Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 19 de junho de 2019

Aurea mediocritas

Balança pende muito mais em favor da venda fracionada de medicamentos 

Hélio Schwartsman



Deu no Painel S.A. que as farmácias se mobilizam para frear mais uma tentativa de trazer ao mercado brasileiro a venda fracionada de medicamentos. Pelo menos desde o primeiro governo Lula, legisladores e reguladores buscam, sem sucesso, impor ao setor a obrigatoriedade de vender remédios na quantidade exata pedida pelo consumidor ou receitada pelo médico. Hoje, é a própria indústria quem embala as drogas, e as vende em caixas com quantidades pré-determinadas de doses.

São vários os argumentos pró-fracionamento. Para começar, ele favorece o bolso do cidadão, que só compraria aquilo de que realmente necessita. A mudança tenderia a diminuir os estoques de drogas que as pessoas mantêm em suas casas, reduzindo os riscos de automedicação indevida, intoxicações involuntárias, em especial de crianças e pets, e de descarte inadequado.

As farmácias são radicalmente contra a medida. Elas teriam de investir em salas propícias à manipulação e em treinamento de pessoal, tudo isso para vender um volume menor que o atual. Mas o fato de seus argumentos serem interessados não implica que sejam todos furados. A venda fracionada provavelmente diminuiria a rastreabilidade dos lotes e facilitaria a burla no controle de psicotrópicos.

Acrescente-se a isso o fato de que, como os métodos industriais são mais precisos que os manuais, passaríamos a conviver com problemas que hoje desconhecemos, notadamente erros humanos na dispensação.

Apesar disso, creio que a balança pende muito mais em favor do fracionamento, que é a regra nos países mais desenvolvidos. Aliás, o Brasil está ficando tão para trás em tantos indicadores que cada vez mais me convenço de que o melhor caminho para nós é eliminar as jabuticabas e imitar o que é padrão na média das nações que nos superam em grau de civilização. Não acertaríamos sempre, mas erraríamos menos do que estamos errando.

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