Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OS SAPATEIROS ‘SEU’ BERNARDO BATISTA E ‘SEU’ JOÃO BALBINO

Lendo artigo de Eduardo Pereira, meu irmão camarada, sobre “Os Sapateiros”, me fez lembrar do meu vizinho ‘seu’ Bernardo Batista. Nos fundos da casa dele, frente para o muro do Grupo Dom Moisés Coelho, ficava a sua oficina de trabalho e depósito de materiais artesanais para a confecção de sandálias currulepe, botas e alpercatas (‘zapragatas’, como falavam os beradeiros) feitas em couro e solado cru, usadas pelos matutos.
O couro, ou sola, em si, quando novo, tem um cheiro de bosta. Isso mesmo, bosta. Com o passar do tempo em uso, esse cheiro vai desaparecendo. Esses artigos eram vendidos nas tarimbas (bancas) do Mercado Público, de Cajazeiras, onde ‘seu’ Bernardo, juntamente com seus irmãos e parentes trabalhavam na venda dos mesmos. Aliás, quase todas as tarimbas desses produtos no Mercado, eram dos Caiçaras – que eram assim mais conhecidos - Manoel Caiçara, Aprígio, Manoel, Chico, Ademar, Joaquim “o gago” - entre outros.
Tive a oportunidade de trabalhar aos sábados, dia de feira em Cajazeiras, ajudando na tarimba de ‘seu’ Bernardo e, tempos depois, trabalhei na tarimba de dona Chiquinha de ‘seu’ Zé Augusto,  pais do cantor Ribamar - ou Riba -, que é muito conhecido no mundo musical de Cajazeiras. Dona Chiquinha vendia sandálias produzidas em fábricas, e não produtos artesanais como os fabricados por ‘seu’ Bernardo. Meu irmão Valdinho também trabalhou com ‘seu’ Bernardo, indo vender seus produtos aos domingos na feira de São José de Piranhas (Jatobá).

Tinha também o sapateiro ‘seu’ João Balbino, pai de Valmir e Nenzinho. A sapataria era na Praça Coração de Jesus (Praça dos Carros), ao lado da padaria de seu Zeca. Pois bem, além da sapataria, lá também tinha um espaço reservado para quem quisesse jogar dominó e dama. Um detalhe: a sapataria tinha três portas, daquelas que ficavam entreabertas, e os jogadores ficavam quase escondidos por trás das pilastras que davam sustentação às portas. Ou seja, as pessoas que passavam em frente à sapataria, quase que não percebiam que atrás das portas tinha alguém. Seu João Balbino ficava trabalhando sem ser amolado pelos jogadores. Não rolava apostas, porque não era permitido. Sendo assim, confesso que comecei a aprender a jogar dominó e dama, lá em ‘seu’ João Balbino, assim como tantos e tantos outros.

Quando a gente começa a trabalhar na vida, todo serviço é digno de respeito, porque sempre precisamos aprender algo para que no futuro possamos ser pessoas de responsabilidade. Confesso que meu primeiro trabalho foi de engraxate. Eu fiz uma caixa de engraxar sapatos, mas para engraxar somente os sapatos de minha família e, com o passar dos dias, comecei a engraxar os sapatos de ‘seu’ Bernardo, de ‘seu’ Zé Cartaxo e ‘seu’ Esmerindo Cabrinha, vizinhos meus. Aí ganhava meus troquinhos.
Lembrando tanto em sapatos, cito um que usei e nunca me esqueci:  foi o vulcabrás. Erisvaldo, meu irmão mais velho, tinha um par na cor preta e outro na cor marrom, depois ele passou para Sales, outro irmão meu. Daí eu herdei de Sales. O vulcabrás era macio, resistente, brilhante, conservado e de uma marca de grande valor. 

PereiraFilho
jfilho@ebc.com.br
Radialista
Brasília - DF

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