Almanaqueiras: ou não queiras.

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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Mariana Moreira escreve: Meditações de férias

Meditações de férias


Mariana Moreira

No ar um clima de fim de férias. O descanso dos dias exaustivos do ano findo recompõe as energias para novas lidas. O ano começa com as incertezas de mais um ano de clima inconstante no semiárido. O mês de janeiro registrou chuvas abaixo da média e irregularmente distribuídas deixando os sertanejos de venta acesa temendo mais um período de inconsistência climática, o que desorganiza a produção, afugenta a juventude, sobretudo, aquela que ainda teima em habitar o campo, e traz para o cenário o espectro da fome e da sede, sobretudo, para animais e homens que habitam as áreas mais agrestes da região.

Férias marcadas pela mesmice e imbecilização de mais uma edição de um programa televisivo que reduz seus espectadores a assistentes de um espetáculo deprimente onde a dignidade humana se restringe a cenas de gosto duvidoso a revelia das desesperadas tentativas do apresentador de enxertar frases e tiradas filosóficas como a querer emprestar ao burlesco um ar de refinamento longe de ser percebido e mais distante ainda de ser possível. Entre endredons e esteiras, corpos jovens expõem para todo o país uma intimidade forjada nas tramas da mídia que, semanalmente, engorda orçamento com o patrocínio de grandes marcas e a conivência de milhões de telespectadores que acionam inúmeras alternativas de interação, eliminando concorrentes e falseando um ambiente de intimidade e envolvimento. Entre banalidades e exposições de intimidades, o país esquece suas mazelas, afoga-se em suas cidades encharcadas de chuvas de verão e violências de todas as estações, plaina entre o crescimento de taxas de desemprego e agonias de filas intermináveis de esperas e precários atendimentos em serviços públicos de saúde. Nada importa enquanto todos os olhos miram as peraltices e artimanhas de homens e mulheres encarcerados entre plásticos cenários mostrando que, no fundo, é o jogo a medida das relações humanas; são os fins justificando os meios que move a vida, desmerecendo a dignidade, o respeito humano e a gentileza entre pessoas.

Férias que tiveram ainda como marca a eleição de uma frivolidade que ganha as manchetes dos principais noticiários nacionais apenas porque sítios de relacionamento e redes sociais costuradas nas teias da rede mundial de computadores subverte um mero comercial de televisão e passa a eleger uma jovem que encontra-se fora do país como o astro de uma dimensão forjada na instantaneidade das mídias eletrônicas. Enquanto a jovem estava no Canadá milhões de pessoas, em diversas partes do planeta, buscavam um porto seguro onde atracar suas vidas destroçadas por guerras, por ditaduras, por tiranias e vilanias públicas e privadas.

E as férias terminam embaladas pelo sentimento de que, mesmo aceitando as circunstâncias que caracterizam os tempos atuais, somos seres do século passado, de um tempo em que o homem somente se humaniza quando interage física, emocional e gentilmente, com outros homens em contatos reais e gestos sinceros de mãos que se apertam num ato de singeleza.
Mariana Moreira - altopiranhas@uol.com.br
Professora Universitária e Jornalista

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