Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 17 de abril de 2011

OS FUGITIVOS DO COLÉGIO ESTADUAL DE CAJAZEIRAS

O ano de 1971 se iniciava e aí começava mais uma etapa de minha vida de estudante para concluir o curso ginasial no Colégio Estadual de Cajazeiras. Meus colegas de turma eram praticamente os mesmos do ano anterior. Como todo concluinte de curso pensa em formatura, festa e viagem de final de ano, juntamente com os colegas de turma, não poderíamos esquecer que para que estes eventos, parte das despesas tinha como ajuda, o uso do Livro de Ouro. Aliás, hoje em dia não sei se alunos formandos ainda usam esse tipo de ajuda.

Nos anos em que estudei no Colégio Estadual, eu tinha vários companheiros (as) de turma, mas sempre tinha aqueles que a gente compartilhava mais com as brincadeiras, com os bate-papos na hora de tomar as meiotas na budega do Paulista, que ficava na Rua Santo Antônio, próximo ao colégio, nas rodinhas da hora do recreio juntos com as garotas, nas conversas que tínhamos sentados nos bancos da Praça João Pessoa, com as presepadas, as brincadeiras sem ofender ao próximo, em fim, sempre estávamos mais presentes nas atividades de classe, entre outros afazeres do colégio como o futebol de campo, de salão (hoje futsal), nas mesas de ping-pong, entre outras diversões.

Colégio Estadual de Cajazeiras

Citando alguns desses colegas, tinha o Edmar (Tebejim); Virgílio Augusto (frequêca); William Carioca; Dedé Cabôco e Kérson Maniçoba.

Riba, Kérson, Mininim, William
Voltando ao assunto sobre o referido Livro de Ouro. Me lembro que mais ou menos às 9h da manhã, do dia 15 de março de 1971, estava eu sentado em baixo do pé de baje (frutinha doce e vermelha), que ficava ao lado da casa de seu Sinval do Vale, na Praça do Espinho, apreciando o movimento do dia-a-dia da Praça do Espinho, no vai e vem das pessoas, das bicicletas e dos carros, quando de repente chegaram Dedé Cabôco e Kérson. Dedé me disse o seguinte: hoje à noite vai ter a posse do governador eleito da Paraíba, Ernani Sátiro, que tal nós três irmos para João Pessoa com o livro de ouro, que está aqui comigo e tentar arrecadar fundos para a nossa formatura?

A partir desse momento questionei para eles sobre o tempo de chegar em João Pessoa. Pelos menos se fosse de carro particular até que daria tempo. Mas, já que não tínhamos carro, como poderíamos fazer essa viagem tão inesperada? Eles me falaram que sairíamos de Cajazeiras de carona. Iríamos para o Posto Fiscal na saída de Sousa e arriscaríamos a carona. Meu irmão Eduardo (então com 14 anos de idade), que estava ao meu lado, ficava só ouvindo a nossa conversa. Eu falei pra eles que eu precisava de ir em casa, que ficava bem pertinho, para trocar de roupa e avisar a minha mãe. Eles falaram que não precisava nada disso, porque a gente poderia voltar no dia seguinte. Confesso que eu estava sem documentos e somente no bolso um pente daqueles de play boy. Pedí pra Eduardo falar pra minha mãe sobre essa viaja e ele me disse: "vai lá em casa e fala com ela". Conclusão. Não fui nem avisar a minha mãe.

Fomos para o Posto Fiscal e não demorou, chegou uma caminhonete com destino a Sousa. Falamos com o motorista e fomos pra Sousa. Em Sousa fomos em algumas lojas comerciais e conseguimos uns trocos através do livro de ouro. A seguir, pegamos uma carona para Pombal e fizemos o mesmo procedimento. E, assim fizemos, em Patos e chegamos em Campina Grande já altas horas da noite. Digo que o que arrecadamos era pouco para comprar passagem de ônibus até João Pessoa. Ou seja, de carona em carona chegamos em Campina Grande.

Fomos para a rodoviária e Dedé disse que tinha uma irmã dele que morava alí perto, mas não tava pensando em acordá-la para podermos dormir no apartamento dela. Na rodoviária, merendamos e não tinha outra saída na hora de dormir. Dormimos nos bancos da rodoviária, sem agasalhos e naquela época, Campina Grande era fria, porque à noite, tinha o clima de cidade serrana. No dia seguinte, fomos ao apartamento dela e ela ficou furiosa com Dedé, porque não fomos dormir lá e além do mais, o esposo dela estava em João Pessoa resolvendo negócios. Tomamos banho, café e pegamos mais carona para João Pessoa.

Chegando em João Pessoa, já no dia seguinte a posse, fomos para a Casa do Estudante, onde residiam vários estudantes de Cajazeiras e de outras cidades. Lá encontramos Pina de Chico Bibiano (irmão de Toinho dono de bar em Cajazeiras e da professora Branca). Dormimos lá, mas com uma condição: no chão forrado de jornais. No dia seguinte me encontrei com meu pai, que trabalhava em João Pessoa e ele nos levou para a Afrafep (residência dos agentes fiscais). Lá ele nos deu almoço e dinheiro para voltarmos de ônibus para Cajazeiras. Conclusão: em João Pessoa não chegamos a tempo de arrecadar dinheiro com o livro de ouro e isso se transformou numa aventura, daquelas de jovens, que não sabem o que vai acontecer.

Quando chegamos no Colégio Estadual foi aquele auê da galera nos chamando de “Os fugitivos”. Em fim, não arrecadamos nada que beneficiasse a nossa formatura, porque o que foi arrecadado só deu para pequenas despesas de lanches, cigarros, cafézinhos e aqui acolá uma meiota na viagem, porque ninguém trabalha de graça.

PEREIRA FILHO


Radialista

Brasília – DF

jfilho@ebc.com.br

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