Ariano: "Lula não sabia do mensalão"
Por Nonato Guedes

O escritor paraibano Ariano Suassuna, radicado no Recife e imortalizado por obras como "O Auto da Compadecida", manifestou a convicção pessoal de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia de nada do chamado mensalão, o esquema de distribuição de recursos com políticos e partidos aliados do Partido dos Trabalhadores para a aprovação de matérias de interesse do governo no Congresso Nacional. O Supremo Tribunal Federal, que está concluindo o julgamento do processo, emitiu parecer atestando que houve o mensalão, e ainda ontem o ministro Joaquim Barbosa, relator, requisitou à Polícia Federal que tome providências para evitar a fuga do país de réus já condenados. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que vai insistir no pedido de prisão imediata dos condenados assim que o julgamento terminar. "Não há motivo para que não se dê a execução definitiva, imediata, à decisão do Supremo Tribunal Federal", ressaltou ele.

Ariano Suassuna fez o comentário ao participar, anteontem à noite, da abertura da Feira Internacional das Unidades de Polícia Pacificadora, num morro do Rio de Janeiro. Para ele, o julgamento do mensalão tinha que ocorrer, "mas que ninguém vá até a Lula". Suassuna acrescentou: "Getúlio Vargas deu um tiro no peito quando descobriu que estava cercado de corruptos. Fui secretário de Cultura de Miguel Arraes em Pernambuco. Era um ovinho desse tamanho. No final do meu período, descobri que tinha uma mulher, lá, que vendia vale-refeição. Eu fiz o que Lula fez: puni e demiti. Eu também não sabia". Ariano Suassuna comentou o desgaste experimentado atualmente pela classe política, lembrando que muitos parlamentares têm vergonha de dizer que são políticos. "Não sou político, mas a coisa não é bem assim. A política, bem entendida e praticada, é uma das coisas mais importantes". Com 85 anos de idade, esta foi a primeira vez que Ariano pisou em uma favela do Rio. Deu aula espetáculo, tratando de assuntos populares, e ganhou aplausos.
Por sua vez, o ex-ministro José Dirceu, um dos condenados, afirmou no seu "blog" que a decisão do ministro Joaquim Barbosa de apreender os passaportes dos réus da Ação Penal 470 é puro populismo jurídico, além de constituir séria violação aos direitos dos réus ainda não condenados, uma vez que o julgamento não acabou e a sentença não transitou em julgado. Barbosa concedeu medida cautelar pedida pela Procuradoria Geral da República e determinou que os 25 réus condenados na ação entreguem seus passaportes à Justiça. A medida visa a impedir que eles saíam do país. Estão proibidos de se ausentar sem aviso à Justiça os condenados José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcos valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinícius Samarane, João Paulo Cunha, Henrique Pizzolato, Pedro Corrêa, Pedro Henry, João Cláudio Genú, Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg, Valdemar Costa Neto, jacinto lamas, Bispo Rodrigues, Roberto Jefferson, Emerson Palmieri, Romeu Queiroz e José Borga. Dois deles, Rogério Tolentino e Pedro Corrêa já haviam entregues seus passaportes voluntariamente antes da decisão. As condenações são por crimes de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, peculato e gestão fraudulenta.
O advogado José Luis de Oliveira Lima, que representa Dirceu, também se manifestou sobre o assunto. "Decisões judiciais devem ser respeitadas e cumpridas, mas isto não quer dizer que não podem ser contestadas, quer pelo acusado, quer pela defesa técnica. Criticar uma decisão não significa desrespeitar o Poder Judiciário. Vivemos em um país livre, numa democracia onde a liberdade de expressão é a regra e faz parte do Estado Democrático de Direito. O passaporte do meu cliente será entregue". José Dirceu, na nota postada no blog, indaga qual a justificativa para a atitude do ministro Joaquim Barbosa. Diz que há exagero porque todos os réus estão presentes por meio de seus advogados legalmente constituídos, e em nenhum momento obstruíram ou deixaram de atender às exigências legais. Os argumentos do ministro relator, para ele, cerceiam a liberdade de expressão e são uma tentativa de constranger e censurar, como se os réus não pudessem se defender e, mesmo condenados, continuarem a lutar pela revisão de suas sentenças. "É importante ressaltar que nunca me manifestei sobre o mérito dos votos dos ministros ou sobre a legitimidade e o respeito à Corte. Sempre respeitei as decisões do Supremo Tribunal federal, uma vez que lutei pela nossa democracia, mesmo com risco à minha própria vida".
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