Abelardo Jurema Filho fala sobre a comovente missão de resgatar o diploma que a "ditadura" subtraiu de seu pai.

O Resgate

Abelardo Jurema Filho

Quando foi preso, por oficiais do Exército no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, no em abril de 1964 , logo após a confirmação de que o Governo João Goulart havia sido deposto pelas forças militares, o seu ministro da Justiça, Abelardo Jurema, tencionava chegar a Brasília para reassumir a sua cadeira na Câmara Federal. “Sabia que não era mais Ministro, mas acreditava que ninguém me poderia tirar o mandato que a Paraíba me outorgou”, raciocinara. 

Ledo engano. Após se apresentar espontaneamente aos soldados que o procuravam com um mandado de prisão, ele foi conduzido ao quartel general do Exército, na Urca, e mais tarde, asilado na embaixada do Perú, de onde partiria para prolongado exílio em Lima. Ele conta esse episódio, com todos os detalhes, nas páginas do seu livro Sexta-feira 13 – Os Últimos Dias do Governo Goulart, lançado pela editora O Cruzeiro e que ainda hoje é uma referencia histórica que pode ser encontrado em alguns sebos culturais. 

Esta semana recebi um comunicado oficial da Câmara dos Deputados informando a realização de uma sessão especial, no próximo dia 6 de dezembro, quanto serão restituídos, simbolicamente, os mandatos de todos os parlamentares cassados pelo Regime Militar, que alterou o curso da política brasileira, deixando muitos órfãos de pais vivos e transformando a vida de muitas famílias.

- “ A solenidade será realizada no próprio Plenário da Câmara dos Deputados e, no grande telão, estará expresso o nome de cada um dos parlamentares. O familiar que se fizer representar receberá o diploma em nome daquele que já não se encontra entre nós” explica o comunicado, expedido pelo Cerimonial da Câmara Federal. 

Passados 48 anos, o Brasil preenche as lacunas de sua história resultantes da censura e do esquecimento. Vivemos momento de resgate da verdade sobre fatos relevantes da vida nacional. É preciso reconhecer o que se passou, identificar os reflexos na atualidade, para que desse panorama sejam extraídas lições para o futuro.

Quinta-feira estarei lá cumprindo a mais comovente missão que o destino me reservou. Cheio de emoção e orgulho, vou buscar de volta o diploma do meu pai, que lhe foi dado pelos paraibanos, consciente de que a história ninguém cassa.