Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

a proposta e o significado do livro, com um viés para-didático, equivaleu a um salário moral...



Ipojuca e o salário moral

Nonato Guedes

Nonato Guedes




Faltava-me conhecer a opinião de Ipojuca Pontes sobre o meu livro “A Fala do Poder”, que lhe mandei, via Sedex, já há algum tempo. Escritor, homem de teatro, ex-ministro da Cultura e irmão do saudoso Paulo Pontes, Ipojuca é polemista por excelência. Faz parte do seu estilo, da sua personalidade irrequieta e atenta. Certa feita tive com ele um embate memorável na casa de Severino Ramos que se estendeu horas a fio de uma tarde de sábado, em que um verdadeiro caleidoscópio de assuntos veio à tona. As divergências que esboçamos nessa tertúlia paralisaram, de certo modo, qualquer intervenção do anfitrião ilustre e de outros convivas que gastavam conversa. Estreitou-se, a partir daí, a relação de amizade. E, mais do que isto, a admiração que, à distância – ele no Rio de Janeiro, eu já nutria pelos seus escritos, de um preciosismo irretocável, concorde-se ou não com o que ele opine.

Fui reencontrá-lo ontem à noite, na festa do Prêmio AETC de Jornalismo, o ‘Oscar” da imprensa paraibana, que teve como mestre de cerimônias o sempre correto Mário Tourinho, um apaixonado pelo talento e pelas coisas boas da vida. Ipojuca, é claro, veio render merecidas homenagens ao patrono do Prêmio versão 2012, Martinho Moreira Franco. Trocamos impressões fortuitas sobre “A Fala do Poder”. E Ipojuca, que decerto não faltará, depois, com a análise crítica mais acurada, gostou da obra. Segundo ele, pelo pioneirismo que encarna, reconstituindo não só os discursos de posse de governadores num arco temporal de 46 anos como incluindo apreciação jornalística, como me convém, sobre traços distintos dos perfilados e avaliações dos mandatos que enfeixaram. Além do pioneirismo, Ipojuca realçou a contribuição para o resgate histórico, fazendo a ressalva de que este autor poderia ter feito conexões com as conjunturas em âmbito nacional vivenciadas por cada governante enfocado. No geral, se disse satisfeito com a iniciativa que tive e que me custou pesquisas, checagem de informações, coleta de depoimentos e subsídios para que, enfim, “A Fala do Poder” viesse à tona.

Ponderei-lhe que a obra é pioneira apenas na Paraíba, já que em escala nacional a professora Edilene Gasparini Fernandes lançou “A palavra do presidente”, fruto de dissertação de Mestrado e enfocando desde o governo Castello Branco, o primeiro do regime militar, à ascensão festejada do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Avancei um pouquinho em relação ao trabalho de Edilene porque incluí, nesse arco temporal, o discurso do governador atual, Ricardo Coutinho, enquanto a professora da Unesp não teve tempo de adicionar a vitória da primeira mulher, Dilma Rousseff, à presidência da República, e o conseqüente enunciado de intenções que ela proferiu no momento da investidura, sob a aura da faixa verde e amarela. Ipojuca, que não leu “A palavra do presidente”, imagina que os enfoques são distintos, o que é verdade. O livro de Edilene é estruturado em cima da teoria acadêmica. Mas, para Ipojuca, isto não desmerece nem de longe a significação que o trabalho que empreendi tem no contexto da historiografia brasileira, ainda que focando um Estado pequeno como a Paraíba.

Como falei, Ipojuca foi elegante o bastante para não discorrer sobre as falhas contidas no meu livro. Ou quis deixar no ar o mote para um novo embate, em lugar a ser definido, aproveitando a sua permanência em João Pessoa, que ainda se estende até o fim de semana, presumivelmente. A referência que ele me fez, pessoalmente, sobre a proposta e o significado do livro, com um viés para-didático, equivaleu a um salário moral, expressão que meu querido Abelardo Jurema Filho costuma repetir, referindo-se a manifestações de reconhecimento por certas atividades que desenvolvemos. (Abelardinho, aliás, falou-me, na festa da AETC, da emoção na homenagem ao seu pai, o ex-ministro da Justiça de Jango, feita pelo Congresso, tema que posso voltar a comentar depois). A opinião de Ipojuca foi o prêmio que recebi num concurso em que não estava inscrito. Mas o que vai me interessar, mesmo, é a avaliação crítica mais acurada, que ele faz com perícia e passionalismo, características que me fascinam na sua moldura intelectual. Quero partilhar esse momento com os colegas que receberam merecida homenagem na festa que a imprensa paraibana espera ansiosamente a cada ano, e que a cada ano triplica em quorum e atrações.

Fonte - ReporterPB

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