Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

nem precisam perguntar no posto Ipiranga.

Atitude dos EUA de revelar dados contrasta com o sigilo brasileiro

Mario C Carvalho

Sabe aquele matuto do comercial dos postos Ipiranga que sabe de tudo?

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o equivalente ao Ministério da Justiça brasileiro, fez esse papel ao divulgar os acordos da Odebrecht e da Braskem, revelando nesta quarta (21) informações que a Procuradoria Geral da República em Brasília mantinha sob sigilo havia meses por razões formais que talvez já não façam o menor sentido.

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O DoJ, como é chamado nos EUA, deu um show de transparência, objetividade e rapidez, três pilares da Justiça eficiente. Informações consolidadas e claras sobre duas companhias brasileiras, a Odebrecht e a Braskem, foram organizadas de maneira que era desconhecida no Brasil.

Quer saber quanto a Odebrecht pagou em propina no Brasil para políticos e funcionários públicos? Pergunte ao DoJ. Foi o equivalente a R$ 1,9 bilhão, pela cotação atual do dólar, ou US$ 599 milhões, de acordo com um documento que faz parte do acordo da Odebrecht.

Quer saber os valores que a Odebrecht e a Braskem usaram para subornar autoridades? Pergunte ao DoJ.

Foi US$ 1 bilhão, distribuído em 12 países.

Não é o caso de sentir vergonha ou falar de complexo de vira-lata, o sentimento mais comum dos brasileiros quando o que parece ser o máximo de eficiência brasileira torna-se patética ao ser comparada com alguma experiência internacional.

O caso clássico mais recente foi a goleada de 7 a 1 que a Alemanha aplicou na seleção brasileira na Copa de 2014. No futebol, o vexame gerou uma depressão passageira e pouca mudança.

Com a Operação Lava Jato, a situação é distinta. Os procuradores de Curitiba e o juiz federal Sergio Moro enaltecem publicamente as qualidades da Justiça americana, tentam aplicar certos princípios no Brasil, mas a sensação que fica é de que o país está na pré-escola quando se compara com o modo americano de tratar crimes complexos, praticados por corporações do porte da Odebrecht.

E mesmo com a Lava Jato sendo resultado de um acúmulo de experiências que tem pouco mais de uma década e resultou na melhor investigação sobre corrupção política e o modo de fazer negócios públicos já realizada no país.

Moro tem a velocidade e a logística de trabalho similares a um juiz americano.

Os procuradores de Curitiba já fizeram apresentações anedóticas, como a do Power Point sobre o ex-presidente Lula, no que foi um ponto fora da curva.

A resultante geral, porém, é a revelação de uma escala de corrupção que assusta até os maiores especialistas acadêmicos no assunto.

O problema maior talvez seja de qualidade das investigações, de organização das informações e do tom na divulgação das descobertas.

Os americanos são crus e diretos quando obtêm provas ou confissões. Crime é crime, com provas e sem vazamento até o fim da apuração.

Na Lava Jato, muitas suspeitas são superfaturadas, como parece ser o caso do tríplex feito pela OAS cuja propriedade é atribuída a Lula. Já informações bombásticas são tratadas sem contundência, como é o caso do banco que a Odebrecht comprou em Antígua, no Caribe, para pagar propina quando outras instituições já não aceitavam operar com o volume de dinheiro sujo da empresa.

Procuradores podem alegar que as informações sobre a Odebrecht não foram divulgadas porque as delações são sigilosas por não terem sido chanceladas pela Justiça.

É tudo verdade, mas vai parecer bacharelismo mesozóico depois dos documentos divulgados pelos EUA. Até porque os suspeitos citados nas delações sabem que seus nomes estão lá. E nem precisam perguntar no posto Ipiranga.

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