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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

henrique 'merreca'.

O presidenciável Meirelles e o salário, ó 

Vinicius Torres Freire

Meirelles diz que governo quer encaminhar lei das falências ao Congresso até semana que vem

Um salário mínimo vale mais do que no ano passado, tuitou Henrique Meirelles nesta terça-feira. O ministro da Fazenda escreveu que o mínimo compra mais cesta básica do que em 2017, entre outros pios de campanha eleitoral.

É verdade. Mais do que isso: o valor real do mínimo nos últimos 12 meses é o mais alto desde o Plano Real, de 1994.
Os mais pobres são, no entanto, os brasileiros mais insatisfeitos com a situação econômica e os mais pessimistas com o futuro, indica o Datafolha da semana passada. Mais pobres, neste caso, são os entrevistados que declaram renda familiar inferior a dois salários mínimos.

De onde vem a dor? Do medo de ficar sem trabalho ou do desemprego, de parentes e amigos que foram para a rua. Do receio de que o tumulto da política provoque piora na economia, um clássico nas pesquisas de opinião.

Parece esquisito dizer que o mínimo está no valor mais alto desde o Real (trata-se aqui do valor real do salário mínimo nos últimos doze meses. Em suma, do salário anual). Mas é um fato, não muito difícil de compreender.

O valor do mínimo é reajustado anualmente pela taxa de inflação (INPC) do ano anterior (além da taxa de crescimento da economia dois anos antes, quando o PIB cresce). Em 2017, o reajuste foi de 6,5%. Mas a inflação nos últimos 12 meses caiu rápido e anda pela casa de 1,7%. A alta de preços come cada vez menos o valor do salário mensal. Ou dos benefícios previdenciários e assistenciais (mais de 22 milhões de pessoas recebem benefícios que valem um mínimo).

A variação do valor do salário mínimo já foi maior em outros tempos, claro. No último ano, foi de 4,7%, em termos reais (isto é, além da inflação). Nos anos de Dilma Rousseff, chegou a 9%, reflexo ainda Pibão de 2010; de 2013 em diante, o aumento do mínimo foi ladeira abaixo, tendendo a zero. Nos anos Lula, houve alta de 13%, em 2006-07, tempo de crescimento bom e inflação em baixa.

Mas a baixa da inflação ainda não faz coceira no humor popular.

O desemprego quase dobrou em relação ao final dos anos Dilma. O salário médio voltou a crescer um tico desde meados deste 2017, mas a média do rendimento de quem trabalha sem carteira assinada ou por conta própria cai ainda em relação ao ano passado.

Para 60% daqueles que ganham até dois salários, a inflação vai aumentar (38%, no caso de rendas maiores que dez salários mínimos). Na média do país, a expectativa de alta da inflação na prática não mudou desde que Michel Temer assumiu (vai aumentar, para 56%). Isto não é bem medida de estimativa dos preços, mas de medo derivado de ambiente político tumultuado, de choques, de repulsas genéricas, sugere a análise de duas décadas de pesquisas Datafolha.

Para 53% dos mais pobres, a situação econômica pessoal piorou nos últimos meses (e para 27% daqueles com renda superior a dez mínimos). Quanto ao futuro, o pessimismo é menor e parecido entre ricos e pobres. O que no entanto não melhora a avaliação do governo.

Até agora, as microscópicas melhoras na economia e a resistência do valor do salário mínimo nem triscam no desprestígio quase absoluto de Temer. A avaliação dos presidenciáveis em geral não é muito melhor. A raiva política persiste.

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