Almanaqueiras: ou não queiras.

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sábado, 10 de novembro de 2012

Onde os fracos não têm vez. Porrada!!!


Onde os fracos não têm vez
Revista Alfa

Jovens lutadores testam seu talento no ginásio Baby Barioni, em São Paulo. Cheios de orgulho e garra, eles querem mostrar que o boxe brasileiro tem presente e futuro

Isso aqui é uma antiolimpíada. Não tem jogadora de vôlei de praia de biquíni, papo furado na lanchonete ou qualquer tipo de frescura. Se em Londres há atletas consagrados e cheios de dinheiro, nos torneios amadores de boxe que acontecem toda terça-feira, há 18 anos, no ginásio Baby Barioni, nas entranhas de um complexo esportivo na Água Branca, zona Oeste de São Paulo, estão os mais desprezados esportistas do sistema. São jovens que praticam uma luta que parece decadente, se comparada ao vale-tudo dos cada vez mais ricos e promissores MMA e UFC, e que raramente saem do anonimato ou ganham troféus e medalhas. Seus prêmios, no máximo, são protetores de boca e camisetas estampadas. A imensa maioria só leva mesmo um monte de porrada e a oportunidade de testar suas forças em condições de igualdade com adversários casca-grossa, que mesmo sem técnica podem lhes acertar um murro certeiro no rosto ou um gancho no fígado que os deixe estatelados.
Agora, quem está no jogo, mesmo que não tenha talento para o boxe, é gente cheia de orgulho e garra. Sob o comando do jornalista Newton Campos, um senhor de 87 anos com voz de radialista, as lutas no Baby Barioni ganham respeito e quase se transformam em um evento de gala. Campos põe ordem na casa e garante o bom andamento do espetáculo. Nunca subiu em um ringue para lutar, mas passou 38 anos como editor da Gazeta Esportiva, para a qual cobriu a clássica luta de Muhammad Ali contra George Foreman, em 1974, no Zaire. Ele, que continua atuante no rádio, é também o eterno presidente da Federação Paulista de Boxe, instituição independente que não se alinha com a Confederação Brasileira. A Federação promove sete torneios anuais, sempre no mesmo ginásio, com capacidade para 4 mil pessoas. O lugar costuma parecer grande demais para o público que recebe, apesar da entrada grátis.

Sem nostalgia, charme ou patrocínio, o boxe resiste no Baby Barioni. O principal objetivo de Campos, que mal consegue pagar o aluguel semanal do ginásio (de 1.030 reais) para a Prefeitura, é tirar talentos das sombras – tem sido assim desde que virou incentivador da nobre arte. “Depois das Olimpíadas a situação vai melhorar, e alguns patrocinadores devem voltar a nos apoiar”, acredita. Sua obsessão é a pontualidade. Se os boxeadores se atrasam um minuto seu vozeirão ecoa pelo ginásio pedindo respeito. “Vamos acabar com a bagunça”, pede. As lutas, com três rounds de três minutos cada uma, começam às 18 horas e terminam às 21 horas. Dos 1 200 jovens lutadores que participam das competições anualmente, ele calcula que 100 cheguem ao profissionalismo.

Na Forja dos Campeões, mítico torneio para principiantes que revelou talentos como Eder Jofre, então um promissor peso-mosca, em 1953, e Adilson Maguila Rodrigues, nos anos 1980, jovens boxeadores soltam o braço em busca da fama. É a maior peneira do boxe nacional. O nome, inclusive, foi criação de Campos, que assim batizou o evento depois que Jofre ganhou o título mundial, em 1959. Antes, o torneio mais antigo do país se chamava Campeonato Popular de Boxe Amador da Gazeta Esportiva. Os sete atletas que lutaram em Londres, caso de Robson Conceição, até 60 quilos, e de Everton Lopes, até 64 quilos, passaram pela Forja.



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