Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

As peladas do nosso tempo tinham outra conotação

NA FAIXA

Eduardo Pereira – dudaleu1@gmail.com



Jogávamos bola – de plástico ou de meia - nas calçadas, e também no meio da rua. Nessa, praticamente não tínhamos problemas com carros. Quando um se aproximava refluíamos nosso pique se afastando para junto do meio fio dando passagem pro automóvel e já discutindo com quem iria ficar a posse da bola depois da interrupção. Os próprios motoristas reduziam a velocidade ou já davam uma buzinada de advertência que queria passagem. Mal o veículo passava, devagar, a gente já retomava a pelada e as vezes algum moleque mais afoito pegava o bigu e saltava rapidamente, só pra fulerar.  Isso acontecia na Rua Pedro Américo e Praça do Espinho, redutos de brincadeiras de nossa turma. Mas poderia ser com qualquer moleque de qualquer de turma de qualquer rua de Cajazeiras.

Pros tempos atuais isso é praticamente impossível. Aliás, retiro o ‘praticamente’ e reafirmo: é impossível. Pros tempos de menino de Marcos Bola Sete, Lavoizier, Reudesman Lopes, Darlan, Carlos Doido, João Robson, Ruberval, Derval, Caramelo, Zé Filho, Ubiratan de Assis, Dirceu Galvão Filho, Puan e mais uma ruma d’Os Meninos da Rua Paulo – clássico do húngaro Ferenc Molnár – o prazer do lazer nas ruas de paralelepípedos é uma lembrança estampada na fotografia preto e branco.

Hoje, os carros abundam nas ruas asfaltadas impulsionados pelas setenta e duas prestações do carnê do progresso fotografado pelo pau de self. Resta criar campanhas para que se obedeça os pedestres nas faixas pintadas no solo de lugares mais movimentados como sinal de civilização, respeito pelos direitos do cidadão. Brasília iniciou esse serviço que se espalhou Brasil a fora e a cada vez que vou a Cajazeiras observo se há comportamento de adesão. Sinto que há.

Pela avaliação de autoridades cajazeirenses, segundo informações da imprensa local, nos últimos quatro anos tem havido avanço na obediência à sinalização, e percebi em minha última ida à cidade, em dezembro último, nitidamente essa adesão principalmente no centro da cidade. Evidentemente que há sempre os beócios que se negam respeitar, e não é só em Cajazeiras não, em Brasília também.

Em Cajazeiras, na faixa que fica em frente a agência do Banco do Brasil, por exemplo, onde há um grande fluxo de pedestres, comprovei na prática. Repito: sempre haverá uma besta diminuta de civilização. Pra isso é necessário que as autoridades, via exigência da população, faça cobrança de fiscalização. Afinal, investimento em campanhas educativas são tão importantes quanto o fechamento de buracos no meio da rua.

Agora a gurizada é empurrada para brincar de bola, se é que ainda se brinca de bola, no pátio do condomínio, na garagem de casa, ou em qualquer lugar, menos no meio da rua como fazíamos.

Era no meio da rua, em nossas peladas, que aprendíamos a xingar, a pronunciar os primeiros nomes feios, ou seja, palavrões, a desrespeitar a mãe de nossos colegas, a praticar a raiva pela derrota, a cometer os primeiros atos brutos: chutes na canela, traulitadas, empurrões, brigas, sopapos. Mas a noite estávamos todos enturmados como se tudo não passasse de uma simples pelada.  

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