Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

EU E CAJAZEIRAS DA DÉCADA DE 60

Hoje quero falar sobre alguns aspectos de Cajazeiras, onde eu andava diariamente, e isso me faz lembrar muito da minha cidade na década de 60.
Gostava eu muito da praça que fica nos fundos da Prefeitura (Praça do Congresso). Lá, tinha um parquinho de diversões com balanços, gangorras, escorregadeiras, cadeiras de balanço, etc. Essa praça, por ficar bem próxima ao Colégio Comercial Constantino Vieira, e a Catedral Nossa Senhora da Piedade, se tornava ponto de encontro de casais de namorados e em certos locais da praça não havia poste de iluminação, tornando-se assim uma preferência para aqueles que ficavam na maior ralação. Esses encontros eram realizados sempre antes ou após as aulas do Comercial e também após a Missa das sete horas da noite da Catedral aos domingos.
 Eu também gostava de ir todas às noites para a Rodoviária Raimundo Ferreira, onde ia apreciar a chegada e saída de ônibus interestaduais com destino a várias cidades e ainda passear e paquerar as garotas da Rua Desembargador Bôto.
Quando os circos chegavam em Cajazeiras se instalavam em frente ao Tiro de Guerra, hoje Praça do Xamegão. Algumas vezes eu não tinha dinheiro para assistir ao espetáculo, mas sempre dava um jeito de entrar de graça. Como? Arriscava-me passando por baixo da cerca de arame e alcançava a arquibancada (puleiro), mesmo sabendo que podia ser flagrado e posto para fora do circo.
Uma das maiores atrações que Cajazeiras tinha era quando chegava na cidade os parques de diversões. O Parque Maia, de Campina Grande, era o que mais se fazia presente na cidade e se instalava na entrada da Rua Sousa Assis (Rua do Tênis Clube). Com sua roda gigante, seus cavalinhos, seus carrinhos de bate-bate, com sua roda giratória, balanços que rodavam sempre em forma de rotatória, etc. O som do parque com suas músicas de Altemar Dutra, Adilson Ramos, Aguinaldo Timóteo, Nelson Gonçalves, Alcides Gerard, Orlando Silva, entre outros, se tornava uma das atrações para os jovens que mandavam recados via serviço de auto-falante do parque, tipo: “essa música vai para uma garota que está de saia preta e blusa verde e quem oferece é um grande admirador seu”. Portanto, não se mencionava os nomes nem dele nem dela. Isso fazia com que as meninas ficassem curiosas em saber quem era esse tal admirador dela.
Também tinha as guloseimas que eram apreciadas pelos freqüentadores do parque: rolête, amendoim torrado, tapioca, pipoca do Tinino, caldo de cana com pastel, etc.
Cajazeiras tinha os cinemas Cine Éden, de Carlos Paulino, que era o mais freqüentado por ser o de melhor localização na cidade, na Avenida Presidente João Pessoa; tinha ainda o Cine Pax, que ficava no Prédio das Freiras, na Praça do Espinho; O Cine Cruzeiro, de Eutrópio Cartaxo – pai de Mazin – ficava na Rua Dr. Coelho e o Cine Apólo XI, que era da Paróquia, ficava no prédio da Rádio Alto Piranhas (Rádio do Bispo), na Rua Victor Jurema.
 No Cine Cruzeiro eu já entrei várias vezes sem pagar passando um pitu (entrar sem ser percebido) no porteiro Zé Maleiro, que parecia um lezo (lerdo). Já no Cine Éden isso não dava para fazer, porque tinha como porteiro o mudinho (um senhor baixinho de cabelos brancos), era difícil de passar um pitu nele. Já nos outros cinemas eu nunca tentei entrar sem pagar, porque era difícil mesmo.
 Lembro-me ainda que tinha um programa de auditório, Show de Variedades, que era realizado no Cine Éden, aos domingos pela manhã, e era comandado pelo radialista Jota Gomes (BADIN) e tinha como atrações cantores calouros que disputavam prêmios de consolação, e João de Manezin era uma das atrações como cantor.
Aos domingos pela manhã, em frente a Lanchonete Merendinha de Chicão, na Avenida Presidente João Pessoa, ali se instalavam as cadeiras de engraxar de Zé de Sousa (vascaíno), Ceguin (botafoguense) e Neinha (flamenguista). Era ponto de encontro de bate-papo para desportistas, intelectuais, políticos, enfim, vários assuntos eram debatidos ali, recheados de fofocas sobre a vida alheia dos cajazeirenses. Estes engraxates tinham como ponto fixo de segunda a sábado na entrada do Mercado Público.
 Aos domingos pela manhã era realizado o Campeonato Juvenil no estádio Higino Pires Ferreira, onde participavam equipes como o Vasco de Adelson, que trabalhava na Companhia de Eletricidade de cajazeiras; do São Paulo; do Santos; do Botafogo, entre outros. Eu jogava (ou melhor, eu era reserva do ponta direita) no Vasco. Vários jovens, como Beré, Dudu, Paulo (cara de tabaco) que era irmão de Burão, Mucuin, Galego, Modesto, Wilson, Sales Pereira, entre tantos outros que se revelaram anos depois para equipes que participavam do Campeonato de Cajazeiras, com jogos realizadas aos domingos à tarde.
Meus amigos de copo eram: Dedé Cabôco, Kérson Maniçoba, William Carioca, Nenen de seu Cícero Batista – dono do foto Recife -, Edmar Tebejim, os irmãos Virgilio e Ribamar, que hoje é cantor em Cajazeiras. Nós estudávamos no Colégio Estadual e antes de começar as aulas, todos os dias passávamos no Bar do Paulista, na Rua Santo Antônio, para tomar uma meiota antes da aula e outra meiota quando saía do colégio.
Eu gostava de jogar peladas com os amigos no campinho do Grupo Escolar Dom Moisés Coelho, e tinha um problema que era cruel: o porteiro do grupo, seu Expedito, pai de Kikico, que morava na Rua Tiburtino Cartaxo, encrencava muito com a gente e não deixava-nos jogar lá. Ele às vezes corria atrás de nós com paus e pedras e rasgava a bola.
Lembro-me também aos sábados pela manhã quando a sinuca de Zé Eliseu, na avenida Presidente João Pessoa, ficava lotada de espectadores para assistir partidas de sinuca com a participação de Pedro da Mina e Zé Faustino, de Jatobá. Altas apostas em dinheiro eram realizadas pela dupla. Nisso, alguns espectadores, entre si, apostavam ou em Pedro da Mina ou em Zé Faustino. Sempre começava às nove da manhã e ia até à noite essa disputa. Sinuca mesmo eu jogava pouco e era nas sinucas de Dedé, que ficavam em embaixo do Jovem Clube ou na outra esquina, nas sinucas de Fuampa.
 Minha rua, que era paralela a Praça do Espinho, era meu ponto preferido de encontro com os amigos: Mitim de Seu Zé Cartaxo, Jiquiri de seu Esmerindo Cabrinha, Nena e Jocildo de dona Soledade, Ivan de seu Augustinho, Eudemacir de seu Moacir, Humberto irmão de João Robson, Jansen de seu Zezinho Lacerda, entre outros. Ali nós debatíamos assuntos diversos, principalmente sobre futebol e as meninas.
 Um dos cartões postais de Cajazeiras era as chuvas fortes que caíam na cidade e a ponte do sangradouro se tornava um ponto de encontro para os cajazeirenses onde iam admirar o espetáculo da natureza – a sangria. Nós, a meninada, gostávamos de ficar em baixo da ponte de madeira aonde na enxurrada vinham as piabas misturadas com o pasto do açude. Tinha ainda os pescadores com varas de pescar, as redes, o landuar em suas canoas dentro do açude. A beleza das águas que desciam o sangradouro, que iam alagar o início da Rua dos Ricos e em direção a ponte, que dava acesso ao Colégio Diocesano, era uma riqueza divina.
 Na Praça Nossa de Fátima tinha as retretas da banda de música da Prefeitura, sob a batuta do maestro Esmerindo Cabrinha, nas quermesses da paróquia, com suas barraquinhas, onde se arrematava galinha (João Rodrigues era um dos arrematadores) e nós sem dinheiro ficávamos só gorejando. No máximo chupávamos rolête e comia pipoca de Tinino.
Lembro-me também quando eu escalava a torre da Catedral. Tinha as escadas bem estreitinhas no seu interior, e eu ficava naqueles janelões (não tinha os relógios ainda) apreciando a cidade em 360 graus, onde se via a cidade completa e as adjacências com suas serras verdes.
Também tive o prazer de fazer piquenique na pedra Furna da Onça, no Cristo Redentor, levando cachaça e farofa onde lá de cima ficava admirando minha cidade e ouvindo música através do radinho de pilha sintonizado nas Rádios Alto Piranhas e Difusora, juntamente com minha patota.
Lembro-me de “seu” Serafim, pai de Pateta, Patetinha e Patetão, que vendia cocadas (de leite, goiaba, abacaxi, gergilim) e quando ele passava em frente minha casa, eu falava bem alto: “seu Serafim!”.  Ele me olhava, parava, tirava uma cocada e me dava. Eu agradecia e ele somente sorria.
Lembro-me do meu padrinho Assis Barão, pai de Luluzinha, Toinho bufão, quando eu ia no Banco do Brasil - ele era caixa - sempre me dava umas notas de um cruzeiro bem novinhas, estiradinhas e eu saía feliz da vida.
Registro meus agradecimentos aos queridos mestres do Grupo Dom Moisés Coelho, do Colégio Estadual e da Escola de Artes Industriais, principalmente a Dona Nazaré Lopes (In Memórian) como a melhor professora de todos.
Orgulho-me muito dessa cidade, principalmente quando falo sobre ela e expresso-me sobre sua conjuntura.
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Pereira Filho (Mininim)
Brasília-DF
E-mail: jfilho@ebc.com.br

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