Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Poesia de Constantino Cartaxo, nosso querido poeta Tantino!


Adivinhação
* Constantino Cartaxo





                                                     Eu desejo que me diga,

num pensamento profundo,

bem ligeiro, num segundo,

e sem colocar “talvez”.

Responda: “Quais são as três

melhores coisa do mundo?”


As três melhores do mundo,

já que você me propôs,

eu lhe respondo. Elas são:

( e que fique entre nós dois,

por isso falo baixinho.)

Primeiro - muito carinho...

e, juntos, dormir depois.



Satisfação de Caboclo

Constantino Cartaxo



Tivemos muita alegria

lhe asseguro, seu Doutô.

Nós plantemo, nós plantemo

nós vimo a planta nascendo

na terra que se abria.

Cumé bonito o roçado!

Despois que o inverno pegou

Foi a lavoura ingrossando,

no mei o mato brotando

e nós na inxada agarrado.

Meus dez fio, meus dez moleque...

- eram dez moleque, dez -

impariado ao meu lado

puxando cobra p’rus pés.

Chega acho bom rescordá!

Eita anozim de fartura!

E arrescordando agradeço

a nosso Deus das artura.

Melancia carreguêmo,

deformando os caçuá.

Nosso feijão parecia

quiném gáia de juá,

caruçudo em toda bage.

Pé de mi, na roça, quage

caía cum seu carrêgo.

E o arroz? Vixe, meu nego!

Acredite se quizé:

Quage um pé num fica impé!

Pois, quando o vento abanava

os cacho do arroizal,

os cacho se debruçava

p’ru riba dos outos cacho,

formando os cacho um só cacho,

cuma num vi cacho igual.

No deita-sobe-e-balança

dos caroço, parecia,

na zuada qui fazia,

taliquá um maracá.

Era vê mesmo uma orquesta

qui tocava ao som do vento,

batendo bem direitinho

mode animá uma festa.

Era vê uma sanfona,

infeitada de alegria,

bem animada a tocá.

Tinha cuma bateria

os cacho saculejando.

E os musgo - os passarinho

qui se danava a cantá.

Meio dia, quando a gente

pra casa vortava, então,

uvia do passadiço,

bem junto do tabolêro,

o tum-tum-tum do pilão...

acompanhando o batuque

- parecido cum baião -

da muié qui lá pisava,

quebrando o mio da lava

mode fazê o pirão.


E, de tarde, satisfeito,

ao regressá do roçado,

a gente incontra o terrêro

intupidinho de gado.

Uns deitado e lá vivendo

cuma rei num apogeu

qui chega a sê um coloço.


Fico inspiando, seu moço.

Fique inspiando mais eu,

e vamo vê no pescoço

do animá um nó andando:

é a comidinha vortando

comida qui ele comeu.


E se dana a mastigá.

Mastigando e remoendo,

remoendo e mastigando

qui as vezes fico pensando

qué preparando o jantá.


E, mais tarde, quando a lua

se acorda, chêia de sol,

despregando no hoizonte

seu coipo com muito brio,

sem tuaia, quase nua,

formando um céu lá no céu,

nos braço do firmamento...

eu digo para os meus fio:

vão lá p’rus seu aposento

discançá qui estão cansado.


A véia fica a meu lado.


Eu ispio os óio dela,

ela ispia os óio meu...

a lua nós damo adeus,

fazendo inveja pra ela.


Eu fecho a porta de baixo,

despois a porta de cima...

me incosto mais junto dela,

mode isquentá nosso fogo,

prá miorá nosso crima.


Logo apago o candiêro,

armentando a escuridão,

fazemo o Nome-do-Pade,

rezamo a nossa oração,

despois... nós pega a se ri...

E nós se dana a se ri...

NÓS NUM TEM TELEVISÃO!!!






Constantino Cartaxo - é Cajazeirense da gema! Poeta como seu pai, Dr. Cristiano Cartaxo. Praticamente, como seu genitor, viveu sempre em sua terra natal. Participa de todos os eventos culturais da região e do estado da Paraíba. Patativa do Assaré, em indo a Cajazeiras, fazia questão de se hospedar  em sua casa. É quase um mecenas para boêmios, músicos, amantes das artes, incentivando-os e patrocinando, nas noites enluaradas do sertão, memoráveis serestas, serenatas e perambulações pelos botequins da vida. Tantino, como é mais conhecido nas sertanejas-brenhas poéticas é  autor do livro Engenho de Pau.

















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