Almanaqueiras: ou não queiras.

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

BARBEARIAS DE ANTIGAMENTE EM CAJAZEIRAS

Fonte: Revista Veja Especial Brasília 50 anos. Novembro 2009
 
Antigamente eles eram conhecidos como barbeiros. A partir de 1975 essa denominação desapareceu e os barbeiros passaram a ser chamados de cabeleireiros.

Quando eu era garoto, na década de 60, eu cortava o cabelo na barbearia de seu Zé Brito, na Rua Justino Bezerra – hoje seria em frente a Rádio Alto Piranhas. Além da barbearia de seu Zé, tinha outras em Cajazeiras, a exemplo da Barbearia do Onofre, na Rua Tenente Arsênio, hoje, Calçadão da Tenente Arsênio. Lá no Onofre, era mais aconchegante e tinha uma porta que dava acesso ao Mercado Público, assim como todas as lojas que faziam parte da área externa do Mercado. Tinha ainda uma outra que era vizinha da bodega de seu Chico - pai de Dedé Bundão -  na Rua Padre José Tomás, que não me lembro o nome do proprietário. Na Rodoviário Antônio Ferreira tinha uma outra, que ficava na entrada, próximo a lanchonete de Passim, que funcionava na área interna. Lembro-me ainda da barbearia de seu Manoel, que funcionava na esquina da Rua do Emboque - de frente para a Praça Camilo de Holanda - ao lado da lojinha do goleiro Pensamento, que era dono do time de futebol Bangu.

Na barbearia de seu Zé Brito só havia duas cadeiras - ainda de madeira - e ele trabalhava junto com seu filho Antônio Brito. Em frente às cadeiras, a mesa com espelhos de forma oval e em cima dela a máquina de cortar o cabelo,  a navalha com a banda de gilete dentro dela para fazer o pé do cabelo, a  tesoura, o pente que era de casco de tartaruga, o vidro com água e o talco. Para os que faziam a barba era usada a loção, que era borrifada com uma bombinha de borracha e o pincel de pelo de porco legítimo, e usava ainda o “leite de rosas” ou “leite de colônia” pós barba. Tinha ainda o avental para o cliente e o do barbeiro.

Nas paredes da barbearia tinha fotografias em preto e branco - amareladas pelo tempo - de familiares de seu Zé Brito, bem como o calendário de folhinhas, daqueles que no verso tem orações do Santo do dia. Seu Zé colocou uma placa entre as duas portas de entrada com a inscrição do nome: Barbearia São José, e a figura de um pente e uma tesoura entrelaçados, como se estivessem dançando um tango.

Era comum encontrar nas barbeariass revistas que eram as mesmas, velhas e bastante usadas, para o cliente ler enquanto ficava sentado no tamborete aguardando ser chamado pelo barbeiro para cortar o cabelo ou a barba, e me lembro que entre as revistas estava a de maior circulação no Brasil, que era a revista “O Cruzeiro” dos Diários Associados, onde tinha como marca registrada a figura do Amigo da Onça.

Na barbearia de seu Zé Brito tinha uma mesinha com um rádio grande de válvulas, sempre sintonizado na Rádio Espinharas de Patos – nessa época não tinha rádios em Cajazeiras – onde se ouvia as notícias, mesmo chiando, anunciando a construção e inauguração de Brasília; a conquista do bi-campeonato Mundial de Futebol, em Santiago, no Chile, pela Seleção Brasileira;  a sucessão de Jânio Quadros por Juscelino Kubitschek e a renúncia dele sete meses depois, sendo substituído pelo vice-presidente João Goulart; entre outras. Além do rádio, tinha também os bate-papos entre seu Zé Brito e os fregueses, onde se comentavam os mais variados assuntos, menos mulheres, porque a barbearia foi instalada na sala de visita da casa dele. Morava ele e os filhos - Antônio e uma moça - que não me lembro o nome dela.

Seu Zé Brito cortava meu cabelo e de meus irmãos menores, do tipo “alemão”. Ou seja, o mesmo que era usado pelos soldados do Tiro de Guerra de Cajazeiras, a pedido de minha mãe.

Em novembro de 2009, a Revista Veja, edição especial, em comemoração aos 50 anos da fundação de Brasília, publicou várias matérias sobre empresas instaladas na Capital Federal e uma delas foi sobre a Barbearia do Onofre, com destaque de uma foto dele e seu irmão - não me lembro do nome, sob o título “Barbearia do Onofre há 38 anos cuidando de gerações de brasilienses”.  A seguir, trecho da matéria: “Toda grande empresa tem uma história. A Barbearia do Onofre tem a sua. Onofre, o fundador, chegou em Brasília em 1969, com Domelice, esposa na época, e se instalou em um barraco de madeira. Naquela época não era permitido comércio em barracos e em 1971 a Barbearia Onofre mudou-se para a Avenida W3 703 Norte, lugar onde surgiu o primeiro estabelecimento e tudo começou. O que antes era pequeno e simples, hoje é amplo e aconchegante. A Barbearia já atende sua terceira geração de clientes em um ambiente familiar e moderno. Ela conta com a gestão de seu filho Jorge, a ex-mulher e o cunhado Dilso, atual gerente. Dispõe também de uma equipe de 14 profissionais esperando de portas abertas. Barbearia do Onofre. A barbearia do seu pai, dos filhos e dos netos”, concluiu a matéria da Revista Veja.


PEREIRA FILHO
Radialista
Brasília – DF
jfilho@ebc.com.br


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