SAIA JUSTA: Um paraibano contra a Paraíba
Nonato Guedes
Nascido em João Pessoa no dia oito de dezembro de 1969, o senador Luiz Lindbergh Farias Filho (Lindbergh Farias) vê-se na contingência de defender os interesses da população do Rio de Janeiro, ainda que certas posições venham a prejudicar o Estado da Paraíba. Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, à frente da qual liderou o movimento dos caras-pintadas em 1992 que levou ao impeachment do então presidente da República Fernando Collor de Mello, com quem hoje divide espaço no Congresso, o senador pelo PT não se mostra constrangido diante da saia justa em que é colocado.
Ele tem sido um dos expoentes da concentração de recursos oriundos de royalties do petróleo em Estados produtores como o Rio, Espírito Santo e São Paulo, ignorando as reclamações de políticos paraibanos sobre a discriminação enfrentada pelo Estado na partilha do bolo tributário nacional. Chegou a se atritar, no Senado, com o peemedebista Vital do Rêgo, autor do substitutivo aprovado pela Câmara e agora vetado pela presidente Dilma Rousseff, prevendo a partilha dos royalties entre Estados produtores e não produtores da riqueza, e já avisou que está pronto para novos embates parlamentares ocasionados pelo veto presidencial.
Recentemente, Lindbergh teve pré-lançada sua candidatura ao governo do Estado do Rio em 2014, num evento na sede do Sindicato dos Petroleiros, no Centro, em meio a ataques ao Supremo Tribunal Federal por haver condenado integrantes da cúpula do PT no julgamento do processo do mensalão. Cerca de 200 petistas participaram da reunião que aprovou a resolução em apoio à pré-candidatura de Farias, entre os quais deputados estaduais, federais e candidatos petistas a prefeito e vereador nas eleições municipais deste ano. No discurso pronunciado, Farias afirmou ter a esperança de ver o PMDB do governador Sérgio Cabral ao seu lado no palanque em 2014, mas, pressentindo que isto será impraticável, já que Cabral tem candidato próprio, anunciou já ter costurado apoio com o PSB do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e estar buscando aproximação com o PDT, PCdoB e PV.
Dos 92 municípios, o PMDB venceu em 25 no Estado do Rio. Já o PT elegeu 11 prefeitos. O PR, liderado pelo ex-governador Anthony Garotinho, elegeu oito prefeitos, mesmo número do PSB. Lindbergh informou que estava mantendo conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a candidatura própria. Na manifestação, o deputado federal Luiz Sérgio disse que o Supremo não é dono da verdade e errou todas as vezes em que se deixou levar por pressões externas. O vice-governador Luiz Fernando Pezão é o candidato de Cabral à sua sucessão, e o governador afirmou que seria importante Lindbergh Farias apoiá-lo em 2014.
Ex-prefeito de Nova Iguaçu, uma das principais cidades da Baixada Fluminense, eleito em 2004 e reeleito em 2008, Lindbergh Farias candidatou-se ao Senado em 2010 e ficou em primeiro lugar, sendo seguido por Marcelo Crivella. Ele também foi deputado federal, eleito pelo Partido Comunista do Brasil. Em 1996, foi presidente nacional da União da Juventude Socialista. Aderiu ao trotskismo em 97 e ingressou no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). Na Câmara dos Deputados, pautou seu primeiro mandato pela oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo destaque nas manifestações contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce e do Sistema Telebrás. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 2001 para apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente da República.
É natural que, sendo radicado no Rio e desenvolvendo, no Estado, militância política, Lindbergh Farias defenda interesses dos fluminenses nos mandatos que exerce. Essa posição sempre foi respeitada na Paraíba. As críticas ao jovem senador decorrem do fato de ele se indispor assumidamente contra a Paraíba, onde nasceu, como se estivesse praticando um ato de retaliação. A deputada federal Luíza Erundina, que foi prefeita de São Paulo pelo PT e hoje é deputada federal pelo PSB, nasceu na cidade de Uiraúna, no sertão paraibano. Na Câmara, defende os interesses da população paulista, mas evita confrontar-se com posições dos representantes eleitos pela Paraíba para aquela Casa. Nas vezes em que vem a João Pessoa, Erundina invariavelmente se reúne com o governador Ricardo Coutinho, filiado também ao PSB mas egresso do PT, e discutem temas comuns sobre a necessidade de equilíbrio federativo. No geral, Luíza Erundina defende temas como a reforma política e a democratização dos meios de comunicação.
A atitude beligerante de Lindbergh destoa do comportamento adotado pelo empresário Ney Suassuna quando foi senador pela Paraíba. Radicado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Suassuna empenhou-se ativamente em defesa de reivindicações do seu Estado de origem, sobretudo quando presidiu Comissões importantes no Congresso. Mas, sempre que possível, encampou reivindicações da bancada do Rio de Janeiro, a ponto de ser classificado como o "quarto senador" fluminense. Ney operava uma estratégia que não entrava em choque com o interesse maior da Paraíba, onde tem domicílio eleitoral, mas ganhou admiração no Rio exatamente pela postura equilibrada e cooperativa que demonstrou, o oposto de Lindbergh em relação à Paraíba, onde seu Ibope é um dos piores junto a segmentos da sociedade.
fonte ReporterPB
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