O ministro e o condenado

No multifacetado universo dos fenômenos humanos, quão tipos aberrantes desfilam pelas esquinas da vida. Eis alguns deles na enorme galeria das sucessivas gerações: assaltantes dos cofres públicos, cretinos de todos os naipes e muitos outros.
E neste anfiteatro duas individualidades se sobrelevam: O torturador e o traidor. Um deles, monstro do sadismo, que nos gritos dos prisioneiros contorce em espasmos orgásmicos a sua deformidade moral. O outro espécime como personificá-lo? Cínico, cortejando sempre o poder, numa desenvolta erudição de almanaque,a se proclamar um moralista sem moral. Faz-se hipocritamente defensor das justas causas e acérrimo lidador contra as injustiças sociais. Algumas vezes, simula enfrentar poderosos latifundiários. E, neste malabarismo, transveste-se em defensor dos sem terra, a derramar arroubos na sua oratória de tartufo. Dizem eles:“A propriedade rural exerce função social, como determina a Constituição Federal”.
Que camaleônico prestidigitador!
Salta-nos a sensação de que carregam a genética dos fariseus. Saltimbancos de todas as ocasiões. Na ditadura militar,agachavam-se como vivandeiras dos quartéis. Hoje, empunham o bastão de imparcial magistrado. No carrilhão da vida receberão,decerto, o coice do desprezo.
Lá estão eles, os Fouchée tantos outros desta extirpe. Neste tão desencontrado Brasil estão por aí a se contradizer, e nesta seara ergue-se Edson Fachin, ungido ministro da Suprema Corte do Brasil, retrata bem como se golpeia a justiça. Este fato testemunha o cenário inquietante a que arrastou o país uma elite burra, egoísta e bolsonariana.
Os magistrados do TRF-4, de Porto Alegre, tão ávidos em condenar o ex-presidente Lula, dificultam a tramitação do recurso de apelação do nordestino de Caetés ao STJ. Em sua defesa, dezenas de postulações dirigidas a esta justiça de Caifás foram negadas.
Tolhido nos seus direitos, e réu num processo ardilosamente armado, o recorrente apelou ao STF, cujos autos foram distribuídos à 2° turma, da qual é relator Edson Fachin, personagem a se corroer e a se apequenar num ódio bestial contra aquele que o elevou ao proscênio da mais alta corte da nação; e nesta escalada atropela a todo instante o Direito e a vida dos direitos num agressivo despreparo. Eis alguns desses atropelos: “A justiça não tem ideologia”. Ora, ministro, justiça é uma fenomenologia e não uma entidade. Este outro: Ele concede busca e apreensão no apartamento da senadora Gleisi Hoffmann. Ministro, o domicílio da pessoa integra as suas prerrogativas de função. Disse ele à imprensa: “O apartamento é parte distinta da função”.
Por estes desencontros como decidiu este julgador? Matérias envolvendo réus em situações jurídicas idênticas às do ex-presidente,eleas admitiu e decidiu. Norteou-se numa clara e deslavada parcialidade,encaminhando este recurso ao pleno do STF.E nesta surrealista justiça em quem este togado se encarna? Em Iago, personagem da obra shakespeariana, que no joguetear da intriga leva o seu benfeitor à morte. Projetando-se este cenário para o momento em que vive o país, este magistrado aprisiona e impede a candidatura do ex-presidente Lula à chefia da nação.Na obra “A divina comédia”, Dante arrasta às profundezas do inferno os tipos humanos que se macularam com a ingratidão e a traição.
Paremos um pouco. Olhemos este Brasil de hoje. A cultura do cinismo pulula nos poderes e nas instituições num festival de insensatez, embalado num espetáculo midiático.
O que sobressalta as consciências livres? É a perda da capacidade de indignação da sociedade que se queda dominada por um poderoso cartel televisivo, manobrado por grupos econômicos e políticos. Analisemos: Qual o canal de televisão abre debate crítico acerca de procedimentos e atitudes de um Edson Fachin, Sérgio Moro, Roberto Barroso e tanto outros? Desconhecemos. Assiste-se quase diuturnamente ao bombardeio constante de mentiras e falsas notícias contra aqueles que não são sequazes das suas ideologias e dos seus interesses.
Reitero este brado, que a minha revolta não me deixa calar. A que calvário arrastam o ex-presidente Lula, num processo de aberrante justiça! A história condenará, decerto, esta ignomínia.
Abra-se Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e aponte-se à nação os meandros da Lava Jato, a partir de delações arrancadas sob torturas psicológicas,segundo declaração do ministro e criminalista Raúl Zaffaroni.
Oh, magistrado! Julgue com imparcialidade. Tenha a grandeza de se considerar suspeito em processo que envolva matéria do seu benfeitor e se abstenha de julgar. Assim se engrandece a justiça e o julgador.
Agassiz Almeida, escritor, ativista dos direitos humanos, ex-deputado federal constituinte, promotor de justiça aposentado, professor da UFPB e autor dos livros: “500 anos do povo brasileiro” (Ed. Paz e Terra), “A república das elites” (Ed. Bertrand Brasil), “A ditadura dos generais” (Ed. Bertrand Brasil), “O fenômeno humano” (Ed. Contexto). Em pesquisa o livro: “Por que o Brasil ainda não deu certo”.
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