segunda-feira, 5 de maio de 2014

Na falta do que fazer, tentam mutilar o que temos de melhor. Vão procurar uma lavagem de roupa.

Escritora muda obra de Machado de Assis para facilitar a leitura

Chico felitti - F. de S.Paulo



"Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis", diz a escritora Patrícia Secco. "Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso." Ela simplifica mesmo: Patrícia lançará em junho uma versão de "O Alienista", obra de Machado lançada em 1882, em que as frases estão mais diretas e palavras são trocadas por sinônimos mais comuns (um "sagacidade" virou "esperteza", por exemplo".

A mudança não fere o estilo do escritor mais celebrado do Brasil, diz Patrícia. "A ideia não é mudar o que ele disse, só tornar mais fácil."

E o plano inicial dela era descomplicar outros clássicos. A ideia nasceu em 2008, com aspirações maiores: "Montei um plano com um título de cada autor clássico para a gente tentar fazer uma versão."

Seu projeto, que também previa versões de "O Cortiço" e de "Memórias de Um Sargento de Milícias", foi liberado pelo Ministério da Cultura para captar dinheiro com lei de incentivo, mas Secco só conseguiu patrocínio para dois títulos: "O Alienista" e "A Pata da Gazela", de José de Alencar, que sai junto.

A equipe que "descomplica" o texto é formada "por um monte de gente", diz a autora, entre eles a própria e dois jornalistas amigos.

A tiragem, de 600 mil exemplares, será distribuídas de graça pelo Instituto Brasil Leitor. O lançamento será em junho, e terá direito a um túnel construído com 60 mil livros no vale do Anhangabaú, centro da cidade.

"É absurdo imaginar que a função da escola seja facilitar qualquer coisa, em vez de levar a trabalhar com as dificuldades da vida, da crítica e do conhecimento", comenta o professor da USP Alcides Villaça. Ele se diz indignado: "Apresentar como sendo de Machado de Assis uma mutilação bisonha de seu texto não devia dar cadeia?".


Outros seis mestres da USP e três da Unicamp foram procurados para dar seu parecer sobre o projeto. Nenhum quis comentar.

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