Morre Vanderley Caixe, advogado dos Direitos Humanos
Nonato Guedes

poeta que canta,
me encanta,
me espanta.
Fala de flores, dores, amores, cores,
Descobre o sentimento,
revela lamento, faz de tudo um tempo.
Faz presente, faz passado, embota o atrasado.
Mas o canto é mais que isso, é o verso do universo,
das gentes alegres e sofridas, dos trapos desta vida,
Das angústias e da cobiça,
dos bandidos adversos, penetrando em nossos versos,
rasgando a carne humana,
com bombas de Hiroxima, do trovão de Nagasaki.
Do urânio empobrecido,
sobre seres humanos, em crianças,velhos,
mulheres, enfim, em gente como a gente, gente diferente.
É o lucro perverso buscando pelo universo.
E, eu de um gesto, faço aqui,
paralisado em lirismo,
faço meus versos.
Os meios políticos, religiosos, sindicais e sociais da Paraíba lamentaram o falecimento, ontem à tarde, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, do advogado Vanderley Caixe, que atuou em nosso Estado, na condição de presidente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, vinculado à Arquidiocese, em pleno regime militar, durante o período de evangelização pastoral desenvolvido por Dom José Maria Pires. Caixe tinha 68 anos e ultimamente era advogado do Movimento dos Sem Terra na região polarizada por Ribeirão, que fica a 313 quilômetros da capital paulista.
Ele ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores na Paraíba e foi candidato à prefeitura de João Pessoa, nos primórdios da estruturação do PT. Ex-militante das Forças Armadas de Libertação Nacional e preso político na ditadura, Vanderley Caixe despertou restrições dos setores conservadores da Paraíba em virtude da defesa que fazia dos trabalhadores oprimidos, mas sempre contou com o apoio de Dom José Maria Pires para levar à frente o seu trabalho. Ele estava internado há 20 dias após ter caído e fraturado a cabeça do fêmur. Nascido em seis de outubro de 1944, desde os tempos de escola que os movimentos sociais faziam parte da sua vida política.
Foi preso em 1969, saindo em 1974. Cursou a Faculdade de Ciências Econômicas em Ribeirão Preto, presidiu o Centro Acadêmico Visconde Cairu, do qual foi afastado devido ao golpe militar. Em 1975, mudou-se para o Rio de Janeiro, exercendo diversas atividades, tais como assessor jurídico no escritório do professor Sobral Pinto, assessor jurídico e coordenador junto à Pastoral Penal, redator e jornalista do jornal "Tribuna da Imprensa" e colaborador do semanário "Opinião". Transferiu-se para João Pessoa em 1976, quando a convite de Dom José criou o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil, com o objetivo de lutar contra as arbitrariedades da ditadura militar. Em 1980, fundou a Associação Nacional de Advogados dos Trabalhadores Rurais, sendo eleito secretário-geral. Nesse posto, formulou inúmeras denúncias sobre omissões de autoridades brasileiras nas apurações em torno de assassinatos de advogados, recorrendo a Cortes internacionais. Realizou palestras no exterior. Retornou a Ribeirão Preto dezessete anos depois de radicado na Paraíba, ali mantendo um serviço de consultoria e postulação em Direitos Humanos a nível internacional.
Interlocutor do falecido governador da Paraíba, Antônio Mariz, Vanderley Caixe incursionou, também, pela literatura, publicando o livro '19 Poemas da Prisão e um Canto da Terra". Era integrante da Associação Riopretana de Letras. Em agosto de 2000 recebeu o título de Cidadão Paraibano, conferido pela Assembleia Legislativa do Estado, pelos seus relevantes serviços prestados, em especial na área de Direitos Humanos. Entidades sindicais divulgaram notas, hoje, lamentando a morte de Vanderley Caixe e ressaltando o seu compromisso com as reformas sociais. O sepultamento foi programado para ocorrer na cidade de Ribeirão Preto.
Fonte ReporterPB
Nenhum comentário:
Postar um comentário