Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 30 de janeiro de 2011

À SOMBRA DAS CHUTEIRAS


Em pé (esqurda para direita): Welington, Erivaldo, Eduardo, Carlos Tércio; Agachados: James Rocha, Ailton Mangueira, FranciscoVieira (Didi) e José Alves Neto

Digam-me, quem, na adolescência, em Cajazeiras, não teve seu momento de craque? Mesmo que tivesse a doce ilusão de que fosse craque admirado pelos outros. Os “outros”, no caso, seriam nossos colegas de rua, nossos amigos de bar, nossos confrades de pelotas, porque, para si, nos considerávamos um cracaço. Lógico que não passávamos de um “para si”. Porque, quando víamos nossos amigos do mesmo tope jogarem de verdade, batia uma humilhação por não termos essa capacidade de aspirante à Perpétuo e Fuba. Mas era uma humilhação de prazer, uma humilhação gostosa ver nossos amigos, nossos colegas jogarem bem, de serem criativos em suas jogadas.

Quem não se lembra de Neném de Dona Nazaré Lopes dar aquelas arrancadas fantásticas, parecendo que tinha um motorzinho nas pernas, e dar um drible em quem estivesse em sua frente e marcar gol? Quem não se lembra de Neném Mãozinha driblar um, driblar dois, driblar três, em síntese, sair comendo todo mundo e fazer gol, mesmo que o acusassem de ser fominha? Quem não se lembra da cancha de Darlan Lopes, também filho de Nazaré Lopes, numa tranqüilidade de dar inveja a qualquer zagueiro afobado, dar belas esticadas de bolas para os parceiros? Quem não se lembra de Dita, de “seu” Dirceu da Merendinha, dar toques de classe? Quem não se lembra de Bosquinho, em seu corpo franzino dar entradas sérias, para não dizer ‘traulitadas’, sem agredir o jogo limpo? Quem não viu Nilsinho... Quem não viu... Quem não viu, não viu porque não quis, porque todos eles estavam esbanjando saúde futebolística na flor da idade, aí pela década de setenta, oitenta, ou algo próximo.
Bem, pelo menos para mim eu via assim esses caras, esses jogadores que jogavam no campinho do Uvilim, na quadra do Colégio Estadual, em sítios e cidades da redondeza e em qualquer campo ou pedaço de descampado que favorecesse uma boa pelada, mas acima de tudo no Estádio Higino Pires Ferreira, nosso templo maior das chuteiras.

Disse chuteiras? Sim, porque esses meninos peladeiros, esses jogadores que falei acima e mais um monte que em Cajazeiras batiam bola nos campos de várzeas, já usaram chuteiras, vestiram uniformes e meiões de seus times, e isso era um charme para uma foto. Era um elã para acreditar que se fazia futebol com paixão e profissionalismo. Profissionalismo na medida do interior de cada jogador de uma cidade do interior. Eu nunca usei essa indumentária porque eu não era um amador profissional. Sim, até para ser amador no futebol tem que ser um bom profissional. Nessa foto estamos vestidos com a camisa do Colégio Estadual de Cajazeiras, a camiseta da disciplina de educação física.  

Observem bem se eu tinha cara de peladeiro profissional, se eu (o terceiro em pé, da esquerda para a direita) tinha jeito para zagueiro, se eu tinha feição para a prática do futebol. Observem também para o meu grande amigo José Alves Neto, o galego agachado à direita, como também para Carlos Tércio, Didi, Ailton Mangueira. Essa foto era de nosso time de classe da oitava série, se não me engano, em que participamos do campeonato interno do Colégio Estadual. O nome do time era prepotente: Esporte Clube Atômico. Tão prepotente quanto o tamanho da derrota que tomamos do time de Neném Mãozinha:  uma dúzia de gols à zero. Toma! Pra deixar de ser besta. O melhor mesmo seria se eu estivesse sempre na arquibancada, como torcedor, ou me restringisse, como assim foi, à minhas peladas do Grupo Dom Moisés, nas peladas de fim de tarde. É verdade que eu não era um perna de pau cem por cento. Pelo menos eu servia para preencher as vagas dos times. Ah, mas nada nos importava, porque o espírito de competição é que nos confortava. O melhor para mim, Zé Alves e outros colegas, era nos recolhermos para nossa melhor intenção, de fazermos o jornalzinho do Centro Cívico Olavo Bilac, o VISÃO ESTUDANTIL, mesmo com nossas limitações, intelectuais (outra prepotência) e de produção do jornal com o mimeógrafo à álcool.  

Eduardo Pereira
E-mail. dudaleu1@gmail.com

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