Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sábado, 22 de janeiro de 2011

DONA BIA: A MATRIARCA DOS PEREIRAS

Hoje não é o dia das mães, e nem é o aniversário de Bia, mas Pereira Filho (Mininim) escreveu esse texto sobre sua, nossa mãe, dona Bia, a matriarca dos Pereiras e de uma lapada de cajazeirenses residentes de há muito tempo em Brasília. Leia:
 Eduardo Pereira: dudaleu1@gmail.com

Falar sobre a minha mãe não é tarefa fácil. Ela nasceu em Bonito de Santa Fé (PB) e ainda mocinha se mudou para o Sítio Rita, que fica a uns cinco quilômetros de Monte Horebe (PB). Meu avô João Martins de Oliveira (padim João), pai de minha mãe, era um pequeno agricultor e seu sítio era muito aconchegante, porque havia muitas árvores frutíferas.
Bia e sua reca de filhos.  Em pé (sentido horário): Erisvaldo, Sales e ela com Ivaldo no colo e Márcia na barriga. Sentados: Mininim (Pereira Filho), Toinho, Eduardo, Valdim, Nem e Dassinete


Minha mãe, Maria Pereira de Souza, dona Bia, após se casar, foi morar em Cajazeiras (PB) juntamente com meu pai, José Pereira de Souza. Em Cajazeiras eles foram morar de aluguel e isso fazia com que sempre ficassem mudando de endereço e, além disso, não tinha condições de comprar os móveis da casa, chegando a dormir por um certo tempo, no chão. Ela já morou em várias ruas de Cajazeiras e após meu pai comprar uma casa, em 1958, na Rua Pedro Américo, ficou morando até 1975, ano em que se mudou para Brasília.
Bia e José Pereira, seu esposo


Minha mãe, hoje com seus 87 anos de vida, gosta de relembrar fatos de sua vida sofrida, que aconteceram durante o tempo em que morava em Cajazeiras. Meu pai ao ser transferido no final de 1958 para João Pessoa, deixou minha mãe na condição de chefe da família, criando dez filhos:  Erisvaldo, Sales, EU, Toinho, Valdin, Eduardo, Ivaldo, Dassinete, Nevinha e Márcia. A minha irmã  Dassinete, por ser deficiente, tinha uma atenção muito grande por parte de minha mãe, por isso não tinha como estudar, além disse era muda e surda.

A missão de orientar todos os filhos para uma educação do bem viver, fazia com que a luta dela fosse muito grande. Providenciar escolas, uniformes, alimentação, assistência médica e muitas outras coisas, fazia dela uma senhora guerreira.

Sempre no início do ano letivo, era um sufoco muito grande, porque ela ia nas livrarias de seu Horácio Cavalcante ou de seu Nezinho, comprar livros, cadernos, lápis, borrachas, etc. Os uniformes escolares – ela comprava o tecido e confeccionava a calça e a camisa - que eram comprados na Loja das Fábricas de ‘seu’  Waldemar Matias ou nas Lojas Pernambucanas, e  nas  secretarias dos colégios, onde cada um ia estudar – Colégio Diocesano Padre Rolim, Colégio Estadual e Colégio Comercial Constantino Vieira – ela comprava o escudo ou emblema do colégio e pregava no bolso das camisas. Já para comprar os calçados, ela recorria a sapataria de Manoel Caiçara ou de seu Moacir, ou ainda nas tarimbas dos caiçaras, que funcionavam no Mercado Central. Lá em casa, como éramos em seis irmãos homens, comigo sete, um mais alto que outro – tipo escadinha - tínhamos por hábito herdar roupas e calçados dos irmãos mais velhos, menos as meias e cuecas.

Os pais de Bia: Querobina e João Martins de Oliveira


Para desfilarmos no dia 7 de setembro, era mais uma correria, onde tinha que providenciar  uniformes padronizados para aquela data, porque às vezes uns desfilavam em pelotões especiais e aí o uniforme seria diferente do outro. Desfilar nas ruas e avenidas de Cajazeiras num 7 de setembro era muito bom e por ser uma data especial ficávamos orgulhosos diante dos palanques com as autoridades da cidade e o povo em geral nos aplaudindo naquele momento.

Quase tudo que se comprava lá casa era na base do fiado, e os comerciantes anotavam na caderneta, e quando chegava o dia 2 ou 3 de cada mês, minha mãe me convocava para eu ir até a Coletoria Estadual, buscar o pagamento, que meu pai mandava de João Pessoa, e seu Porcidônio Moreira como era o tesoureiro de lá, ele me atendia sem que eu precisasse enfrentar a fila. Chegando em casa eu fazia a lista a ser paga aos comerciantes. Nas bodegas de seu Manoel Jovino, na de Quinco e ainda na de seu Vicente de dona Lazinha. Também no Armazém Rio Piranhas, de seu Arcanjo; nas Lojas das Fábricas de seu Waldemar Matias; nas Pernambucanas; entre outros estabelecimentos comerciais.
Bia apóia a  AC2B. Posse da Diretoria. Em pé (sentido horário): Maurinete, Lavô, Bira, Carlos Doido, Dita. Sentados: Valdim e Bia.


Tinha ainda a feira aos sábados onde eu ia comprar cereais e também no açougue do Mercado Municipal onde eu comprava na tarimba do marchante ‘seu’ Zé Palmeira. Nesses locais eu comprava à dinheiro e para arranjar um troco, eu sempre pedia para pesar 800 gramas e não um quilo como minha mãe pedia para comprar. Ou seja: eu sempre ficava com o troco das 200 gramas, que era para assistir a um eventual filme, ou para merendar no Colégio Estadual com as minhas colegas de classe, ou para tomar uns gorós (meiotas de Pitu ou Caranguejo).

Quando ela morava em Cajazeiras, minha mãe como outras mães, já pediu emprestado as vizinhas dona Janoca, dona Mocinha, dona Lilia, dona Odília, dona Teresinha Cavalcante, uma quarta (250 gramas) de café em pó, um litro de leite, uma rapadura, um quilo de farinha, um pedaço de toicim, uma vela, e por aí vai. Ela pedia emprestado mas no dia 2 ou 3 pagava.
O filho e a mãe: Eduardo e Bia


Bia: a presepeira
Lá em casa, às vezes se transformava em pensão no dia de sábado, dia de feira na cidade, quando meus tios, primos e outros familiares, que moravam em Monte Horebe e sítios próximos de lá, iam fazer compras em Cajazeiras e filavam o rango (almoço) da minha mãe como hóspede. Alguns deles levavam algum tipo de alimento produzido no Sítio Rita como frutas, tapiocas, goma, fava, uma galinha viva, porque lá em casa tinha um galinheiro.
Bia: a presepeira


Minha mãe sofreu muito no passado, mas tinha orgulho de sua dignidade, pela sua bravura, pela sua luta, principalmente com Dassinete. Acima de tudo ela era e é muito religiosa. Ela construiu um círculo muito grande de amizades em Cajazeiras, tinha muitas amigas, eram todas felizes, e ela também com aquelas pessoas que lhe ajudaram e que ela ajudou em toda sua vida. Amém mamãe.

PEREIRA FILHO
Radialista
Brasília – DF
jfilho@ebc.com

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