Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Fazer política de segurança pública para e com pessoas apavoradas tem tudo para dar errado.

  
Wilson Gomes

O medo nos mantém vivo. Fato. O problema do medo é quando ele se mete a fazer teoria política. A compaixão também nos mantém vivos, mas também juntos e humanos. O medo que os brasileiros têm da violência urbana está virando pavor. Pânico aberto. E coletivo. A compaixão olha um presídio e vê seres humanos cumprindo pena. Punição, sim, mas mantém a esperança. O ser humano é corrigível, toda vida humana é digna. O medo olha uma penitenciária e vê os monstros que nos assombram. 

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O pavor não quer prisioneiros, quer mortos. Os mortos não nos aterrorizam mais. Se os monstros se matam, tanto melhor, mas a hipótese de que o Estado os mate é também tranquilizadora. O medo celebra massacres em presídios. Prefere celebrar a monte dos monstros que nos assombram que as crônicas cotidianas de violência. O medo é muito organizado: as pessoas de bem vão numa caixinha, os bandidos ficam noutra. Não há outras caixas. Fosse pelo medo, fechava-se a caixa dos bandidos, tacava-se fogo e voltaríamos a ser felizes pra sempre. A compaixão gosta de nuances, complexidades. Acha massacres uma barbárie, acha desumano o crime perpetrado contra pessoas sob a guarda do Estado.

A compaixão não é de esquerda. O medo não é de direita. Ambos são muito humanos. A direita costuma explorar o medo e tem a compaixão em grande desapreço. A maioria das pessoas que têm medo, contudo, não se importa com a direita. Quer apenas parar de ter medo. O problema é que a urgência do medo faz políticas públicas desumanas. Fazer política de segurança pública para e com pessoas apavoradas tem tudo para dar errado.

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