Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Inácio de Sousa Rolim é patrimônio de todos.

Padre Rolim não é patrimônio da Igreja. Nem da família. Nem de Cajazeiras. Inácio de Sousa Rolim é patrimônio de todos.

Frassales Cartaxo

padre rolim colorido


Da Paraíba, do sertão, do Nordeste, do Brasil. Por isso, qualquer cidadão pode falar de sua vida, de sua obra, de seu legado. Ou do menosprezo à memória dele, e até de possível injustiça praticada pela Igreja e pelas autoridades civis, como censurou em agosto deste ano o padre Francivaldo Nascimento, em desabafo-denúncia divulgado pela TV Diário do Sertão. Não sei se tal fala obteve a repercussão que a seriedade do assunto merece ou se as palavras caíram em corrente inútil do vento midiático. Esta semana, revi o vídeo produzido por José Dias Neto e Jocivan Pinheiro e o compartilhei em minha linha do tempo do Face-book, para registro histórico.

O padre Rolim nunca foi estudado com profundidade.

Explico. Não existe análise abrangente das múltiplas dimensões de sua trajetória, com interpretação crítica que resulte na formação de seu perfil completo. Os cajazeirenses nos habituamos a enaltecer suas extraordinárias qualidades de estudioso e educador, esquecendo de acompanhar seus passos em outras direções. Nos acomodamos, achando que a tarefa já fora cumprida. Engano. Deusdedit Leitão, o mais cuidadoso pesquisador de nossa história, deixou contribuição, até hoje inigualável, por meio sobretudo do livro O educador dos sertões: vida e obra do padre Inácio de Sousa Rolim, (1990), no qual ele corrige, inclusive, alguns enganos da biografia pioneira de padre Heliodoro Pires, Padre mestre Inácio Rolim: um trecho da colonização do Norte brasileiro e o padre Inácio Rolim, (1916). Além disso, há inúmeras contribuições esparsas, desde o artigo de Belisário Cartaxo (A Imprensa, 1903) a ensaios, reportagens e notas em revistas e jornais.

É pouco, muito pouco.

Muito pouco para a grandeza de uma das figuras mais expressivas do clero nordestino no século XIX. Falta a obra definitiva, de preferência crítica e menos laudatória, que alcance as profícuas ações do padre Rolim. Existem, é verdade, contribuições relevantes como o ensaio Padre-mestre Inácio de Souza Rolim, um retrato esquecido, do saudoso dominicano, professor da Universidade Federal Fluminense, Francisco Cartaxo Rolim, doutor pela USP, respeitado autor de livros de Sociologia da Religião.

Dom José Gonzalez Alonso teve a iniciativa de encarregar o então vigário de Triunfo, padre José Andrade, de recolher dados para a elaboração de nova biografia do padre mestre. Pelo que sei, Andrade juntou tudo o que lhe chegou às mãos, coletou informações em arquivos de capelas e lugares por onde andou padre Rolim. Enfim, acumulou acervo desconhecido por cronistas, historiadores, memorialistas acerca da ação sacerdotal do filho de Mãe de Aninha. Esses dados demonstrariam que a missão do padre Rolim foi muito além da conhecida dedicação à educação dos sertanejos. Quem sabe, podem abrir clarões para a revisão da biografia do padre Rolim.

A diocese abandonou o projeto?

Não se tem notícia dos resultados do esforço realizado nem da sequência normal à minuciosa tarefa do padre Andrade. É lícito esperar que o novo bispo, dom Francisco de Sales, dê uma chance à história do padre Rolim, retomando a preocupação de seu antecessor na diocese. E impulsione o projeto, dando-lhe apoio e consistência. Afinal, a criação da diocese de Cajazeiras tem muito a ver com a figura e com os frutos duradouros da ação e do prestígio que o padre Rolim projetou na Igreja brasileira e no Nordeste.

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