Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 11 de maio de 2017

"O diretor do FBI tentou por anos me prender por causa de minhas atividades políticas. Se eu posso me opor à sua demissão, você também pode."

EUA viraram uma grande república bananeira?

Clovis Rossi 

Supunha-se que os Estados Unidos seriam o último país do mundo ao qual se poderia aplicar a definição de "república bananeira".

Não é mais, depois que o presidente Donald Trump decidiu tomar a iniciativa de demitir James Comey, o diretor do FBI, a polícia federal norte-americana.

"Temos todas as facetas de uma república de bananas", escreve David Rothkopf, editor das publicações do Grupo Foreign Policy.

É verdade que Rothkopf é um desses acadêmicos acostumados a produzir "sound bites", frases curtas e de grande impacto, capazes de conseguir um espaço até mesmo nos telejornais, usualmente econômicos no uso do tempo.

Mas o alarme despertado pela demissão de Comey, bem analisado nesta Folha pelo sempre brilhante Marcos Augusto Gonçalves, parece ter colocado uma boa parte da América à beira de um ataque de nervos.

Pequena amostra:

"A decisão [de demitir Comey] levou a democracia dos Estados Unidos a um novo território, escuro e perigoso", escreve Julian Borger, correspondente do jornal "The Guardian" em Washington (o que mostra que não só os americanos se alarmaram).

"A eleição de Donald Trump —um homem que tem louvado ditadores, encorajado a violência por parte de seus apoiadores, ameaçado prender sua rival e rotulado a mídia 'mainstream' como 'o inimigo'— desperta temores de que os Estados Unidos estejam se encaminhando para o autoritarismo", opinam, para a "Foreign Affairs", Robert Mickey (Universidade de Michigan), Steven Levitsky (Universidade Harvard) e Lucan Ahmad Way (Universidade de Toronto).

O trio acha que Trump caminha para impor uma forma branda do que eles chamam de "autoritarismo competitivo" —um sistema no qual instituições democráticas significativas continuam existindo, mas o governo abusa do poder do Estado para colocar em desvantagem seus oponentes.
No caso Comey, Trump usou seus poderes para demitir o homem que investigava os laços entre sua campanha presidencial e a Rússia.

É sintomático, aliás, que a mídia norte-americana esteja revelando agora que, dias antes de ser defenestrado, Comey havia pedido mais recursos exatamente para essa investigação. Pode ser coincidência, pode ser uma certa histeria da parte da mídia e da academia que nunca engoliu Trump, mas há um razoável ecumenismo no desconforto com o episódio.

Edward Snowden, por exemplo, o rapaz que vazou milhares de documentos que atingiram em cheio a diplomacia norte-americana, tuitou: "O diretor do FBI tentou por anos me prender por causa de minhas atividades políticas. Se eu posso me opor à sua demissão, você também pode."

Vai um pouco na mesma linha o colunista conservador Bill Kristol: "Pode-se er ao mesmo tempo um crítico de Comey e ficar alarmado pelo que Trump fez e como o fez".

Tudo somado, o episódio conduziu a um ponto em que só há uma boa hipótese para a reputação dos EUA: o lançamento de uma investigação independente sobre os laços Trump/Rússia e que suas conclusões sejam aceitas universalmente.

Do contrário, ficará a suspeita de que surgiu a maior "banana republic" da história. 

Vai um pouco na mesma linha o colunista conservador Bill Kristol: "Pode-se ver ao mesmo tempo um crítico de Comey e ficar alarmado pelo que Trump fez e como o fez".

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