POR SER, SEMPRE
Foto de Renata Stoduto
Quando criança, eu me aproximava do abajur para me enxergar adulto.
Colava o rosto ao sol minúsculo do quarto.
Agora me aproximo do abajur para recuperar a coragem medrosa da minha infância. Quando o medo não me impedia de ir. Aquela consciência de estar a caminho. O encantamento das coisas por acontecer. Acordar de dia como se fosse de noite. Nada era impossível. Não havia mortos para enterrar, religião para se esconder, lugares proibidos. Podia escolher a profissão, sem medo de descartar as outras. Ser motivo de brincadeira sem me ofender. Contar histórias sem me preocupar com o estilo. Era tudo por ser. Não usava marcador de página.
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