Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

MEU PAI: PROFESSOR PEREIRA

Professor Pereira ao microfone (ao lado de Zé Guimarães) discursando em inauguração do Fórum de Cajazeiras 


  pais Meus pais José Pereira de Souza e Maria Pereira de Souza (dona Bia), nasceram em Monte Horebe e Bonito de Santa Fé, respectivamente, na Paraíba. Meus pais moravam no Sítio Rita, município de Monte Horebe, quando se conheceram e começaram a namorar, e num futuro bem próximo, se casaram.

Segundo minha mãe, meu pai quando era solteiro, trabalhava na roça juntamente com seus irmãos e quando chegava do roçado, seus irmãos, após o jantar, descansavam um pouco e iam dormir. Como não tinha escola no sítio onde meu pai começaria a conhecer as primeiras letras, após o jantar, ele se dedicava a estudar sozinho, com auxílio de candeeiro, pois não havia eletricidade na época, e ele estudava até altas horas da noite. Com sua dedicação e força de vontade, ele foi aos poucos aprendendo a ler e escrever.

Depois de certo tempo trabalhando na roça e se dedicando aos estudos, ele se casou e já com seu conhecimento básico de saber ler e escrever resolveu ir morar em Cajazeiras, porque lá teria oportunidade de aprender mais e mostrar seu trabalho na terra do Padre Rolim. Chegando em Cajazeiras, ele teve a idéia de fundar uma escolinha para alfabetizar crianças, na própria residência, onde seus alunos seriam os vizinhos. 

Sabemos que tem crianças que não gostam de estudar e frequentam a escola contra sua vontade. Portanto, esse tipo de aluno também tinha na escolinha do meu pai. Segundo minha mãe, muitas vezes meu pai ia à casa do aluno buscá-lo para estudar, a pedido dos pais. Ou seja, ele tinha um grande objetivo, que era fazer com que a criança se dedicasse aos estudos para que um dia se formasse e se tornasse um grande profissional. Ainda segundo minha mãe, muitos alunos que passaram pela escolinha de meu pai se formaram e se tornaram advogados, médicos, engenheiros, padres, freiras, enfim, muitas outras áreas. Vários deles se destacaram também na área política onde exerceram cargos diversos. “Professor Pereira”. Assim ele ficou conhecido. Ele também lecionou no Tiro de Guerra. 

Com o passar do tempo o Professor Pereira foi fazendo amizades em Cajazeiras com pessoas de todas as classes sociais, políticos, empresários, etc. Em 1950, Cajazeiras entrava no clima das eleições municipais e meu pai recebeu  convite de um candidato a prefeito para trabalhar na sua campanha, onde faria discursos nos comícios e outras tarefas mais. O referido senhor seria Dr. Otacílio Jurema, homem de grande conceito em Cajazeiras e região. Dr. Otacílio Jurema, em conversa informal com meu pai, lhe garantiu que, caso fosse eleito para prefeito, teria um cargo na Coletoria Estadual de Cajazeiras, órgão vinculado a Secretaria de Finanças da Paraíba. 

Após a vitória de Dr. Otacílio Jurema meu pai foi conduzido a trabalhar na Coletoria Estadual de Cajazeiras, na função de Agente Fiscal. Cajazeiras tinha dois postos de fiscalização da Coletoria Estadual, postos estes que ficavam nas saídas para Sousa, Paraíba (Posto Catolé) e na outra saída para o Ceará (Posto dos Veados). Meu pai começou a trabalhar nestes postos seguindo escala de rodízio. Eu ainda garoto, lembro-me que quando ia deixar o almoço ou jantar do meu pai, eu o ajudava na tarefa de abrir a cancela para que o caminhão carregado, após vistoria e carimbar as notas fiscais da carga, passasse na cancela. Naquela época era assim mesmo, existia a cancela. 

Em 1958, meu pai, assim como outros colegas dele, agentes fiscais, foram transferidos para a Secretaria de Finanças da Paraíba, em João Pessoa. Seus colegas levaram suas famílias para fixar residência na capital do Estado. Meu pai ficou na promessa de num futuro também levar sua família para João Pessoa, o que acabou não ocorrendo com o passar do tempo. Assim, minha mãe, dona Bia, ficou em Cajazeiras fazendo a função de pai e mãe com nove filhos pequenos: 
Dassinete, Erisvaldo, Nevinha, Sales, Eu, Antônio, Evaldo, Eduardo e Ivaldo. Sempre que tinha uma oportunidade, meu pai ia para Cajazeiras nos visitar. Anos depois nasceu Márcia, totalizando dez filhos. Sob suas ordens e maneiras do bem viver, minha mãe soube encaminhar todos filhos para uma formação educacional de bem estar, ensinando uma postura de respeito e caráter.

Em 1970, Sales, o segundo mais velho dos homens, sabendo que meu pai não iria cumprir a promessa de levar a família para João Pessoa, teve a idéia de vir morar em Brasília, cidade recém inaugurada (10 anos de inauguração), onde muitos brasileiros procuravam fixar residência, porque acreditavam no potencial da nova capital do Brasil. No ano seguinte, em 1971, foi a minha vez de vir para Brasília. Em 1972 veio Antônio e 1973 trouxemos Evaldo. Ficando em Cajazeiras minha mãe e demais irmãos, tivemos a feliz idéia de trazê-los em 1975 para aqui construírem um futuro melhor. Meu pai continuou morando em João Pessoa e sempre que podia vinha á Brasília visitar a família. Erisvaldo, o mais velho dos homens, ficou morando em Cajazeiras, porque já estava casado e tinha seu emprego fixo. Em 1988, meu pai se aposentou e veio morar com a família, dois anos mais tarde, em 1990, veio a falecer. 

Além de Professor e Agente Fiscal, ele foi o fundador de um jornal em Cajazeiras, “O Observador”, órgão literário e noticioso com informações de Cajazeiras, região do Alto Piranhas, do Brasil e do mundo. Ou seja, ele era jornalista não formado. Esse jornal foi fundado em maio de 1955 e tinha dimensões de 48 por 33 cm de largura, iguais ao Correio da Paraíba, O Globo, entre tantos outros. Meu pai era o diretor responsável e redator. Tinha também correspondentes em São José de Piranhas (Jatobá), Pedro Lins de Oliveira e em Campina Grande, J. Mendes Rolim. Era impresso na Gráfica Rio do Peixe, na Rua Dr. Aprígio Sá, nº 24, fone 409, em Cajazeiras que tinha como proprietário o senhor Horácio Alves Cavalcante.

Além das notícias, também tinha o Registro Social – notas de aniversários, casamentos, pessoas em trânsito pela cidade, pessoas que viajavam, etc. Na parte de propagandas, tinha os anúncios de lojas do comércio de Cajazeiras e Campina Grande. 

Em Cajazeiras os anunciantes eram: OFICINA RÁDIO TÉCNICA de GALDINO VILANTE, com montagens, ajuste e reparação de rádios, amplificadores e cine-sonoro; SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileira S/A) na compra de algodão em rama e mamona; COUROS E PELES, firma de José Alencar, “compra pelos melhores preços da praça e em qualquer quantidade”; MERCEARIA SERTANEJA, de Domício Braga: “ferragens, louças, vidros, perfumes, miudezas, bebidas nacionais e estrangeiras, geladas e naturais”; A PERNAMBUCANA: “comprando pelos melhores preços do mercado os melhores tecidos nos mais lindos padrões”; BAR E SOVETERIA ALOMA, de José Moreira: “perfeito serviço de gelos e sorvetes, variado sortimento de bebidas nacionais e estrangeiras, geladas e naturais”; ARMAZÉM OURO BRANCO: “organização Américo Almeida, recebe novidades diariamente, vende pelos melhores preços e serve melhor para suas compras de tecidos”; ARMAZÉM SÃO PAULO: “Francisco Rolim & Irmãos: tecido em grosso e a varejo”. 

Na edição de número 8 , data de dezembro de 1955, que tenho em mãos, vejamos algumas manchetes: “Soberania e Feudalismo Internacional”: fala sobre a guerra fria entre a Rússia e os Estados antimarxistas na disputa de extensão comercial. “Mensagem do senador eleito Dr Otacílio Jurema ao povo cajazeirense”. Noticia que o Governador José Américo de Almeida foi condecorado pelo Governo Francês com a Medalha de Chambord, por ocasião da inauguração da Universidade da Paraíba. 
“Empossados prefeito, vice e vereadores de Bonito de Santa Fé”. “Soerguimento das Cidades”: frisa sobre as cidades no Brasil e no mundo, com relação aos arranha-céus; Noticia solenidades de posse e transmissão de cargos dos recém eleitos de Cajazeiras; Coluna de Deusdedit Leitão: sobre famílias cajazeirenses: “Família Bezerra”. 

O jornal “O Observador”, eu e meus irmãos, tínhamos pouco conhecimento sobre ele ou quase nenhum. Depois que meu pai faleceu, minha mãe falou so bre esse jornal, mas não tinha maiores informações para nos fornecer. O senhor Frassales Cartaxo, Cajazeirense que mora no Recife, colunista do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, de Cajazeiras, em um dos artigos publicado no Gazeta, falou sobre a existência do jornal “O Observador”. Dr. Cristiano Cartaxo, pai de Frassales, era um assinante do jornal O Observador . Dr. Cristiano era um dos maiores amigos do meu pai. Eduardo, meu irmão, sendo assinante do Gazeta, ao ler o artigo, entrou em contato com o senhor Frassales Cartaxo, na possibilidade dele mandar um exemplar do jornal “O Observador”. Frassales mandou cinco exemplares do referido jornal (números 8, 9, 10, 11 e 12) para Eduardo e a partir daí, começamos a conhecer esse trabalho que meu pai tinha.
Com relação à época que meu pai fundou este jornal, eu imagino que era muito difícil fazer sua impressão e circulação funcionar de forma satisfatória, porque não dispunha de tantos recursos tecnológicos, a exemplo de hoje como a Internet. Me orgulho pelo o que meu pai foi: um bravo guerreiro na luta pela força de vontade e conhecimento, que adquiriu como professor (tinha domínio fluente do grego, latim, francês e inglês) agente fiscal e jornalista. Valeu! 



PEREIRA FILHO
Radialista
Brasília – DF 
Jfilho@ebc.com.br

3 comentários:

  1. Lindo e emocionante depoimento sobre seu pai.Fico feliz em saber que papai tinha um compadre de fina estampa. Um Feliz 2011 para todos!!!

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  2. Não sei qual dos Cartaxos está falando (escrevendo), mas agradeço em nome do Pereira Filho,meu irmão, e de toda minha família Pereira, suas considerações.
    Eduardo Pereira.

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  3. Acho bonito quando um filho admira o legado deixado pelo o pai. A imprensa escrita de Cajazeiras ao longo de sua história teve vários jornais, mas infelizmente hoje só existe o de Zé Antônio - por sinal, muito bem elaborado para os padrões da cidade. Seria bom Pereira que "O Observador" fosse reativado, não com o perfil editorial de sua época, mas com um conteúdo crítico e analítico sobre diversos assuntos, que poderia ser escritos por cronistas de diversas áreas.

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