terça-feira, 26 de setembro de 2017

...e a saudade dele tá doendo em mim.

NAQUELA MESA

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Começou quando éramos crianças nos campos de várzeas de Cajazeiras-PB; pelas ruas de paralelepípedos em brincadeiras e travessuras tantas; nos colégios por onde enfrentamos cadernos, livros escolares e meninas em namoricos...

A amizade em uma cidade de interior é um constante esbarrar em laços de confraternizações que vão do uivo de um gol no campinho batido de terra aos tim-tins de copos nos bares diversos: do Ionas - raramente - na Praça João Pessoa ao de Fuba – frequentemente - na rua Coronel Justino Bezerra.

O sufocamento da cidade escassa de opções para trabalho e estudo nos idos setenta empurrou várias gerações de jovens cajazeirenses para outras praças Brasil a fora. E, por destino da natureza quis ela que eu e meu amigo nos encontrássemos em Brasília. 

Então foi correr pro abraço e dar continuidade ao engajamento de nossas peripécias de “colegas de copo e de cruz” (aspas para Chico Buarque em Minha História) agora já distante das ruas sinuosas de Cajazeiras e usufruindo do espanto mundial diante do planejamento arrojado de Lúcio Costa e a monumentalidade de Oscar Niemeyer. 

Se buscarmos na internet frases sobre amizade virão milhares e basta uma para expressar nossos sentimentos. Então, vamos pegar essa de Abraham Lincoln que diz: “a melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades”. E isso meu amigo soube cultivar.

Quis o destino, ou outro nome que se queira dar as fatalidades da vida, que cedo o fundador do universo o chamasse lá pra cima. Anteontem completou um ano que ele não compartilha as substâncias cotidianas da vida aqui em baixo. 

Sérgio Bittencourt, autor da música Naquela Mesa, e principalmente na voz do memorável Nelson Gonçalves, expressa a saudade em seu vasto círculo de amigos. “Naquela mesa está faltando ele”, diz a letra. Há uma cadeira vazia no bar lotado. Ou, ele está lotado em todos os seus amigos até num bar semivazio.

Sei que há os que pensam – mesmo de forma imperceptível - que esse texto pode induzir que éramos visitadores contumazes de bares. Não. A bebida aqui expressa a simbologia de celebração da vida para os que acreditam assim. Os abstêmios que me perdoem, mas a bebida é fundamental. O plágio à Vinícius de Moraes é proposital. 

Assistimos a missa de um ano em homenagem a meu amigo e dentro da igreja ficamos conversando e enxugando as lágrimas por sua ausência. Até que fomos enxotados pelo sacristão para fechar as portas. Mas não nos avexamos. A conversa continuou num bar em longas memórias de nosso amigo.

Também do bar fechamos as portas já no início da madrugada com muitas garrafas emborcadas e um mar de satisfação por esse encontro com ele no centro das atenções. E a certeza de que ele também estava lá bebendo inspirando todos nós em muitas histórias.

E quem é esse meu, nosso amigo? Trata-se de Lavoizier Freire Rolim.

EDUARDO PEREIRA

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