Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Não é questão de gostar É de ter de ser.

Presente político de Natal

Mario Sergio Conti 


Resultado de imagem para "Sept Ans auprès de Leon Trotsky"

Como 2017 será quente, livros com política são bons presentes. Que bom que Papai Noel está com o saco cheio de ótimos lançamentos:

"O Tribunal da Quinta-feira", de Michel Laub. Companhia das Letras, 183 págs. Feminismo e machismo pontuam o romance. O vazamento de e-mails íntimos do narrador faz com que a política de gêneros se espalhe pela teia digital. A Aids injeta suspense na trama. É com elementos da atualidade, pois, que Laub flagra a atomização de publicitários paulistanos, que continuam descolados e ególatras como os seus antecessores.

"How Will Capitalism End?", de Wolfgang Streeck. Verso, 262 págs. Não é de hoje que as pessoas trabalham para os donos das ferramentas que lhes garantem a subsistência. Os proprietários precisam convencer os sem-posses a batalhar pela riqueza alheia -o que requer artifícios políticos e ideológicos que volta e meia entram em pane, precisando ser substituídos. Com a precarização do trabalho, necessária à acumulação, chegou-se ao colapso: trabalhadores à beira do desemprego, ou já sem função, devem ser também consumidores confiantes. Streeck, sociólogo alemão, rastreia as crises do capital desde 1600, detendo-se na atual configuração. Com erudição assombrosa, escarafuncha uma paisagem explosiva. Armínio Fraga e Delfim Netto estão com seu livro na mesa de trabalho.

"A Forma Bruta dos Protestos", de Eugênio Bucci. Companhia das Letras, 175 págs. A barafunda começou nos tumultos de junho de 2013 e prosseguiu nos passeios dominicais do ano que finda. Professor de comunicação, Bucci analisa a semiótica das ruas. Mostra que, para além da crise da representação política, a política tornou-se espetáculo, representação imediata. O mundo da política oficial não entendeu nada. Mas a moda e a propaganda captaram os novos sentidos nacionais: Gisele Bündchen posou para a Chanel de megafone em punho, mimetizando os protestos.

"De Tudo um Pouco", de Ana Luisa Escorel. Ouro sobre Azul, 217 págs. Como diz o título, o livro reúne anotações esparsas da autora de "Anel de Vidro", algumas delas políticas lato senso. A uni-las está a dissolução do passado no presente -dissolução que deixa um rastro nostálgico e com grande poder de evocação. Como quando a autora observa um baile popular para velhos: "No peito de quem estiver assistindo, começará a surgir um apego insistente por esse ou aquele casal, ficando cada vez mais difícil sair dali para retomar a caminhada, na tarde morna de certa primavera".

"Sept Ans auprès de Leon Trotsky", de Jean van Heijnoort. Maurice Nadeau, 366 págs. A partir de 1932, o trotskista francês foi secretário, tradutor e segurança do revolucionário russo. Tinha 20 anos quando passou a acompanhá-lo pelo exílio, indo da Turquia à França e da Noruega ao México. Faz um retrato próximo de Trotsky -de sua solidão, tragédias e impasses- e mostra como a política pode ser altiva e heroica. Heijnoort, que veio a se tornar um grande matemático, conta o affair de Trotsky com Frida Kahlo, mas oculta que ele também teve um caso com a pintora mexicana.

"Poemas Avulsos", de Francisco Alvim. Vento Norte Cartonero, 50 págs. Herdeiro maior da poesia sintética de Oswald de Andrade, Alvim depura o seu minimalismo de longo alcance. Cacos de papos, captados na rua, viram poesia incisiva. Como em "Obrigação":
Não é questão de gostar
É de ter de ser.

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