quinta-feira, 25 de julho de 2013

Memórias de Cajazeiras - Pereira Filho

FIADO SÓ NO PARAÍBA
 


Essa frase é muito conhecida em várias cidades brasileiras onde tem lojas de -eletrodomésticos dos Armazéns Paraíba, do Grupo João Claudino. A história desse grupo começou em Cajazeiras e se expandiu com outros empreendimentos em vários estados brasileiro. O fiado me faz lembrar dos velhos tempos em que eu morava na minha Cajazeiras. Naquele época – década de sessenta -, muitas famílias faziam compras nas bodegas, nos armazéns cerealistas e outros tipos de comércio. Os proprietários desses -estabelecimentos tinham como clientes os fregueses que pagavam no final do mês e anotavam as - compras numa caderneta ou caderno. Lembro-me de seu Manoel Jovino da bodega que ficava na esquina da minha rua Pedro Américo, quase enfrente ao Círculo Operário. Minha mãe, dona Maria, era sua cliente de caderno. Ela me chamava e dizia: “Vá lá no seu Manoel e traga duas dúzias de ovos e fale pra ele anotar no caderno”. No final do mês eu voltava lá no seu Manoel e pedia pra ele somar o fiado que a gente (eu e meus irmãos) pegava durante o mês. Ao somar o total, a gente não conferia as anotações, porque confiávamos nele. Ele somava as compras com lápis comum daqueles que tinha uma borracha de apagar na parte superior. Afinal, havia muita confiança tanto de uma parte quanto de outra, e também naquela época quase não existia inflação. Nos tempos de hoje, ainda existe o fiado, principalmente nas pequenas cidades do interior do Brasil, porque na era do dinheiro de plástico - cartões de créditos - o velho fiado ou a compra na caderneta ainda resiste e tem participação expressa no dia-a-dia dos brasileiros. Nos dias de hoje alguns donos de comércio, para não vender fiado, colocam pequenas placas fixadas em local visível : “Fiado só amanhã”. “Promoção: Peça um fiado e ganhe dois não”. “O fiado é muito Procurado, más aqui não será encontrado”. “Fiado só para pessoas de 90 anos acompanhado dos avós”. A frase mais famosa é “Fiado só no Paraíba”, com referencia aos Armazéns Paraíba.




CAMINHÃO PAU-DE-ARARA

É um meio de transporte de passageiros irregular ainda utilizado no interior do Nordeste para transporte dos sitiantes e estudantes da zona rural. Esse transporte foi muito utilizado durante o êxodo de nordestinos que iam morar em São Paulo e outras cidades do Sul do país nos anos cinquenta e sessenta. Pau-de-arara era uma forma pejorativa que os sulistas falavam com referência aos nordestinos. Esse meio de transporte foi muito usado também pelos nordestinos com destino a Brasília para trabalhar na construção da capital do Brasil. O maior exemplo desse transporte é usado pelos romeiros, que iam para Juazeiro do Norte (CE) pagar promessas nas romarias do Padre Cícero. Lembro-me do caminhão pau de arara onde o motorista colocava bancos de madeira na carroceira e uma lona para proteger os romeiros do Sol e da chuva. Ele colava no parabrisa do caminhão marca Chevrolet GM uma foto bem grande do Padre Cícero como referência, “o pau-de-arara dos romeiros”. Na medida em que o pau-de-arara rodava pela estrada, no trajeto de Cajazeiras a Juazeiro do Norte, os romeiros gostavam de cantar a música em louvor ao Padre Cícero: “Acorda Ciço, acorda, são 8 horas do dia, valei meu Padim Ciço e a mãe de Deus das Candeias”. O músico Luiz Gonzaga, emigrado do Nordeste ainda nos anos 40 do século XX, compôs a canção que retrata essa peregrinação de seus conterrâneos. Já em “Último Pau de Arara”, de forma poética, Gonzaga canta “Só deixo o meu Cariri no último pau de arara”.




PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional Brasilia



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