Presente político de Natal
Como 2017 será quente, livros com política são bons presentes. Que bom que Papai Noel está com o saco cheio de ótimos lançamentos:
"O Tribunal da Quinta-feira", de Michel Laub. Companhia das Letras, 183 págs. Feminismo e machismo pontuam o romance. O vazamento de e-mails íntimos do narrador faz com que a política de gêneros se espalhe pela teia digital. A Aids injeta suspense na trama. É com elementos da atualidade, pois, que Laub flagra a atomização de publicitários paulistanos, que continuam descolados e ególatras como os seus antecessores.
"How Will Capitalism End?", de Wolfgang Streeck. Verso, 262 págs. Não é de hoje que as pessoas trabalham para os donos das ferramentas que lhes garantem a subsistência. Os proprietários precisam convencer os sem-posses a batalhar pela riqueza alheia -o que requer artifícios políticos e ideológicos que volta e meia entram em pane, precisando ser substituídos. Com a precarização do trabalho, necessária à acumulação, chegou-se ao colapso: trabalhadores à beira do desemprego, ou já sem função, devem ser também consumidores confiantes. Streeck, sociólogo alemão, rastreia as crises do capital desde 1600, detendo-se na atual configuração. Com erudição assombrosa, escarafuncha uma paisagem explosiva. Armínio Fraga e Delfim Netto estão com seu livro na mesa de trabalho.
"A Forma Bruta dos Protestos", de Eugênio Bucci. Companhia das Letras, 175 págs. A barafunda começou nos tumultos de junho de 2013 e prosseguiu nos passeios dominicais do ano que finda. Professor de comunicação, Bucci analisa a semiótica das ruas. Mostra que, para além da crise da representação política, a política tornou-se espetáculo, representação imediata. O mundo da política oficial não entendeu nada. Mas a moda e a propaganda captaram os novos sentidos nacionais: Gisele Bündchen posou para a Chanel de megafone em punho, mimetizando os protestos.
"De Tudo um Pouco", de Ana Luisa Escorel. Ouro sobre Azul, 217 págs. Como diz o título, o livro reúne anotações esparsas da autora de "Anel de Vidro", algumas delas políticas lato senso. A uni-las está a dissolução do passado no presente -dissolução que deixa um rastro nostálgico e com grande poder de evocação. Como quando a autora observa um baile popular para velhos: "No peito de quem estiver assistindo, começará a surgir um apego insistente por esse ou aquele casal, ficando cada vez mais difícil sair dali para retomar a caminhada, na tarde morna de certa primavera".
"Sept Ans auprès de Leon Trotsky", de Jean van Heijnoort. Maurice Nadeau, 366 págs. A partir de 1932, o trotskista francês foi secretário, tradutor e segurança do revolucionário russo. Tinha 20 anos quando passou a acompanhá-lo pelo exílio, indo da Turquia à França e da Noruega ao México. Faz um retrato próximo de Trotsky -de sua solidão, tragédias e impasses- e mostra como a política pode ser altiva e heroica. Heijnoort, que veio a se tornar um grande matemático, conta o affair de Trotsky com Frida Kahlo, mas oculta que ele também teve um caso com a pintora mexicana.
"Poemas Avulsos", de Francisco Alvim. Vento Norte Cartonero, 50 págs. Herdeiro maior da poesia sintética de Oswald de Andrade, Alvim depura o seu minimalismo de longo alcance. Cacos de papos, captados na rua, viram poesia incisiva. Como em "Obrigação":
Não é questão de gostar
É de ter de ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário