O Jeep. Esse veículo me faz lembrar várias pessoas de Cajazeiras, que tinham o Jeep como um meio de trabalho (comerciantes o tinham como carro de entrega de mercadorias), de lazer, curtição e paixão por ele.
Aqui em Brasília tenho muitos amigos nordestinos, ouvintes da Rádio Nacional, emissora a qual eu trabalho e um deles, Manoel Geraldo, que era motorista da Prefeitura de Apodi, no Rio Grande do Norte, sua cidade natal, certa vez me confidenciou que conhece Cajazeiras, porque no início da década de 60 ele sempre ia buscar Jeeps em Cajazeiras porque a Prefeitura e/ou amigos dele compravam na Willys Overland do Brasil, hoje Cavalcante & Primo, de Zé Cavalcante.
Portanto, creio que muitas pessoas que moravam no interior do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco, iam até Cajazeiras para comprar Jeeps em Zé Cavalcante.
Os modelos de Jeep que circulavam na época eram o Jeep comum de carroceria pequena; o Jeep bernardão de duas portas e de carroceria longa; o Jeep de quatro portas e de carroceria longa e o Jeep Candango. Este último foi fabricado em homenagem aos trabalhadores da construção civil, que construíram Brasília, e receberam o nome de “Candango”.
Lembro-me como se fosse hoje, em que os Jeeps que Zé Cavalcante vendia naquela época, como não tinha a cegonheira – caminhão que transporta até dez carros pequenos, como tem hoje - ele mandava vários motoristas irem de ônibus na Viação Brasília de Raimundo Ferreira para São Paulo, buscar Jeep, Rural e caminhoneta Picape, para entregar aos clientes. Esses carros, como vinham rodando, chegavam em Cajazeiras sujos de poeira e lama. Chegando em Cajazeiras, Zé Cavalcante mandava esses veículos para o Posto Texaco, que ficava ao lado da Rodoviária Raimundo Ferreira, para serem lavados e polidos.
Seu Moacir, meu vizinho da Rua Pedro Américo, era o responsável pelo lava-ajato. Eu sempre gostava de ir ao lava-ajato ver esses Jeeps sendo lavados e apreciá-los como toda criança gosta de admirar carros novos e limpos.
Tio Raimundo Martins, pai de Osvaldo Martins, dono da Fiat Dical de Cajazeiras, como fazendeiro que era, todos os anos trocava de carro. Ele tinha uma certa preferência pelo Jeep e caminhonete Picape. Ele era paralítico das pernas e mesmo assim dirigia, porque ele mandava colocar adaptações para essa finalidade.
João Nestor, cunhado da minha mãe, era motorista do fazendeiro ‘seu’ Aquino, pai de Maurício e Sonhaca, e sempre que ele ia na minha casa, quando chegava de Monte Horeb, deixava o Jeep estacionado em frente de casa, e nós (a meninada da minha rua), entravamos no Jeep e simulávamos que estávamos indo para São Paulo. Eu ou Toinho, meu irmão, o que chegasse primeiro, assumia o volante e na imaginação dirigia o jeep cheio de passageiros (a meninada). Isso dava uma sensação gostosa ou o prazer de achar que sabia dirigir e viajar para São Paulo, porque naquela época muitos Cajazeirenses, na vida real, tinha o prazer ou a vontade de conhecer São Paulo.
Na minha rua morava ‘seu’ Antônio Guedes, agente fiscal, e ele tinha um Jeep, porém, ele era um motorista meio cangueiro e muitas vezes ele não conseguia frear o Jeep por completo, e o pé de figo que tinha na frente da casa dele era quem parava o Jeep.
A Praça Coração de Jesus (Praça dos Carros), era o ponto de táxi de Cajazeiras e tinha como veículos de aluguel, o Jeep e a Rural. Cito nomes de alguns taxistas da época: Os irmãos Luiz e Januário, Abelinha (Mestre Abelha), Valdizar de ‘seu’ Walmôr da sorveteria, Albertino de seu Zé Eliseu, Raimundinho, entre tantos outros.
Alguns proprietários de Jeep que me lembro: ‘seu’ Waldemar Rolim, ‘seu’ Clarindo Rocha, ‘seu’ Constantino Saraiva, Chico Formiga, que era motorista do Jeep da Saelp, etc.
Na época do Carnaval, o Jeep era a maior curtição em Cajazeiras. Os proprietários tiravam o escapamento e daí saia o ronco barulhento do motor, tiravam a capote, baixava o para-brisa fixando-o em cima do capô e tudo era festa naquele vai e vem dos Jeeps rodando pelas ruas da cidade com muito barulho, principalmente na Avenida Presidente João Pessoa onde se transformava num imenso desfile de Jeeps e seus ocupantes fazendo uma grande festa carnavalesca.
No desfile de 7 de Setembro, os Jeeps se tornavam destaques nos desfile dos colégios, grupos e Tiro de Guerra nas Ruas Juvêncio Carneiro, Padre Rolim e Presidente João Pessoa. Nas passeatas dos comícios na época da eleição, o Jeep se fazia presente nas passeatas, onde seus proprietários e famílias faziam a festa.
O Jeep sempre deu charme no dia-a-dia das ruas e avenidas de cidades do imenso Brasil. Para mim, até hoje, o Jeep tem seu valor pela sua beleza, sua utilidade e acima de tudo pela sua valorização.
Pereira Filho
Brasília
jfilho@ebc.com.br
jfilho@ebc.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário