Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 1 de janeiro de 2012

ORATÓRIOS DA FÉ EM CAJAZEIRAS

Em décadas passadas muitas casas de cidades do interior nordestino tinham seus oratórios



Os Oratórios tiveram origem na Idade Média, como capelas reais particulares dedicadas á reflexão e oração. Oratório é um nicho feito em madeira onde se guarda imagens de Santos, terços, rosários, escapulários, etc.

Em décadas passadas muitas casas de cidades do interior nordestino tinham seus oratórios. Naquela época famílias se reuniam para tirar o terço (orar) e ao mesmo tempo convidavam os vizinhos para participar daquele momento espiritual e faziam um revezamento para rezarem nas casas vizinhas em dias alternados.

Lembro ainda que, quando o terço era rezado lá em casa, minha mãe, dona Bia, preparava em cima de uma mesinha com toalha branca bordada ou de bico, o oratório, com os ornamentos e velas acessas. Ao iniciar esse ritual religioso, de joelhos, as senhoras colocavam o véu na cabeça e o terço na mão para dar início à reza. A meninada que acompanhava as orações muitas vezes não rezavam, mas ficavam na paquera das garotas que ali se encontravam.
 
Frei Damião

A Catedral e a Igreja Nossa Senhora de Fátima, igrejas de Cajazeiras que naquele tempo realizavam cultos religiosos com a presença de Frei Damião - seu nome verdadeiro era Pio Giannotti, que era considerado um Santo pelo povo Nordestino e durante sua vida de pregador, percorreu quase todas as cidades do Nordeste. Ele tinha como hábito celebrar missa às cinco horas da madrugada e a seguir saía em procissão com seus fiéis, onde várias mulheres levavam oratórios para serem benzidos. Frei Damião, naquela época, em uma de suas andanças por Cajazeiras, certo dia foi na minha casa abençoar uma irmã minha – Dassinete, que era paralítica, surda e muda.

Outra coisa que me faz lembrar de oratório, era quando eu estava de férias escolares no Sítio Rita, em Monte Horebe, na Paraíba, na casa de meus avós maternos João Martins e Querobina. Nessa casa tinha um oratório que ficava em cima de uma mesinha, e tia Zéfa Martins era quem organizava todos os procedimentos para a família rezar. Hoje, o referido oratório está na casa de meu irmão Sales Pereira. Todos os dias ele se ajoelha diante desse oratório para fazer suas orações, já que naquela época ele era um dos meninos que não rezava, porque ficava na paquera com as meninas vizinhas.

Ainda naquela época tinha também a “Renovação”, que era realizada, principalmente nos sítios, onde os moradores da casa promoviam uma queima de fogos durante o dia, duas ou três vezes, como anúncio que ali seria realizada a “Renovação”. Após o ato religioso todas as pessoas presentes eram convidadas para uma merenda. Não podia faltar a paquera dos rapazes com as moças ali presentes.

Um outro caso que me lembro, que não é propriamente sobre oratório, mas sobre o padre Linhares - seu nome era Francisco Dízame Tavares Linhares - que era pároco da Igreja Santo Antônio de Pádua de Bonito de Santa Fé, na Paraíba, e era quem celebrava as Missas na Igreja de Monte Horebe. Esse padre faleceu em 2004 e se encontra sepultado na Igreja de Bonito de Santa Fé. Ele era baixinho e magrinho. Vamos ao que interessa. Meus tios João Pereira e Santina, moravam em um sítio que ficava na entrada de Monte Horebe. Padre Linhares quando ia celebrar a Missa em Monte Horebe, ele era hóspede de Tio João e tia Santina. Tio João Pereira tinha o hábito de sentar no banco de madeira com um pé em cima do banco e o outro no chão. Tia Santina colocava o almoço na mesa e chamava o padre para rangar, e quando o padre tava numa boa almoçando, Tio João começava a soltar pum!pum! E aí, tia Santina falava: “João, respeite o padre”. Ele se fazia de não entendido e prosseguia com o som “pumm! pumm! Eu caia na risada! Ô véi macho!!!



PEREIRA FILHO

jfilho@ebc.com.br

Radialista

Rádio Nacional de Brasilia

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