Marcia Frazão
Tive sorte, muita sorte, por ter um pai cujo intelecto superava a cadeia do raciocínio lógico, e numa época em que a dislexia ainda não tinha esse nome pomposo, e crianças disléxicas eram simplesmente rotuladas como "burras", meu pai desde cedo escolheu a dedo professores particulares que abrissem os portões do meu confuso entendimento. Lembro de minha primeira professora particular de matemática (no primário): Dona Dulce, professora de matemática e piano que ao perceber minha dificuldade em solucionar questões tipo "Pedro tinha 3 maçãs, deu 2 para um amiguinho. Ficou com quantas?", sentou-se no piano e me pediu para fingir que Pedro era o teclado e as maçãs eram sons, e tocou 3 acordes.
A música não era bem uma música, mas a imagem do teclado soou como uma sinfonia. Ela repetiu os acordes por algumas vezes, e depois, na última vez, engoliu 2 e só tocou um. O teclado/Pedro era então 1 só acorde, e daquele dia em diante aprendi que números são acordes que o universo cria em sinfonias...
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