA" DE LILIA
Pereira Filho
Maria de Jesus - Lilia.
Quando eu era jovem nos anos 60 não tinha namorada, mas flertava com algumas garotas da minha Cajazeiras. Aliás, só namorei com uma mina em Cajazeiras. Ela estudava no mesmo colégio em que eu cursava o ginasial, o Colégio Estadual. Na verdade, o namoro foi por poucos dias e depois que ela me dispensou, eu comecei a trabalhar na Rádio Alto Piranhas. Essa mesma garota que me deu um chute no traseiro, ao saber que eu comecei a trabalhar na Rádio, voltou a me procurar para reiniciarmos um novo namoro. Eu não quis, porque radialista em cidade do interior tem muito cartaz (prestígio). Comecei a trabalhar na função de Repórter Esportivo, da equipe dos Catedráticos do Esporte, da Alto Piranhas.
Sabia que a partir do momento em que eu era radialista garotas iriam se interessar em querer namorar comigo e foi justamente isso que aconteceu. A partir desse novo trabalho na qualidade de radialista, realmente, meu círculo de amizades com garotas cresceu muito e recebi propostas de algumas para namorar. Não as aceitei, porque certamente eu não iria ficar apegado somente a uma garota.
O momento mais importante para mim na Rádio Alto Piranhas era quando eu fazia o programa “Tarde Esportiva Dançante”, aos domingos, das 16 às 18h, em substituição às folgas de Evandro Carlos Maniçoba, locutor titular desse programa, para o qual as garotas telefonavam solicitado músicas ou iam pessoalmente para conversarmos.
Como radialista – até hoje tenho a minha carteirinha da Rádio Alto Piranhas - tinha acesso gratuito aos clubes de Cajazeiras (Cajazeiras Tênis Clube, Clube 1º de Maio e Jovem Clube) e ao Estádio Higino Pires Ferreira. Diante dessa facilidade de participar das festas realizadas aos sábados, nestes sodalícios, eu não precisava ter uma namorada, para não ficar comprometido com nenhuma delas.
No Colégio Estadual, na minha turma, eu tinha um colega por nome Manoel Gonçalves da Silva, que era dono de um bar que se localizava no cabaré de Cajazeiras, ou seja, na Paia, mais popularmente conhecido como o Cabaré de Lilia. Manoel era irmão de Lilia. Nessa época, Lilia era uma loira que gostava muito de um colega meu da Rádio.
Como muitos jovens, naquela época, eu gostava de tomar “uns mé”, cachaça Pitu ou Caranguejo. Entre alguns amigos de copo, tinha um que sempre me convidava para tomar “uns mé” em Lilia. Era Kérson Maniçoba, que também estudava na minha classe. Chegando na Paia, Manoel, irmão de Lilia, convidava eu e Kérson para tomar umas biritas sem pagar nada.
Certo dia, no passar da noite, nós três (eu, Kérson e Manoel) conversando e tomando “uns mé”, e as meninas no salão dançando com seus pares – eu não dançava, porque não sabia –, Kérson disse que ali tinha uma morena conhecida de seu pai e ela não lhe cobrava nada por uma programa. Fui para o quarto com uma garota e no quarto ao lado, Kérson com a dita morena. Horas depois ouvi Kérson falando bem alto: “só dou mil, só dou mil, só dou mil”. Nisso, como já era hora de irmos pras festas, eu paguei a minha parte e ao sair do quarto, Kérson já estava saindo também. Logo adiante eu perguntei o porque ele estava falando bem alto, aquela frase e então ele disse: “como eu não tinha dinheiro para pagar a morena, ela me disse para eu falar bem alto ‘só dou mil’ (mil cruzados, que era a moeda da época, que hoje valeria R$ 10,00), para dar a impressão às colegas dela de que eu não tava passando um ‘xêxo’ nela”. Conclusão: Eu não tinha interesse em namorar porque tinha certa liberdade de namorar na Paia de Lilia.
PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasília
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