Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 12 de julho de 2017

dois bicudos não se beijam

Enquanto tucanos faziam terapia, Alckmin deu passo rumo a 2018 

Igor Gielow 


Enquanto o PSDB fazia mais uma sessão de terapia de grupo, Geraldo Alckmin deu mais um passo na construção da candidatura de seu grupo político em 2018 —seja ele ou o prefeito João Doria o postulante tucano à Presidência da República.

Em meio à bruma inócua do vai-não-vai do PSDB em relação ao governo Temer, coube ao presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), dar a notícia: em agosto o partido elege nova Executiva. Isso na casa de Alckmin, em reunião convocada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Simbolismo conta.

O governador paulista já vinha ocupando o vácuo deixado pela implosão do senador Aécio Neves (MG) pela Operação Lava Jato. Presidente do PSDB, ele teve de licenciar do cargo quando teve o mandato suspenso pelo Supremo, o que acabou revertido na própria corte. O senador tornou-se um ativo tóxico na visão de boa parte do partido porque suas agruras judiciais tendem a continuar.

Na reunião em que a Executiva tucana decidiu permanecer no barco de Temer, Alckmin já havia conduzido boa parte dos trabalhos.

Mas ele não está sozinho na busca pelos espólios de Aécio, para quem o partido estuda um descolamento digno do protagonismo tucano. O senador José Serra (SP), antigo desafeto do mineiro e do governador, está se movimentando nos bastidores, confiante de que a acusação que o atingiu na Lava Jato é menor e que ele poderá postular mais espaço decisório —se uma candidatura nacional é descartada por aliados, o Palácio dos Bandeirantes não é tão distante. Se o senador está sendo otimista demais, essa é outra questão.

Por ora, contudo, é Alckmin quem dá as cartas. A própria reunião da segunda (10) teoricamente era para ser reservada, mas aliados seus emergiram com convites ao longo do fim de semana, ampliando o fórum —e gerando ciumeira pelos critérios adotados na convocação.

O tucano busca consolidar sua base de apoio, acenando com responsabilidade fiscal e compromisso com reformas aos governadores apavorados com perda de recursos federais em caso de desembarque e com um discurso ambíguo de não compromisso com Temer para agradar a ala jovem e rebelde do partido na Câmara.

Se tudo isso dará certo, é incerto. Aécio ainda tem munição interna para atrapalhar Alckmin, embora o cenário seja favorável ao paulista. Além disso, o paulista terá de compor com Tasso, com quem se dá bem. O cearense poderá continuar à frente do partido, uma solução de consenso para evitar uma humilhação pública muito grande do mineiro.

E, uma vez dominada a máquina interna, o governador ainda terá dois desafios principais. Primeiro, escapar das acusações contra si na Lava Jato, até aqui de escopo menor do que as de Aécio, por exemplo. Segundo, se mostrar mais viável do que o pupilo Doria em pesquisas —até aqui, o prefeito tem uma vantagem de saída e tem fixado muito mais a imagem de anti-PT necessária para enfrentar Lula ou algum preposto do ex-presidente no ano que vem.

Contra Doria, há a desconfiança generalizada dos caciques da base aliada, e o adensamento dos problemas práticos de gestão, como o caso dos semáforos inoperantes que paralisam o trânsito na capital paulista.

O governador gostaria de ver Temer na cadeira até o fim, mas a realidade vem se colocando de outra forma, com um eventual governo Rodrigo Maia (DEM) emergindo.

O hoje nanico DEM quer crescer, fazer bancada federal e voltar a ser um parceiro preferencial do campo conservador, embora obviamente a "mosca azul" presidencial tenha poderes inauditos associados à tinta da caneta.

Alckmin gostaria de replicar sua aliança local com o PSB nacionalmente, mas talvez tenha de ceder espaço e devolver os pessebistas para o colo de Luiz Inácio Lula da Silva ou algum preposto.

É antes preciso saber o que ocorrerá com Temer e se o peemedebista renunciaria em caso de afastamento -levando a um pleito indireto no qual Maia pode ter voto, mas no qual as forças envolvidas são maiores do que ele. 

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