Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

quase todos os brasileiros, inclusive os cônscios moralistas da violência que amarram adolescentes em postes para linchá-los, se reunirão com suas famílias para celebrar mais uma vez o nascimento desse homem.

            
Luiz Carlos De Oliveira e Silva

JESUS DE NAZARÉ

1. Em larga medida, as religiões que se criaram em nome de Jesus são uma imensa e cruel negação do que pregava, e de como agia, aquele extraordinário homem.

2. Basta um exemplo: Jesus jamais julgou ninguém.

Resultado de imagem para “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”, diz o evangelho de Lucas.


3. E pensar que cristãos e suas religiões não fazem outra coisa que julgar e condenar, julgar e condenar, julgar e condenar...

4. Outro exemplo: Jesus sempre esteve ao lado dos excluídos da sociedade.

5. E no entanto, as igrejas que foram erguidas em seu nome, e muito dos seus seguidores, salvo exceções, estão agora, como estiveram no passado, ao lado dos poderosos e dos opressores, em meio ao luxo e ao dinheiro.

6. Mais um exemplo: Jesus recusou toda e qualquer forma de poder, fazendo da subjetividade do homem e da mulher, o lugar do "reino de Deus".

7. Isto tudo pra ver seus seguidores erguerem verdadeiras máquinas burocráticas e envolverem-se nas mais sórdidas tramas pelo poder.

8. Os diversos cristianismos, ao longo da história, em sua maioria, não foram muito mais do que uma traição àquele que dizem ser o Mestre.

9. Uma das maiores traições de que a história dá testemunho...

10. Mas, a mensagem de Jesus é tão poderosa que continua sobrevivendo às traições. Apesar dos traidores...

(A propósito do Natal, MARCELO FREIXO escreveu o seguinte:

Natal dos covardes

O que diriam os pregadores da intolerância, os obreiros do justiçamento, os apóstolos do olho por olho dente por dente sobre um homem que manifestou seu amor por um ladrão condenado e lhe prometeu o paraíso? Brandiriam o velho sermonário: bandido bom é bandido morto?

Neste sábado, quase todos os brasileiros, inclusive os cônscios moralistas da violência que amarram adolescentes em postes para linchá-los, se reunirão com suas famílias para celebrar mais uma vez o nascimento desse homem.

Sujeito, aliás, que respondeu à provocação: está com pena? Então, leva para casa! Pois, é. Jesus Cristo prometeu levar o ladrão para casa. “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”, diz o evangelho de Lucas.

Jesus optou pelos oprimidos e renegados, pelos miseráveis, leprosos, prostitutas, bandidos. Solidarizou-se com o refugo da sociedade em que viveu, contestou a ordem que os excluiu.

O Cristo bíblico foi um dos primeiros e mais inspiradores defensores dos direitos humanos e morreu por isso. Foi perseguido, supliciado e executado pelo Império Romano para servir de exemplo.

Assim como servem de exemplo os jovens que são espancados e crucificados em postes, na ilusão de que a violência se resolve com violência. Conhecemos a mensagem cristã, mas preferimos a prática romana. Somos os algozes.

Questiono-me sobre o que teria sido dele em nossa Jerusalém de justiceiros. Não sei se sobreviveria. É perigoso defender a tolerância, o amor ao próximo e o perdão quando o ódio é tão banal. Como escreveu Guimarães Rosa: “quando vier, que venha armado”.

Não é difícil imaginar por onde ele andaria. Sem dúvida, não estaria com os fariseus que conclamam a violência e fazem negócios, inclusive políticos, em seu nome.

Caminharia pelos presídios, centros de amnésia da nossa desumanidade, onde entulhamos aqueles que descartamos e queremos esquecer, os leprosos do século 21. Impediria que homossexuais fossem apedrejados, mulheres violentadas e jovens negros linchados em praça pública. Estaria com os favelados, sertanejos, sem tetos e sem terras.

Por ironia, no próximo Natal, aqueles que defendem a redução da maioridade penal, pregam o endurecimento do sistema prisional, sonham com a pena de morte e fingem não ver os crimes praticados pelo Estado contra os pobres receberão um condenado em suas casas.

Diante da mesa farta, espero que as ideias e a história desse homem sirvam, pelo menos, como uma provocação à reflexão. Paulo Freire dizia que amar é um ato de coragem. Deixemos então o ódio para os covardes.
Feliz Natal.)

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