Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 8 de abril de 2015

cultura policial

Eu respeito muito o trabalho policial no Brasil. Não deve ser fácil realizar um trabalho extremamente perigoso, sub-remunerado, com precária infraestrutura e equipamento, cercado de desapreço social e submetido, como não poderia deixar de ser, a intensa vigilância da mídia e das redes sociais. 
Eu sei que muito dos absurdos cotidianos praticados pelos policiais tem forte conexão com a precarização das condições de trabalho e da remuneração (quem paga mal, só pode recrutar quem não tem outra escolha).

Prof. Wilson Gomes



Basta que se compare o trabalho policial civil e militar no Brasil, por contraste com o trabalho policial federal, para que se perceba o contraste. Melhores salários, mais apreço e reconhecimento social, implica em recrutamento de pessoal mais qualificado, no caso da Polícia Federal. Antigamente, crianças queriam ser policiais, é assim no mundo inteiro. Hoje, as vocações policiais (e as temos, acreditem) só têm a PF como destinação se você é classe média, tem algum capital cultural e estudo. A lumpenização das outras polícias, das que vemos todos os dias fazendo barbaridades no vídeo que circula no Facebook ou na gravação apresentada nos telejornais da noite, é um fato inequívoco.
Para completar o quadro desalentador, tem a "cultura policial" (me refiro a mentalidades e valores compartilhados pelos membros das corporações policiais). Quando você vê policiais jocosamente nomeando os seus cassetetes "Direitos Humanos" (ou simplesmente DH, como me explicaram ser prática comum) você entende que naquela subcultura os valores republicanos não são conhecidos nem reconhecidos - o que é assombroso para quem detém o poder de exercer a violência legítima em estados de democracia liberal.

Quando você vê, dia após dia, a brutalidade policial exercida sobre os mais vulneráveis da sociedade, como se uma parte da comunidade política pudesse ser destituída de cidadania a depender do mero arbítrio do armado agente público, mal recrutado, mal treinado, mal-educado, mal formado, mal-amado, malvisto, mal pago. Quando você vê, como no caso de Mano Brown, um ou dois precários policiais decidindo, como se fossem ao mesmo tempo força policial e magistrados lúcidos e de posse de evidências irrefutáveis, que alguém cometeu o subjetivíssimo crime de "desacato" (provavelmente porque não aceitou bovinamente o baculejo e o esculacho da abordagem), então você tem certeza de que há alguma profundamente errada na mentalidade policial brasileira, mas também nos governos civis que permitem que isso continue acontecendo, como se fosse fatalidade ou destino e não o resultado da falta de políticas públicas adequadas.

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