PRECISAMOS FALAR SOBRE CORRUPÇÃO
Prof. Wilson Gomes
Eu tenho uma empresa, a Willbrecht, do ramo de petróleo, gás, construção civil, telecomunicações e distribuição de big-big (só os de tutti-frutti). Obras públicas ou de grandes empresas sob o controle de governos representam um percentual importante do nosso negócio. Mas isso tem um custo, claro. A cada dois anos, um achacador (ou chantagista, mas preferimos chamá-los de "parceiros" quando estão por perto) passa para coletar uma grana pesada para fazer campanhas políticas: 1/3 contabilizado, 2/3 por meio de "esquemas alternativos". Sem falar no fluxo contínuo do período inter-campanhas. Não gostamos de sustentar essa gente, mas como uma mão lava a outra (e quem não molha a mão de ninguém fica fora da festa), o jeito é soltar um dinheirinho. Recentemente, alguém descobriu que se eu não "participar dos esforços de campanha" o Brasil ficará melhor, acho lindo. Se isso fosse me livrar do garrote dos tesoureiros de campanha, faria uma festa, mas tudo o que acontecerá é que o 1/3 clássico e bienal será transferido integralmente para os esquemas alternativos de fluxo contínuo. Afinal, isso não muda em nada do fato de que a minha empresa precisa de acesso às grandes obras do governo e de que funcionários e seus chefões políticos gostem da grana a que eu posso lhes dar acesso. Façam com ela campanhas políticas, se forem idiotas, ou torrem-na com apartamentos em Miami ou no Panamá. Uma mão continuará lavando a outra, e a grana continuará correndo para um lado e para o outro. Fim da anedota.
Enquanto funcionários públicos indicados, o sistema político e os políticos em geral acumularem tanto poder discricionário para controlar a distribuição de acesso aos recursos da fazenda pública ou do orçamento de empresas governamentais, usarão este poder discricionário para trocar o acesso aos recursos por vantagens indevidas para eles mesmos e para os seus grupos e redes. A doação contabilizada e legal de campanhas representa a pontinha do iceberg das relações apimentadas e escusas entre os donos dos capitais privados e os controladores das portas de acesso (gatekeepers) aos dinheiros públicos. Quebra-se a ponta do iceberg e todo o resto continuará submerso, porque o problema não está na ponta, mas na pesada estrutura que a suporta. A questão, portanto, é como impedir relações submersas, tráfico de poder fora do alcance do olhar público e dos órgãos de controle, arcanos, e governos invisíveis. A questão, e é antiga, é como controlar os controladores de acesso, é "quis custodiet ipsos custodes?", quem vai tomar conta dos tomadores de conta.
Colocar o foco sobre o combate à corrupção atacando a doação empresarial a campanhas equivale à estranha decisão de resolver o problema dos icebergs simplesmente eliminando o que dele está na superfície. Não, meus caros, nem mesmo creio que esse "será um bom começo". Será só "distraction & diversion", falsas e enganosas soluções para um problema que está muito mais mais embaixo. Literalmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário