Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Cicloativismo é questão de sobrevivência.

Você pode se tornar o ser humano que você mais odeia

Gregório Duvivier

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Deixa eu adivinhar: você não odeia ciclistas, mas odeia cicloativistas – que são os ciclistas que odeiam você. "Pra que tanto ódio, meu deus? Não sou um assassino em potencial só porque ando de carro!" Você de vez em quando até anda de bike –no domingo, na ciclovia– e não se sente oprimido pelos carros. "Vamo geral se amar –carro, pedestre, bicicleta. Tem lugar pra todo o mundo!", você diz, como se o mundo fosse uma grande ciranda locomotiva.

Esse momento hipponga tem hora pra acabar: o momento preciso em que você começa a andar de bicicleta pra se locomover, de fato, num dia de semana coincide com o momento em que "acabou o amor". Nesse momento, prevejo, você se tornará –lamento informar– o que você mais teme: um cicloativista.

Importante assinalar: não é gradual. É de repente. Costuma acontecer depois que você sofrer a quinta ou sexta tentativa de homicídio seguida –que costuma acontecer na primeira meia-hora de pedalada. Se você não morrer em nenhuma das tentativas, vai brotar do fundo do seu corpo uma outra versão de você, que berra e sacode os braços cada vez que um jipe te dá uma fechada. Cicloativismo é questão de sobrevivência.

Outro dia, ao me ver no meio dos carros, uma amiga me reconheceu e abriu o vidro: "Você é doido?". Demorei a entender por que ela perguntava isso –não porque faltem razões, mas porque sobram razões, e não entendi a qual das razões ela se referia. "Andar no meio dos carros é perigosíssimo", completou.

Querida amiga, não tive tempo de te responder porque o carro andou, mas andar de bicicleta, de fato, é perigosíssimo –por sua causa. Um motorista que avisa ao ciclista que ele está fazendo algo perigoso é igual a um assaltante que avisa ao pedestre que naquela área tem muito assalto.

Se não fosse você que me avisa do perigo que eu tô correndo, não haveria perigo nenhum –afinal nunca ouvi falar de um ciclista que morreu atropelado por um ciclista. Queria pedir encarecidamente aqui que, caso eu morra numa bicicleta, não concluam que bicicleta é mesmo muito perigoso ou que o Gregorio era um doidão (embora eu seja) –concluam que fui morto por um carro, e que andar de carro é muito perigoso pra quem não está de carro. E, da próxima vez que virem um ciclista berrando e agitando os braços, não pensem nele como um doidão, mas como uma pessoa como você, que não gostaria de ter que berrar pra sobreviver. Um dia, se tudo der certo, ninguém vai precisar ser cicloativista.

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