Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Aprecie com moderação


CORREIO BRAZILIENSE. Brasília-DF, 01 de fevereiro de 2012. Caderno Turismo.

É Muito BOM! aprecie com muita, muita moderação!
O Engenho Martiniano, que produz  quase artesanalmente a cachaça Cobiçada: casario colonial bem conservado, com objetos de época  (Juliana Santos/DB/D.A Press)
Nas serras do maciço da Borborema, o roteiro Caminhos dos Engenhos apresenta algumas das melhores cachaças do Brasil, casarões históricos e muita cultura popular

 José Carlos Vieira

O Engenho Martiniano, que produz quase artesanalmente a cachaça Cobiçada: casario colonial bem conservado, com objetos de época

O imponente pinheiro que ilustra a parte inferior desta página poderia fazer parte da paisagem de qualquer cidade do Paraná, de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul. Mas esse pinus — de cerca de 12m de altura — reina há 30 anos na Praça Epitácio Pessoa, na pequena Bananeiras, cidade incrustada nas serras do maciço da Borborema, na Paraíba. Com temperatura média anual de 20ºC (os termômetros já registraram 15ºC no inverno), a região vem ganhando ares e gostos europeus, além da crescente curiosidade dos turistas que agendam férias para o litoral paraibano e acabam migrando rumo àquela cidade em busca de um descanso ameno e sem ar-condicionado a todo vapor.

O trabalho nos engenhos é minucioso e resulta em aguardentes puríssimas (José Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O trabalho nos engenhos é minucioso e resulta em aguardentes puríssimas

Na cidade, localizada a 130km de João Pessoa e a 147km de Natal, o boom turístico começou na última década. Poder público, moradores e empresários perceberam que a vocação de Bananeiras e vizinhança (depois de terem vivido o auge econômico nos ciclos do café e da cana de açúcar) era o turismo. Investiram pesado na garimpagem das atrações naturais e arquitetônicas da região — o Brejo, como é conhecida —, acariciada todos os dias pela umidade dos ventos que vêm do Oceano Atlântico (a cordilheira é um grande muro que faz o sertão ficar privado de correntes de ar marítimas mais generosas). Esse investimento começou a dar resultados, como a recente inauguração (em março de 2011) de um campo de golfe de alta qualidade, padrão escocês, com nove buracos e 110 mil metros quadrados.

É nessa região do Brejo, a qual compreende pelo menos 10 municípios, que a Paraíba guarda um tesouro, uma tradição revelada antigamente a poucos iniciados: os Caminhos dos Engenhos, rota que começa a ser explorada pelos viajantes apreciadores do ritmo bucólico de vida, de casarões seculares da aristocracia da época e da boa aguardente. Para apresentar esse roteiro, é necessário o alerta: aprecie com moderação. Dito isso, vamos ao que interessa.
O pinheiro sobressai na paisagem de Bananeiras: 
cidade paraibana tem clima surpreendentemente ameno  (José Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O pinheiro sobressai na paisagem de Bananeiras: cidade paraibana tem clima surpreendentemente ameno

O primeiro engenho a ser visitado fica a poucos quilômetros de Bananeiras. É de lá que sai para o Brasil a clássica Rainha, uma aguardente para cabra macho, com teor alcoólico de 50%, um dos mais elevados do país (as demais oscilam entre 40% e 42%), mas de pureza e sabor irrepreensíveis. É produzida, desde 1877, próximo à reserva ecológica (de Mata Atlântica) de Goiamunduba.

Além de degustar doses generosas de Rainha, sempre com uma fruta da região como tira-gosto, o visitante pode apreciar as histórias de Josefa Teresinha da Silva — mais conhecida como dona Teresinha —, vizinha do engenho e cheia de causos, como a lenda do Sou Eu, uma entidade que habita as matas da região pregando peças e assustando os moradores.

“… A história do Sou Eu
Que é de arrepiar
Que faz cavalo dar coice
Da ferradura avoar
E fugir correndo depois
Para nunca mais voltar…

…. Esta história de espírito de lenda e de assombração que existe aqui no brejo e em qualquer região deixa o matuto com medo com aperto no coração…”

É o que conta dona Teresinha, de 78 anos, com olhar compenetrado e voz soturna, toda vez que mira a mata que cerca as pequenas casas feitas de adobe. Elas têm ao fundo os canaviais que, no meio do segundo semestre, começam a ser cortados para a produção de cachaça.

Saindo do Engenho Goiamunduba, o visitante tem outro encontro com o passado: é em Serraria, onde se produz a cachaça Cobiçada, feita com cana de açúcar selecionada e de maneira quase artesanal. O casario colonial do Engenho Martiniano data de 1872, e compreende, entre outros prédios, capela, casa de empregados e uma mansão bem cuidada, que guarda relíquias de várias gerações.

O engenho tem uma área de 318 hectares, onde os restos mortais de seus fundadores (Francisco Duarte e sua esposa, Josefa Duarte) estão enterrados na pequena capela da propriedade. A produção é vendida basicamente para os estados do Nordeste. Da colheita da cana ao engarrafamento, tudo é feito de maneira clássica, com cuidados e segredos que passam de pai para filho.

Entre tantas tentações etílicas, o viajante dos Caminhos dos Engenhos não pode deixar de visitar o alambique que produz a aguardente Volúpia, uma das mais premiadas da região. Ela desbancou as cachaças da Região Sudeste, chegando a ocupar o primeiro no ranking da revista Veja e ficar duas vezes entre as melhores da Playboy.

Com plantação orgânica e seleção manual das canas (as murchas e com fungos são descartadas), a Volúpia seduz os apreciadores da bebida tipicamente brasileira, que podem também saborear a boa culinária paraibana no restaurante Banguê, instalado no próprio Engenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, terra de “São” Jackson do Pandeiro. A visita ao memorial do cantor é parada obrigatória entre um gole e outro.

Frio, boa comida e aguardente de primeira, paisagens inesquecíveis. Tudo isso com muita poesia, como a do paraibano Jessier Quirino:

Um forró de pé de serra fogueira milho e balão um tum-tum-tum de pilão um cabritinho que berra uma manteiga da terra zoada no mêi da feira facada na gafieira matuto respeitador padre, prefeito e doutor

os home mais entendido isso é cagado e cuspido paisagem de interior.

O repórter viajou a convite da PBTur

Atrativo a mais

Esse é o oitavo campo de golfe do Nordeste e está apto a sediar competições regionais. De acordo com o executivo responsável pela área, Sebastião Neres, o Golfe Clube pretende oferecer clínicas para iniciantes e desenvolver projetos destinados a golfistas semiprofissionais. O investimento no campo foi de cerca de R$ 4 milhões e os competidores e turistas terão como opção de hospedagem o Serra Golfe Apart Hotel, em Bananeiras, que conta com 55 apartamentos de alto padrão.


Como ir

Período: 29 de fevereiro a 7 de março.

Ida e volta.

VOOS

Avianca

www.avianca.com.br

Brasília – João Pessoa a partir de R$ 470.

Azul

http://viajemais.voeazul.com.br

Brasília – João Pessoa a partir de R$ 899,80.

Gol

www.voegol.com.br

Brasília – João Pessoa a partir de R$ 586.

TAM

www.tam.com.br

Brasília – João Pessoa a partir de R$ 756.

PACOTE

Operadora Tambaú

www.operadoratambau.com.br

(83) 2106-9696

Duração: três noites. Inclui transporte em van ou ônibus (a depender do tamanho do grupo) e hospedagem na Pousada Vila Real (em Areia) ou no Hotel Serra Golf (em Bananeiras). O roteiro inclui city tour em Areia e em Bananeiras, visitas ao Museu da Rapadura e aos engenhos Triunfo e Goiamunduba. Todos os passeios são acompanhados por guia. Preço: R$ 437 por pessoa em apartamento duplo e R$ 399 em apartamento triplo. No verão, saídas sob demanda; no inverno, a cada 15 dias.

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