Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

BODEGAS DE CAJAZEIRAS

O típico bodegueiro

Bodegas antigas na Praça Camilo de Holanda

É bom tomar umas no balcão de uma bodega!

As bodegas ainda resistem ao comércio de Cajazeiras como em qualquer cidade do interior do Nordeste, no momento em que a cidade já dispõe de um shopping com lojas modernas. Também em Cajazeiras ainda há um grande número de lojas comerciais modernas, que funcionam em ruas da cidade e ainda tem os supermercados, mercadinhos,  mercearias, bares e quiosques.

Na década de 60, época em que eu morava em Cajazeiras, me lembro que, praticamente em quase todas as ruas da cidade tinha pelo menos uma bodega, e a Praça Camilo de Holanda era o setor onde se localizava muitas delas, devido sua localização como saída para São José de Piranhas e cidades próximas a ela, e também cidades do Ceará. Além das bodegas, nessa praça tinha uma grande variedade de comércio onde quase tudo se encontrava lá. Barbearias; padarias; farmácias; açougues; Mercadinho Público; feira livre nas quartas-feiras; e também a difusora NPR (Norte Publicidade Radiofônica) de Zé Adelgides, que funcionava somente à noite, onde alegrava os ouvintes daquela praça e ruas adjacências com músicas da velha guarda.


Por trás do balcão de madeira da bodega está o bodegueiro, que revive um comportamento provinciano, contagiando a clientela que ele conhece pelo nome, já que muitos deles trabalham nessa atividade há muitos anos. A bodega é o espaço livre que se transforma na dispensa da casa do pobre. Ainda hoje tem bodega que as prateleiras são as mesmas há décadas. A balança Filizzola de dois pratos, o fiado na caderneta encardida, o papel de embrulho com um peso em cima para não ser levado pelo vento, a faca enferrujada  de cortar a barra de sabão mais embaixo, o fumo de rolo e o fardo de carne charque logo ao alcance das mãos, e ainda encontra-se o dente de alho, a mortadela, a garrafa de manteiga da terra, a quarta (250 gramas) de café Asa Branca, a rapadura, a garrafa de cachaça Pitu ou Caranguejo, a bolacha sete capas, a cocada de leite, o pão aguado ou doce – enrolado no papel de embrulho -, a vela São Francisco, chinelas dependuradas, elástico para roupas, sardinhas, gilletes, agulhas, querosene jacaré, vermute Alcatrão de São João da Barra, Cinzano, refrigerantes Crush ou Grapete, o cachete, o cibazol, a terramicina, e muito e muito mais.


Muitas delas tinham um reservado que ficava localizado nos fundos, após as prateleiras, e era destinado aos bêbados/alcoólatras vascaínos, flamenguistas, tricolores e botafoguenses para bate-papos. Alguns chegavam bem cedo já que estavam com a garganta seca, mãos trêmulas a procura da primeira dose de meiota.


Dentre muitos bodegueiros de Cajazeiras naquela época, cito alguns: Zecão, seu Juvenal, Antônio Mãozinho, Wilton – todos na Rua da Tamarina. Seu Manoel, seu Toinho e  Lamércio, na Rua Pedro Américo. Quinco na Rua Dr. Coelho. Seu Vicente, em frente ao Monte Carmelo. Claudionor na Rua Santo Antônio.


O poeta paraibano Jessier Quirino descreve a bodega como o grande supermercado onde se vende tudo: “Tem uma placa de fanta encardida/ a bodega da rua enladeirada/ Meia duzia de portas arqueadas e uma grande ingazeira na esquina/A ladeira, pra frente se declina/e a calçada vai reta, nivelada/Forma palmos de altura na calçada,/que nos dias de feira, o bodegueiro/faz comércio rasteiro e barateiro/no assoalho de lona amarelada/Se espalha uma coxa de mangalhos: é cabresto; é cangalha; e é peixeira; urupemba.


PEREIRA FILHO

Radialista
Brasília – DF
jfilho@ebc.com.br

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