O encontro se deu na casa de Brecha, e antes de se fartarem no cálice da amizade, os dois se abraçaram fortemente com os tradicionais tapas nas costas, como se quisessem provar da existência física, já que a amizade na na memória estava intacta.
Se beijaram como se beijam dois homens, o pai e o filho.
Se acarinharam como se acarinha um casal de namorados fazendo juras de amor. Amor à amizade.
Lavoizier mostrou ao amigo que seus cabelos voaram, mas a amizade entre eles estava enraizada nas entranhas de sua lembrança, naquele cantinho reservado aos chegados onde nada se deleta.
A comida farta e saborosa sobre a mesa, o chope gelado, a música do sax de João Robson, as visitas, o barulho das crianças, os flashes das fotos... Tudo parecia ser secundário para aquelas duas crianças envolvidas em seus mundos de amigos.
Um falava com o outro e sorviam suas palavras ébrias do tempo, ouvindo atentamente tudo o que tinham que falar como se não quisessem mais desperdiçar um minuto se quer da linha do tempo.
A tradicional fita cinematográfica rodou na memória dos dois, como se estivessem sentados juntos nas cadeiras do cine Éden, ou do Cine Pax, ou do Cine Apollo XI e vendo suas vidas passarem aos seus olhos.
“E o América, cara, que timaço!”. Pare eles, estava lá, o Brecha sendo um craque fulminante. Um Gerson, um Rivelino, ou outra expressão. Estava lá Lavoizier sendo um Félix, um Manga ou outro goleirão qualquer. O importante, na visão infantil desses dois senhores, era que aquele América era uma seleção da arte ludopédica. Só deles.
E voltavam a se abraçar, a se olharem, como se dissessem: “não, cara, não vamos mais nos perder de vista”, como se tivessem se perdidos, e, na realidade, nunca eles se perderam, porque a solidez do encontro foi na construção da amizade lá atrás, lá nas ruas de Cajazeiras, nos campos e peladas do Dom Moisés, do Uvilim, das Capoeiras, do Higino Pires, da quadra do Tiro de Guerra...
Já estava chegando a noite e eu, João Robson, Valdim e Carlos Doido estávamos chamando Lavoizier para irmos embora, mas para eles dois tudo ainda estava à luz do dia. Para a celebração da amizade não há tempo. Há, simplesmente, eterna confraternização.
Viva a Brecha e a Lavoizier, os homens na eternidade dos meninos!
Eduardo Pereira
E-mail: dudaleu1@gmail.com
![]() |
Em pè: Puã, Binha, Lavoizier, Eduardo. Agachados: Zé Mário, Brecha Ney e João Robson. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário