Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

domingo, 12 de abril de 2015

que fique bem claro: "a todos os cidadãos é reconhecido o direito da manifestação". pronto. o resto é maçante pra carai, entende? leia mais uma análise precisa sobre os eventos de hoje.



SOBRE PROTESTOS E FADIGA

Prof. Wilson Gomes


A Globo News passou o dia fazendo contorções fantásticas para não admitir o óbvio: os protestos minguaram. Ponto. Basta a mais elementar aritmética para demonstrar que se as manifestações de abril mobilizaram apenas 1/4 ou 1/5 dos mobilizados em março, então encolheram. Está bem, é ainda gente à beça e não é pelo fato de os protestos terem encolhido que não há uma mensagem a ser considerada pelo governo. Mas de 1,76 mi para 270 mil é um despencar considerável. Maior que o decantado índice de queda da popularidade da presidente.

A dificuldade dos que têm apreço por protestos de admitir o declínio no número de protestantes talvez tenha a ver com a sua própria crença de que a legitimidade de protestos e de suas pautas crescem na mesma proporção do número de protestantes nas ruas. Uma vetusta ideia da esquerda-que-odeia-o-sistema que virou truísmo tão consolidado que até Merval adota. Naturalmente, este argumento sempre se dá mal quando você pergunta quantas pessoas precisariam estar na rua para terem o direito de tomar um mandato conferido por 53,5 milhões de pessoas nas urnas. 54 milhões? 1,7 mi? 270 mil? Claro que isso só é se passa por argumento para quem acha que a democracia é um sistema em que há mais legitimidade em escolher governos e políticas no grito e na marcha do que nas urnas. Em junho de 2013 muita esquerda passou por esse mural para reivindicar esse direito, em 15 de março de 2015 foi a vez de a direita fazer exatamente mesmo. Não gosto nem de uns de outros, prefiro a democracia.

O fato é que as manifestações de 2013 e os protestos de 2015 não minguaram (até agora, não faço profecias aos domingos) por razões políticas ou porque as agendas perderam sentido e legitimidade. Murcharam por uma razão mais simples (e psicológica): fadiga de indignação. Explico. Quando terminaram os protestos de março eu disse que havia ainda muita margem para crescimento: a indignação social contra o governo era crescente, o antipetismo tinha se tornado uma subcultura política e se os líderes das mobilizações conseguissem isolar os grupos com pautas antidemocráticas (o pessoal do impeachment e a bruta galera da intervenção militar), conseguiriam atrair gente do centro do espectro político e os manifestantes cívicos sem muita noção de política (os "coxinhas"), em geral muito animados com esses happenings. Afinal, a indignação com o governo não é mais uma prerrogativa de antipetistas e viúvas da ditadura, que fique bem claro. Mas havia uma condição para o aumento dos protestos: tinha que ser rápido, porque somente loucos furiosos podem manter por meses a sua raiva no nível adequado para justificar o esforço do protesto. Junho de 2013 fez muito barulho, mas os protestos em larga escala duraram apenas três dias. Dias consecutivos. Em vez de aproveitar o calor da hora e apertar a corda na garganta, os revoltosos marcaram um encontro para um mês depois. Tão inexperientes nesse lance de protestar, coitados.

Já vi protesto de mês inteiro, mas protesto de mês em mês é a coisa mais sem noção. Não é que o mundo político tenha mudado em um mês (mudou quase nada) é que ninguém aguenta ficar indignado um mês inteiro para se motivar para uma manifestação. A não ser para os cachorros doidos do ativismo, a raiva cansa. E a não ser que alguma coisa nova apareça para atiçar as massas ou provocar o ânimo antipetista (o governo é ótimo nisso), se marcarem outro protesto para o mês que vem pode ser que não compareça nem o garoto-enxaqueca que apareceu esta semana num vídeo expelindo perdigotos e bravatas, qual boyzinho bêbado quando expulso da balada.

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