Os venenos mais mortais da história e o motivo pelo qual paramos de usá-los
R7
Quando as pessoas descobriram que podiam matar umas às outras com substâncias mortais em vez de armas, um novo jeito de assassinar surgiu, mas o truque não dura para sempre.
Alguns venenos saíram de moda conforme as pessoas foram descobrindo como eles funcionavam. E o texto abaixo conta um pouco a história de cada um deles
Gregos e romanos: Cicuta e acônito
Comecemos com os clássicos. Na época dos gregos e romanos, a cicuta era um famoso último recurso que foi consumido por pessoas como Sócrates. Os registros de sua morte dão conta de um evento cheio de paz, mas a morte por cicuta é bem agonizante: primeiramente paralisa os músculos e depois o sistema respiratório, matando a pessoa asfixiada.
O acônito vem de uma planta de mesmo nome e fez uma vítima famosa: o imperador Cláudio, que teria sido envenenado pela própria esposa. O veneno causa vômitos e diarreia, e depois causa arritmia cardíaca até a morte.
A cicuta e o acônito foram favoritos entre os gregos e romanos, a ponto de eles não usarem apenas o veneno diretamente, mas também a carne das cotovias, que comiam tanta cicuta que se acreditava que a carne delas era envenenada. Curiosamente, a mesma planta era receitada por médicos para curar machucados, convulsões e espasmos musculares.
Ainda no século XX, os médicos receitavam a planta para tratar resfriados. Com o tempo, os efeitos venenosos foram mais conhecidos e o veneno foi abandonado.
A beladona tem esse nome porque camponesas medievais usavam-na como uma espécie de maquiagem nos olhos, para contrair as pupilas, e nas bochechas, para dar um efeito parecido com o blush. Alguns historiadores dizem que, de fato, foi esse o veneno usado em Cláudio por sua esposa. Outros dizem que Macbeth usou o veneno contra um exército inteiro.
A planta também tinha propriedades alucinógenas. De fato, um dos seus usos mais populares foi pelas bruxas que faziam poções para terem a alucinação de estarem voando. Uma quantidade excessiva (leia-se: uma folha) era o suficiente para a pessoa ter náuseas, alucinações e pulsação rápida.
O envenenamento por mandrágora ocorria em todo lugar, especialmente nos habitats da planta, ou seja, Espanha e Portugal, onde ela fornece frutos comestíveis, mas ainda mantém propriedades venenosas em suas raízes, tão fortes que nem era necessário comê-las para se envenenar. Apenas o contato com a pele bastava para afetar severamente o fígado e os rins, o que faz dela um veneno mais lento, mas muito eficaz e prático.
Assim como a cicuta e o acônito, essas plantas foram usadas por certas pessoas em uma determinada época, e hoje elas caíram em desuso, pois suas propriedades já são conhecidas e é difícil manter as plantas em casa sem chamar a atenção, especialmente um arbusto de beladona, com alguns metros de altura.
Senhoras e senhores da indústria: Estricnina, cianeto e arsênico
Comecemos pelo mais comum: o cianeto está em todo lugar. Incluindo na sua comida, nas substâncias químicas à nossa volta. Além de comum, ele é de uso antigo, mas só em 1782 foram descobertas suas propriedades venenosas, quando um químico sueco chamado Scheele destilou cianeto de hidrogênio.
Primeiramente, o composto era usado em tintas azuis, mas quando os exércitos descobriram que ele matava pessoas de modo rápido e indolor, ele começou a ser usado como arma. Espiões sempre levavam consigo uma cápsula do veneno para tomá-lo caso fossem descobertos. Ele deixa a pessoa desacordada e, depois, provoca convulsões e a inabilidade de absorver oxigênio, o que provoca a morte.
Como todos os venenos abordados aqui, este também começou a ser conhecido mais profundamente, mas ainda está em uso, especialmente por psicopatas ou assassinos inescrupulosos.
A estricnina levou um tempo para se tornar popular no Ocidente, chegando à Europa só no fim do século XVIII, mas já era usada (também como remédio) na China e na Índia por séculos.
Este composto levou ainda mais tempo para ser destilado e isolado, e quando isso foi feito, ela se tornou um veneno muito popular para pássaros no interior e ratos na cidade. Mas isso tornou o composto muito acessível a quem quisesse envenenar humanos. E o criminoso teria que ser muito cruel de escolher a substância, conhecendo seus efeitos.
Ela causa espasmos musculares incontroláveis, a boca espuma, e a morte só vem quando os músculos ficam tão tensos e erráticos que a respiração torna-se inviável.
O primeiro caso na Inglaterra foi o do médico William Palmer, que matou seus associados de jogos de azar. O próximo foi Thomas Neil Cream, que envenenou várias prostitutas. O veneno ficou famoso no primeiro suspense de Agatha Christie envolvendo um assassinato, The Mysterious Affair at Styles (traduzido no Brasil como O Misterioso Caso de Styles).
Mas os efeitos do veneno eram tão rápidos e dramáticos que o assassino dificilmente sairia impune do crime. As empresas que atualmente fazem venenos para animais colocam componentes que tingem ou dão sabor ao composto para que a estricnina não seja consumida.
O arsênico é, talvez, o mais famoso e mais usado dos venenos. Ele já era possivelmente conhecido na época dos romanos, foi chamado de Rei dos Venenos, e foi o favorito dos Bórgias.
Mas foi só na era vitoriana que ele começou a ficar realmente famoso, e se tornou conhecido como “veneno de senhoritas”, pois era usado pelas moças da época para fazer o efeito contrário da beladona em camponesas medievais: elas usavam o arsênico para ganhar uma face branca/pálida. Pequenas quantidades, contudo, eram o suficiente para matar um homem, e de fato, mataram. Muito.
O caso mais famoso de envenenamento por arsênico veio em 1857 e envolveu Madeleine Smith, que envenenou seu namorado por ele ser um chantagista caçador de fortunas.
Quando ele ameaçou mostrar as cartas de amor recebidas dela para o pai de Madeleine, ela fez a “gentileza” de convidá-lo para um chocolate na sacada de sua janela. O namorado adoeceu, mas logo estava bom e retornou na noite seguinte para mais um pouco de chocolate. Aí, ele não resistiu mais. Foram encontrados 17 grãos de arsênico no estômago dele, e uma carta de Madeleine pedindo que ele a encontrasse. Ela foi inocentada, mas seu filme ficou tão queimado na região que ela trocou de nome e foi para os EUA.
O julgamento de Madeleine e o fato de que a ciência já estava avançada o suficiente para obter provas estomacais, marcou o fim de uma era. O arsênico durou muito porque era invisível antes e depois de ser usado. Os seus efeitos – suor, confusão, câimbras musculares e dor de estômago – poderiam ser classificados como uma intoxicação alimentar, mas isso acabou. E como a notícia do julgamento de Madeleine se espalhou rapidamente, o seu uso diminuiu bastante, pelo menos de acordo com os registros oficiais.
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