Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Como se vê, as aparências enganam mesmo...

Antigamente, um chargista chamado Carlos Estêvão tinha um espaço na revista “O Cruzeiro”, a mais importante do país, intitulado “As aparências enganam”. 

Estêvão apresentava um desenho que, sob determinado ângulo ou com iluminação precária, dava determinada impressão. Em seguida, por outro ângulo, mostrava situação inteiramente diferente.

Cid Benjamin




Assim é no debate econômico de hoje. Quem pauta o debate e define os termos em que ele é travado já parte em vantagem. Vendo o que dizem o governo Dilma e a grande imprensa, me lembrei de Carlos Estêvão e tive vontade de fazer uma pequena provocação.
Vamos a ela, tomando algumas expressões muito em voga.

Austeridade – Ora, só os perdulários podem ser contra a “austeridade”, que dá a impressão de seriedade e combate ao desperdício. Pois na política econômica do Brasil de hoje, “austeridade” quase sempre quer dizer arrocho aos trabalhadores.
Responsabilidade fiscal – De novo, só os irresponsáveis serão contra uma política fiscal responsável, gastando-se mais do que se arrecada. Na prática, “responsabilidade fiscal” significa o descompromisso com a área social e a prioridade para a remuneração dos especuladores financeiros.

Busca do equilíbrio fiscal – Vale o dito acima. Recentemente, Joaquim Levy justificou o aumento de juros e as mudanças que prejudicam os trabalhadores afirmando que isso tinha por objetivo o “equilíbrio fiscal”. “Então deve ser algo positivo”, pensaria um incauto. Não. Tudo o que estava em jogo prejudicava os cidadãos comuns. Afinal, o equilíbrio fiscal pode ser buscado de múltiplas formas, inclusive tomando-se medidas que afetem os lucros dos já muito ricos. Mas a vaca tossiu de novo e nas medidas anunciadas pela equipe de Dilma mais uma vez os trabalhadores foram prejudicados. Em nome do “equilíbrio fiscal”.

Superávit primário – Superávit soa a boa coisa. É o contrário de déficit. Imagine-se no Jornal Nacional William Bonner afirmando “o governo teve um déficit em suas contas”. A repercussão não será boa. Já se ele afirma que “o governo aumentou o superávit primário em suas contas” a impressão é positiva. É como se as contas do governo melhorassem. Mal sabem os telespectadores que superávit primário é o dinheiro reservado para pagar quem investe em papéis do governo - em sua maioria, bancos. Esse dinheiro é retirado dos investimentos em saúde educação, segurança, infraestrutura etc. Assim, quando o governo aumenta o superávit primário é bom sinal para os especuladores e mau sinal para os cidadãos comuns.

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