Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 22 de abril de 2014

Vida de cidade pequena

A vida aqui, meu compadre, é lenta, tão lenta que parece tartaruga com sono. Mas não se apresse em pensar que os moradores daqui desaprovam tal adjetivo, pelo contrário, eles residem porque amam esse estilo de viver. 

por Luiz Carlos Bill  


Aqui, casas não precisam de portas nem tão pouco de janelas. Pelas ruas cumprimentamos a todos. Se faltar o sal para pôr no feijão corro a janela e grito: “Comadre, me preste um punhado de sal”. Nossos dias são simples, mas muito prazerosos. Onde já se viu pegar três, quatro conduções para ir trabalhar? Quando não trabalhamos em casa, labutamos na rua vizinha. 

Para que complicar se podemos viver em paz e sem muitas atribulações. Nas cidades grandes o povo não vive, apenas passa a vida toda procurando por dinheiro. Alguns parentes meus foram a São Paulo, ficaram por lá por cerca de cinco anos, neste espaço de tempo levantei minha casa e comprei um fusca. Outro dia desses fizemos uma receptação para o retorno de um deles. Pobre ser… perdeu cinco anos de sua vida, foi duro e voltou quebrado. De lá trouxe um óculos do tamanho do mundo, um chapéu de aba para as nuvens e várias tatuagens pelo corpo. O pior de tudo foi que ele acomodou na bagagem três pimpolhos. Sobrou para quem? Claro. Sempre ela, a avó. Por essas e outras não me peça para deixar meu cantinho que nasci e que quero morrer.

São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro são longe. Correria para quê? A minha felicidade está aqui junto das pessoas que são iguais a mim mesmo. Quem quiser ir que vá, mas depois não diga que não avisei.

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